O site http://www.frella.comse propõe a ajudar profissionais liberais, ou que queiram ganhar um dinheiro extra, como arquitetos, diretores de arte, produtores musicais, entre outros. Funciona assim: a empresa interessada em contratar divulga um anúncio explicando o projeto, os requisitos para a vaga e abre uma espécie de concorrência. Algumas dizem o valor que pretendem pagar, outras não.
Interessei-me por um site que buscava quem fizesse crônicas sobre a cidade do Rio de Janeiro. Preenchi a ficha com os meus dados pessoais, formação e experiência profissional. Quanto à minha pretensão salarial, telefonei para o Sindicato dos Jornalistas e fui informada de que o valor da lauda está em torno de R$ 80,00. Foi o que pedi, nem mais, nem menos.
Cerca de um mês depois, recebi um email nada simpático do responsável pelo tal site. Ele dizia que a vaga fora preenchida por alguém que cobrara R$ 3,00 por lauda e que eu deveria me informar melhor sobre o preço de mercado. Achei que o rapaz digitara errado, que iria pagar R$ 30,00. Mesmo assim, um preço irrisório para um jornalista que vai criar, digitar e entregar o trabalho com a qualidade de texto final – exigência do empregador. Resolvi não engolir o desaforo e mandei outro email expressando a minha opinião. Recebi a resposta e… surpresa! O preço da lauda era mesmo R$ 3,00. Concluí que ou eu estava sendo vítima de uma pegadinha ou o sujeito era maluco mesmo! Deixei para lá.
O troco será para comprar chicotes
Agora li, no mesmo frella.com, uma outra proposta. Só que a indecência desta é bem transparente. Um site procura jornalistas que escrevam textos sobre turismo. E, pasme!, paga R$ 1,00 por criação. Pasme mais ainda: oito profissionais “entraram na concorrência”. Não acredita? Siga o link http://www.freela.com.br/projetos/6183/.
O que dizer diante disso? Em primeiro lugar, o site frella não tem culpa nenhuma desse absurdo. O foco dele é promover o encontro entre patrões e colaboradores. É óbvio que alguns chefes esqueceram, ou faltaram a essa aula, que a Lei Áurea foi assinada em 1888 e praticam livremente a exploração da mão-de-obra. Tenho dúvidas se o Sindicato dos Jornalistas pode fazer algo para proibir a escravidão. Afinal, aceita a oferta quem quer… No meu caso, o anúncio não dizia o valor a ser pago. Mas o que pensar dos motivos que levaram oito pessoas a participar de um processo seletivo para ganhar R$ 1,00 por texto? Sinceramente, não sei. Já quanto ao resultado dessa história toda, tenho um palpite. Do jeito que a nossa profissão está sendo banalizada, logo teremos lojas vendendo o trabalho diário de um jornalista por R$ 1,99. O contratante pagará com dois reais. Um real e cinquenta irão para o feitor, R$ 0,49 para a “peça”. E o troco? Como as moedas de R$ 0,01 sumiram de circulação, o troco arrecadado será para a compra dos chicotes.
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[Vera Lucas é jornalista e escritora]