Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Linha de Passe e a sociedade fracassada

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 10 de setembro de 2008


 


BRASIL
André Singer


Linha de impasse


‘‘LINHA DE passe’, de Walter Salles e Daniela Thomas, que estreou no último fim de semana, cumpre a função aparente de lembrar ao topo da pirâmide como sobrevive (?) a base metropolitana dos brasileiros. Dado o tamanho da desigualdade entre os estratos no Brasil, quem habita as esferas superiores pode não saber o que se passa a poucos metros de sua casa. Os condomínios fechados, os muros eletrificados e os carros blindados encerram a classe média alta numa bolha cuja órbita mental está mais perto de Miami do que do Capão Redondo.


Daí o efeito documental da película.


A ficção soa tão verdadeira que poderia ser um conjunto de depoimentos sobre o cotidiano na periferia de São Paulo. O resumo das experiências relatadas é simples: qualquer que seja o caminho tentado, para quem teve a ‘má sorte’ de nascer pobre, é impossível escapar de um círculo de violência e humilhação.


O motoboy, apesar de correr riscos absurdos para aumentar a produtividade, não ganha o suficiente para as necessidades da família e opta pelo crime. O evangélico que adota rigorosa conduta ética não consegue mantê-la em meio aos assaltos e ao arbítrio patronal. O atleta promissor não pode seguir a carreira porque o sistema de seleção é corrupto. O pequeno aprendiz de motorista sai em missão suicida porque não agüenta a desagregação da família. A mãe batalhadora e honesta, mas prestes a ficar desempregada, termina a fita em meio às dores de um parto desesperançado.


Porém, para além das vicissitudes de cada trilha escolhida, o filme desenha os traços de um fracasso do conjunto da sociedade. A crescente exasperação que toma conta do roteiro, à medida que os personagens são detidos por uma invisível barreira que os impede de encontrar melhor destino, reflete um país de feições horríveis.


Ao relegar a maioria de seus membros a relações permanentemente brutais e desumanas, ele se constitui em um exemplo de anticivilização.


Para ficar em apenas um de múltiplos exemplos oferecidos pelos autores, note-se como as imagens das massas de jovens candidatos a futebolistas, sendo maltratados e espezinhados apenas por buscarem um lugar ao sol, lembram as prisões superlotadas com seus rituais macabros ou o embrutecedor treino de tropas que foi objeto de recente e polêmico tratamento cinematográfico. Enfim, a barbárie está na esquina. Basta querer enxergar e, mesmo que a parcela aquinhoada prefira virar o rosto, objetivamente o presente estado de coisas limita também a chance de realização humana dos bem-nascidos.


Embora ‘Linha de Passe’ não revele algo inédito, contribui para repor a questão central do período, a de saber se ainda temos chance de produzir uma ‘virada’ civilizatória ou se seremos obrigados a nos conformar com a barbárie transformada em sistema.


Haverá algum modo de romper a jaula de ferro em que o Brasil está preso, apesar dos avanços recentes?


Conseguiríamos promover em curto prazo as profundas mudanças necessárias para dar às maiorias a chance de uma existência digna e, assim, humanizar o conjunto de nossas relações? Ainda há tempo social para isso ou as formas em que estamos encarcerados já se tornaram inamovíveis?


As respostas dependem de uma avaliação de forças. Talvez como reflexo da despolitização geral, estão ausentes da obra as classes a quem interessa que o quadro siga como está, assim como as que se opõem a ele.


O inferno da periferia parece ‘natural’, questão de ‘azar’. Em nenhum momento se percebe os interesses que impedem o Estado de promover as ações necessárias para alterar o status quo de modo profundo. A gritaria neoliberal, que se eleva sempre que é aumentado o investimento social, fica invisível no argumento fílmico. A opção por manter um enorme exército de reserva sem perspectiva, enquanto os ricos privatizam a área em que residem, não se faz presente.


Se é fato que os dados mostram uma queda constante do desemprego e melhora na renda dos mais pobres no governo Lula, uma autêntica ‘virada’ civilizatória dependeria de investimentos em outra proporção e de uma mobilização política dos ‘de baixo’. Seria preciso gastar pesadamente na criação de frentes de trabalho, cooperativas de produção, auto-organizações de serviço comunitário para conseguir, em tempo concentrado, mostrar a existência de uma outra via para a nação. A barbárie, sedimentada em camadas geológicas na história brasileira, não será sacudida sem romper os nexos que a estão a transformar em peculiar e tenebroso modo de produção.


ANDRÉ SINGER , 50, é professor do Departamento de Ciência Política da USP. Foi secretário de Redação da Folha e secretário de Imprensa e porta-voz da Presidência da República (governo Lula).’


 


 


CAMPANHA
Renata Lo Prete


Publicitário deixa campanha de Alckmin e ataca serristas


‘O marqueteiro Lucas Pacheco está fora da campanha de Geraldo Alckmin, que disputa a Prefeitura de São Paulo pelo PSDB. Em entrevista à Folha, ele culpou os tucanos ligados a José Serra pelas dificuldades enfrentadas pela campanha.


Pacheco, que será substituído por Raul Cruz Lima, critica sobretudo os ‘lobos em pele de cordeiro’ -referência velada a José Henrique Reis Lobo, presidente do PSDB municipal e secretário do governador.


FOLHA – O que deu errado?


LUCAS PACHECO – Desde o princípio entendi que o Geraldo corria em faixa própria. Costumava dizer que estávamos na Castelo Branco. À direita, o prefeito, contando com a simpatia da máquina estadual. À esquerda, a candidata do PT, também numa faixa muito bem pavimentada. Para nós sobrou o canteiro central: a grama. Eu dizia que o Geraldo era o candidato off-road.


FOLHA – E por que não funcionou?


PACHECO – Nossa estratégia se baseava em quatro pontos. Primeiro: o Geraldo colocar o dedo na ferida, apontar os graves problemas que a cidade tem. Porque isso aqui não é ‘Alice no País das Maravilhas’. Segundo: apresentar propostas viáveis, criativas. Terceiro: resgatar a obra do Geraldo. Afinal, ele estava um pouco esquecido. Mostrar o que ele já fez, aliado a todos os atributos positivos e à baixa rejeição que ele tem. Quarto -e mais importante: resolver a equação política.


FOLHA – Que equação?


PACHECO – Essa situação de você ter duas candidaturas disputando a mesma fatia do mercado eleitoral. O PSDB alckmista e o PSDB kassabista.


FOLHA – Mas isso não é um dado de realidade, uma vez que o partido está na prefeitura e, ao mesmo tempo, Alckmin resolveu disputar a eleição?


PACHECO – O que sustenta uma campanha é o pilar político. Há um segundo pilar, que envolve mobilização, organização, recursos, e um terceiro, que é a comunicação. Mas o fundamental é o pilar político.


FOLHA – Qual foi a linha decidida antes de o programa de TV estrear?


PACHECO – O primeiro programa foi para o ar em 20 de agosto. Reapresentava o Geraldo ao eleitor. No segundo programa, dois dias depois, começamos a executar a estratégia de colocar o dedo na ferida. Dos problemas da saúde, da educação. O Tobias da Vai-Vai cantava um samba quase fúnebre que dizia que faltam mais de cem mil vagas nas escolas e nas creches. No dia seguinte, um sábado, o mundo tucano-kassabista, ligado ao governo do Estado, caiu sobre a cabeça do candidato. Começou uma pressão insuportável. Diziam que estávamos batendo na gestão do Serra na prefeitura. Estávamos mostrando os problemas. Não dá para fazer campanha autista.


FOLHA – Quem fazia a pressão?


PACHECO – Os lobos em pele de cordeiro. Que se diziam porta-vozes da insatisfação do Serra. Fizeram uma orquestração para acuar o candidato. Tentar espremê-lo. Assim como tentaram, primeiro, inviabilizar a candidatura, trabalharam depois para tornar seu discurso inviável. Se ele não puder apontar os problemas, vai dizer o quê? Não é o prefeito. Não foi prefeito. É um ex-governador que acredita ter uma missão. E eu acredito que ele tem. Mas não deixaram ele falar. Quero deixar registrado que, no meio de todo esse processo, ele teve dois leões ao lado dele: o Edson Aparecido [coordenador-geral da campanha] e o Julio Semeguini [deputado federal muito próximo a Alckmin].


FOLHA – ‘Lobos em pele de cordeiro’ é referência a José Henrique Reis Lobo, secretário do governo Serra e presidente do PSDB municipal?


PACHECO – É uma referência a todos os que diziam ao candidato que ele deveria esquecer o Kassab e falar apenas da Marta, que ele podia acreditar que estava muito próximo o dia em que o PSDB ia chegar junto. O PSDB que ele não tem. Foram muitos acenos. Diziam que ele teria apoio explícito, e não apenas gravado em fita. Mas diziam apenas para acalmá-lo e para convencê-lo a não falar da gestão Kassab.


FOLHA – O sr. se refere ao vídeo com declaração de José Serra que lhe foi entregue para ser incluído no primeiro programa de TV?


PACHECO – O que eu posso dizer é que essas pessoas falavam em nome dele.


FOLHA – O que o sr. achou da declaração gravada por Serra?


PACHECO – Correta. De homem de partido. Nada além disso.


FOLHA – O candidato cedeu?


PACHECO – Ele foi convencido de que a mudança poderia contribuir para unir o partido em torno dele. Mas isso nunca aconteceu. Não era isso o que queriam. Eles queriam que o Geraldo fosse desidratado.


FOLHA – Como ficou o programa?


PACHECO – Tivemos que fazê-lo apenas em cima de atributos e propostas. Isso, numa cidade que se divide entre o voto no PT e o voto anti-PT, é mortal. A classe média que vota no PSDB e que vive na Manhattan paulistana, que nunca foi à Brasilândia, a Itaquera, nunca viu uma AMA nem uma UBS, começou a assistir àquele festival de maravilhas [no programa de Kassab] e a achar que está tudo ótimo. Mudar pra quê? É mudança ou continuidade? Eu acho que o Geraldo tem de ser o candidato da mudança. E ficou impossível dizer isso na TV.


FOLHA – Como o sr. responde ao que dizem que a propaganda de Alckmin é tecnicamente ruim?


PACHECO – Não temos os recursos das outras duas campanhas, feitas, aliás, por dois profissionais por quem tenho o maior respeito [João Santana, de Marta Suplicy, e Luiz Gonzalez, de Kassab]. E temos menos tempo. Tinha de adotar uma estética mais próxima da vida das pessoas que sofrem. Mas os lobos em pele de cordeiro conseguiram contaminar o noticiário com a versão de que havia crise de formato, não de conteúdo. Vi coisas nesta campanha que fariam o malufismo corar.


FOLHA – Por exemplo?


PACHECO – As acusações de compra de delegados [por kassabistas] antes da convenção do PSDB. Isso na cidade mais avançada do país.


FOLHA – O sr. está fora?


PACHECO – Decidi sair depois de conversar com o Geraldo e com o Edson, para o bem do candidato. Quando você insiste numa tese, passa a atrapalhar o processo. Mas ponho a maior fé na campanha, no Raul Cruz Lima, que vai assumir, e na vitória. Depois de três meses, estou louco para ver meus netos.’


 


 


Folha de S. Paulo


Tucano diz que faltou investir em publicidade


‘O prefeito de Ribeirão Preto, Welson Gasparini (PSDB), 71, candidato à reeleição, disse ontem que, se tivesse investido em publicidade e se a imprensa tivesse dado mais destaque às ações positivas de seu governo, ele estaria mais bem colocado nas pesquisas.


A afirmação foi feita durante sabatina promovida pela Folha com candidatos a prefeito em Ribeirão. Na última pesquisa Ibope/ EPTV, ele aparece com 13% das intenções de voto, 52 pontos atrás da líder, Dárcy Vera (DEM).


Ontem, o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de SP) concedeu liminar com efeito suspensivo ao recurso movido pela Folha contra a obrigatoriedade de sabatinar também o candidato do PT a prefeito de Ribeirão Preto, Feres Sabino.


Anteontem, o juiz eleitoral de Ribeirão João Agnaldo Donizeti Gandini determinou que o jornal sabatinasse o petista, sob pena de multa de R$ 20 mil. Segundo o juiz, o jornal não respeitava o princípio de igualdade ao decidir sabatinar apenas três candidatos à prefeitura.


Em sua defesa, o jornal alegou que a decisão não tem fundamento jurídico. Luís Francisco Carvalho Filho, advogado da Folha, afirma que os jornais não são obrigados a sabatinar todos os candidatos. Esse tipo de obrigatoriedade, disse, só existe para rádios e TVs, e não se aplica à imprensa escrita.


É a primeira vez que a Folha sabatina candidatos na cidade. Foram usados critérios editoriais e a posição nas pesquisas de intenção de votos para definir os três convidados.’


 


 


GRAMPOLÂNDIA
Felipe Seligman


CNJ decide criar central para controlar escutas telefônicas


‘O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) decidiu ontem criar uma central estatística de grampos no próprio órgão e padronizou as regras que devem ser seguidas pelos magistrados para a concessão das interceptações telefônicas legais.


A resolução aprovada ontem, por 12 votos a 1, abrange tanto a centralização das informações como as regras de atuação dos juízes e passa a valer assim que for publicada no ‘Diário de Justiça’, o que deve ocorrer até o final de semana.


No caso da central, o texto define que os magistrados deverão enviar mensalmente às corregedorias de seus tribunais a quantidade de grampos autorizados e os números dos ofícios expedidos às teles.


Até o décimo dia de cada mês, as corregedorias deverão enviar ao CNJ as informações que receberam no período anterior, personalizando-as por magistrado. Com tais dados, o conselho poderá, conforme a Folha adiantou em agosto, saber o número real de interceptações telefônicas existentes no país.


A primeira estatística oficial de grampos legais existentes no Brasil deverá ser divulgada até novembro deste ano .


O conteúdo das informações, os nomes dos titulares dos telefones e o número dos aparelhos interceptados, no entanto, continuarão sigilosos, segundo o CNJ. Só podem ter acesso a tais informações os policiais, membros do Ministério Público e magistrados responsáveis pelas investigações, além das operadoras de telefonia.


Com as informações personalizadas, o CNJ também poderá diagnosticar excessos. Se um juiz estiver deferindo pedidos de grampos em quantidade maior que a de seus colegas, o conselho deverá pedir à corregedoria de seu tribunal uma investigação administrativa.


A idéia inicial, que partiu do presidente do órgão e do STF (Supremo Tribunal de Justiça), Gilmar Mendes, seria construir um sistema capaz de monitorar em tempo real a quantidade de interceptações. A própria resolução diz, no entanto, que tal acompanhamento seria impossível no momento.


Mendes já criticou o que chama de ‘descontrole e excesso’ das escutas. ‘A decisão não afeta a independência dos juízes ou a autonomia de julgar ou de deferir os processos. A idéia é trabalhar com as corregedorias dos tribunais e do CNJ de modo a fazer um acompanhamento e verificar eventuais desvios ou tendências’, disse ontem.


Recentemente, o ministro foi grampeado ilegalmente em conversa com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A Polícia Federal investiga se a interceptação teria sido realizada pela Abin e se existe relação com a Operação Satiagraha. Na ocasião, Mendes ordenou a soltura de acusados presos, como Daniel Dantas.


Segundo a resolução, os magistrados deverão expressar por escrito, em cada determinação de grampear, que fica proibida a ‘interceptação de outros números não discriminados na decisão’. O CNJ diz que os pedidos de grampo devem ser sempre encaminhados em ‘envelope lacrado’, que só poderá ser aberto pelo juiz responsável. Também não poderá constar fora do envelope que se trata de um pedido de escuta.


O juiz deve deixar os áudios e as transcrições das conversas relevantes, ‘sempre que possível’, protegidos por senhas.


Inicialmente, a proposta de resolução sofreu resistências no próprio CNJ, expostas na sessão de ontem, de que a resolução poderia interferir na ‘independência’ e na ‘autonomia’ dos juízes. O conselheiro Felipe Locke, o único a votar contra, disse que a iniciativa ‘não resolve o problema das escutas ilegais’. Já Técio Lins, apesar de votar a favor, disse que a resolução ‘não chega nem perto do verdadeiro problema que a questão suscita’.’


 


 


Andréa Michael


Tribunal anula condenação por causa de grampo


‘Em julgamento realizado ontem, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou uma condenação de dois integrantes do grupo paranaense Sundown feita com base em escutas telefônicas e fixou o entendimento que o monitoramento só pode ser renovado, a cada 15 dias, mediante fundamentação específica e por prazo ‘razoável’.


A lei já fala em renovação por 15 dias, sem, porém, fixar um limite. Mas, na decisão de ontem, o STJ define que o prazo seja ‘razoável’ e fundamentado.


Em fevereiro de 2006, Isidoro Rozenblum Trosman e Rolando Rozenblum Elpern entraram com habeas corpus no STJ para reverter uma condenação que sofreram em primeira instância por prática de crime contra a ordem tributária. Condenados a cinco e dez anos de prisão, respectivamente, eles estão foragidos.


Antes de chegar à condenação, os telefones do Grupo Sundown, do qual os Rozenblum fazem parte, foram alvo de escuta telefônica por dois anos, um mês e 12 dias.


No pedido de habeas corpus, assinado pelo advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, a defesa dos Rozenblum alega que a condenação foi obtida apenas com base em escutas telefônicas e sem comprovação feita por uma investigação efetiva.


A decisão de ontem vale com precedente para outros casos.’


 


 


Marcelo Coelho


Pânico de gabinetes


‘ASSUNTO DELICADO, esse dos grampos. Prometo ser cuidadoso no que vou falar aqui, mas eu tendo a discordar do espírito geral dos comentários feitos sobre o tema.


Estado policial, retorno aos tempos da ditadura, da Gestapo, da KGB? Comparações desse gênero viraram moda.


Preocupa bastante, é claro, a disseminação das escutas ilegais. Mas acho que estamos diante de um fenômeno novo, que não se confunde com a antiga realidade dos regimes totalitários.


Tome-se o exemplo da Alemanha Oriental, pátria da famosa Stasi; quem viu o filme ‘A Vida dos Outros’ sabe o pesadelo que era aquilo.


Qualquer suspeito de ser opositor do regime tinha as suas conversas monitoradas.


Numa cena impressionante, uma velhota, vizinha de um cidadão suspeito, abre por acaso a porta do seu apartamento e percebe que um grupo de agentes policiais está no corredor, pronto para instalar os aparelhos de escuta.


O chefe dos arapongas se aproxima da velhota e avisa: se ela contar a alguém o que acabou de ver, sua neta perderá a vaga na faculdade. A velhota fica evidentemente quieta, não revela ao vizinho que ele está sob vigilância e se torna, na prática, cúmplice do regime.


Não é preciso dizer que toda conversa vagamente incriminadora, captada pelos agentes secretos, significa a prisão imediata do suspeito, que, com tortura ou sem tortura, assina uma confissão, é condenado ou provavelmente termina fazendo parte dos informantes do regime.


Para que esse modelo de Estado policial funcione, alguns pressupostos são necessários. O primeiro é que só a polícia detenha os equipamentos de espionagem. O segundo é que a informação passe a ser imediatamente utilizada pelo sistema repressivo. O terceiro é que esse sistema repressivo seja mais ou menos clandestino, ocorrendo à margem da Justiça oficial: cada prisão se assemelha a um seqüestro. O quarto é que, para ter qualquer coisa, emprego, moradia, estudo, o cidadão dependa do Estado.


O funcionamento da ‘grampolândia’ hoje em dia é bastante diferente, e desconhece esses pressupostos.


Se as famosas maletas da Abin podem ser compradas com facilidade por qualquer pessoa, a conseqüência prática não há de ser uma hipertrofia do poder do Estado. A chantagem e a intimidação se tornam via de mão dupla. Os ocupantes do poder têm sido, aliás, mais vítimas do que algozes no processo.


Além disso, as práticas da ‘grampolândia’ costumam ter como destino mais provável não o encarceramento do escutado, mas sim, por meio de vazamentos, as páginas dos jornais.


Tudo, nos tempos da Stasi e da KGB, terminava num porão. Agora, tudo se divulga à luz do dia. Crescem imensamente as ameaças à privacidade, mas a novidade está em que não parecem crescer, ao mesmo tempo, as condições para o surgimento de um Estado totalitário.


Na verdade, com todos os abusos que possam ser cometidos, uma autoridade grampeada é uma autoridade mais transparente, mais submetida ao controle da sociedade.


A escuta telefônica pode ser manipulada para destruir reputações; mas o perigo, aqui, vem antes das possíveis irresponsabilidades da imprensa do que de qualquer tentação totalitária do Estado.


Não é por acaso que tantos protestos contra o ‘terror policialesco’ dos dias atuais provenham das altas esferas do poder. Se escândalos sexuais tomassem o centro das atenções -como acontece no caso dos tablóides britânicos-, a revolta teria razão de ser. Mas o que se noticia são, acima de tudo, negociatas suspeitíssimas com o dinheiro dos contribuintes.


O poder descontrolado da polícia, levando para trás das grades pessoas somente pela suspeita de irregularidades, deve ser coibido, é claro. Atentados aos direitos individuais não têm desculpa. Em que medida, entretanto, o respeito à esfera privada está ligado ao respeito à liberdade individual?


Câmeras de monitoramento se espalham por toda parte. Aumentar seu número é até promessa de campanha dos candidatos a prefeito.


E como esperar que forças policiais, diante de ameaças como o terrorismo ou o narcotráfico, deixem de usar a parafernália técnica que criminosos organizados podem comprar com facilidade?


Não gostaria de saber, é claro, que minhas conversas telefônicas são grampeadas. Costuma ser terrorismo a idéia do ‘quem não deve não teme’. Tenho meus temores, como todo mundo. Mas acho que muita gente está atemorizada demais.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Lá como cá


‘Mal nasceu o dia e a manchete no site da ‘Forbes’, com Nouriel Roubini, era que a alta do dia anterior em Wall Street era para ‘otário’ (sucker).


Fim de tarde e o site do ‘Wall Street Journal’ trazia ‘breaking news’, notícia de última hora, dizendo que havia sido perdida toda a alta derivada da estatização das caixas hipotecárias Fannie e Freddie. Ontem, o gatilho para a queda foi que o fundo sul-coreano que negocia com o banco Lehman desistiu. O ‘Financial Times’ deu Wall Street ressaltando que o índice S&P 500 registrou a maior queda no ano.


No ‘FT’, destaque também à ordem da comissão de orçamento do Congresso dos EUA, para contabilizar Fannie e Freddie como ‘setor público’. Diz o jornal que ‘começou a subir o custo para assegurar contra um calote dos EUA’ (US default).


MAIS ‘BOOM’


Também por aqui, na manchete do UOL à noite, ‘Bovespa desaba 4,5%’. Em despacho da Reuters desde Londres, a explicação de que a ‘Recuperação do dólar estimula repensar o investimento nos países emergentes’.


Não para o site da ‘Economist’, que adiantou ontem a reportagem ‘Brazil nuts’, loucos por Brasil. Diz que os investidores estão ‘menos excitados com os emergentes’, mas seguem com a aposta no país. Em parte pela ‘política econômica, que o torna especialmente atraente’, mas também pelo ‘crescimento doméstico’, com milhões de novos consumidores. ‘O maior exemplo’ seria o mercado residencial, que vive um ‘boom’.


‘DIAS DE VIOLÊNCIA’


O jornal boliviano, mas de capital espanhol, ‘La Razón’ está em campanha. Em sua manchete no site, ‘Grupos cívicos ocupam o centro petroleiro que distribui gás ao Brasil’. O líder ‘cívico’ da região afirmou ter fechado ‘quatro válvulas do gás que vai para o Brasil’.


Antes, na primeira página de papel, os destaques eram a tomada de ‘mais prédios do Executivo’ pela oposição, em ‘medida de pressão’. Sobre a reforma ministerial, ‘Evo escolhe políticos para o gabinete técnico’. No editorial, o jornal dizia que ‘se esperam dias de violência pela frente’.


CAI A DESIGUALDADE


Na manchete do UOL no meio do dia, ‘Cai desigualdade entre brancos e negros’, segundo o Ipea. Em despacho da Reuters, também foi a notícia de maior repercussão sobre Brasil, ontem, no Yahoo News. E ocupou o alto de sites no país ao longo do dia todo. Na Veja.com, ‘Sexo e cor ainda são fatores de desigualdade’.


O mesmo UOL, fim do dia, destacou o post de Fernando Rodrigues ‘Onda vermelha avança nas cidades’, com um levantamento mostrando ‘quadro para lá de favorável aos petistas nas 108 cidades em que há pesquisa disponível’. O PT governista lidera ou está empatado na frente em 47, seguido pelo PMDB governista, com 36.


SEGREDO DE JUSTIÇA


O site A Nova Corja, dos mais combativos e independentes no Rio Grande do Sul, crítico de diversas gestões estaduais, ontem ‘foi obrigado a retirar algumas informações’ do ar, em sua cobertura dos escândalos gaúchos. Já repercute e movimenta blogs pelo país inteiro


O FREIO


A manchete do ‘Jornal Nacional’ saudou ‘um freio no grampo: juízes terão que prestar contas sobre escutas que autorizarem’. Quer dizer, o juiz Fausto De Sanctis terá que prestar contas a Gilmar Mendes, presidente do Conselho Nacional de Justiça.


Por outro lado, na manchete da Folha Online à noite, para o blog de Josias de Souza, o ‘Superior Tribunal de Justiça anula condenação que usou grampo como prova’ contra dois empresários no caso Banestado. Para o blog, ‘a decisão abre um perigoso precedente’. No limite, ela ‘inviabiliza uma ferramenta que tem se mostrado valiosa, muito valiosa, valiosíssima na apuração de malfeitorias públicas e privadas’.’


 


 


VIOLÊNCIA
Folha de S. Paulo


Tortura Nunca Mais demite e corta despesas


‘Condenado de modo definitivo por calúnia, injúria e difamação, pela acusação de tortura contra quatro policiais federais, o Grupo Tortura Nunca Mais decidiu diminuir seu programa de assistência a vítimas da violência, afastar funcionários e suspender a veiculação do jornal quadrimestral que publicava desde 1986.


A situação financeira da entidade, criada em 1985 para denunciar a prática de tortura pelos governos militares (1964-1985) é dificílima, disse à Folha a presidente do grupo, Cecília Coimbra. Já paga, a indenização aos profissionais da Polícia Federal somou R$ 47 mil.


O delegado Roberto Prel Júnior e os agentes Luiz Oswaldo Vargas de Aguiar, Luiz Amado Machado e Anízio Pereira dos Santos foram acusados pelo petroleiro Carlos Abel Dutra Garcia de tê-lo torturado e ao amigo Rosalvo Teixeira da Silva na sede da PF no Rio, em 20 de agosto de 1996. Os dois eram acusados de ter cometido furto em propriedade de Prel Júnior na zona oeste. A suspeita policial nunca se confirmou.


Foi instaurada ação penal na 13ª Vara Federal contra sete policiais indiciados pelo Ministério Público pela suposta tortura. O TRF (Tribunal Regional Federal) trancou a ação, sob a justificativa de que o Ministério Público extrapolara sua competência ao investigar o caso. Ameaçado, Dutra Garcia deixou o Rio com a família.


O Tortura Nunca Mais denunciou o caso à ONU (Organização Nações Unidas), que o tornou público.’


 


 


TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo


Steve Jobs faz piada sobre sua saúde em lançamento do iPod


‘O executivo-chefe da Apple, Steve Jobs, fez piada sobre sua saúde na abertura de evento da companhia ontem, no qual novas versões do iPod foram lançadas. Ele mostrou uma mensagem em um telão com a seguinte frase: ‘As notícias sobre minha morte são extremamente exageradas’.


A mensagem é uma referência ao escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910), que enviou o mesmo recado ao ‘New York Journal’, quando o veículo publicou de forma precoce seu obituário.


No mês passado, a agência de notícias Bloomberg distribuiu, por engano, um obituário incompleto de Jobs, que teve um raro tumor no pâncreas em 2004.


O iPod Nano ficou mais fino, com tela maior e formato ovalado. O aparelho chega nesta semana aos EUA, por US$ 149 para a versão em 8 Gbytes e US$ 199 para a de 16 Gbytes. Os modelos chegam ao Brasil em outubro. O aparelho vai custar R$ 549 para a versão de 8 Gbytes e R$ 699 para a de 16 Gbytes.


Na nova versão, o aparelho também ganhou acelerômetros -sensores que indicam posição e movimentos feitos pelo usuário-, já disponíveis no iPhone e no iPod Touch.


 


 


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‘Esquire’ lança edição com tinta digital


‘A edição comemorativa de 75 anos da revista terá a capa e algumas publicidades impressas com tinta digital -dessa forma, o conteúdo muda. As cópias da edição especial custarão US$ 5,99. Um blog da ‘Wired’ ironizou a iniciativa: ‘Se você quer lutar contra a inevitável morte da revista impressa nas mãos da internet, não faça isso emulando o pior aspecto da rede: os banners de anúncios em Flash.’’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo veta rivais em conferência do Emmy


‘Cerca de 300 profissionais de 150 países participam no Rio de Janeiro do Academy Day, evento da Academia Internacional de Televisão, Artes e Ciências, entidade que concede o Emmy, o Oscar da TV. Mas, entre os brasileiros, somente profissionais da Globo têm acesso aos painéis que discutem a TV.


Das concorrentes da Globo, somente o principal executivo foi convidado para o jantar de abertura, anteontem, com a presença do presidente Lula.


A Globo hospeda o Academy Day deste ano. Painéis como ‘Oportunidades e Desafios do Uso de Novas Tecnologias na América Latina’ (hoje, 10h) e sobre novelas ocorrem no Projac, sua central de estúdios.


A restrição às TVs brasileiras causou protestos da Record (que na semana passada questionou a credibilidade da premiação do Emmy, cuja festa é patrocinada pela Globo). ‘É muito estranho que as emissoras brasileiras não tenham sido convidadas para esse evento. Só existe uma TV no Brasil?’, indaga Alexandre Raposo, presidente da Record, que não foi convidado para o jantar.


A Globo esclarece que o Academy Day é um evento privado e fechado e que os painéis são para membros da academia. No Brasil, só a Globo é membro da instituição. Metade dos convidados são da academia. Os demais são da Globo e da Sony, patrocinadores. A emissora diz que convidou para o jantar Edir Macedo, dono da Record.


REFORÇO 1


Agora ex-apresentador do ‘Fantástico’, Pedro Bial será repórter especial da Globo na cobertura das eleições americanas. Ele embarca para Nova York no início de outubro e só retorna após as votações, no começo de novembro.


REFORÇO 2


Nos EUA, Bial fará perfis dos candidatos Barack Obama e John McCain. Produzirá também reportagens factuais para o ‘Jornal Nacional’ e entrará ao vivo no ‘Jornal da Globo’ três vezes por semana, para um bate-papo com William Waack.


ABORTO


Não é só no Brasil que ‘Ciranda de Pedra’ vai mal (é a pior audiência da Globo às 18h). Em Portugal, por causa da falta de público, foi tirada do ar no terceiro mês de exibição.


PANELADA


‘Super Chef’, novo reality show da Globo, ainda não alavanca a audiência do ‘Mais Você’. Com a competição entre cozinheiros, o programa de Ana Maria Braga perdeu para a Record na segunda e ontem.


VIA LATINA 1


Após o fiasco da brasileira ‘Água na Boca’, a Band voltará a investir em textos estrangeiros para suas novelas. Ontem, Elisabetta Zenatti, diretora de programação da emissora, negociava com a Telemundo a compra dos direitos para adaptação no Brasil da colombiana ‘Pasión de Gavilanes’.


VIA LATINA 2


A trama fez sucesso no mundo todo, mas a exibição de sua versão original dublada, pela Rede TV!, em 2004, foi um fiasco retumbante.’


 


 


CINEMA
Folha de S. Paulo


Spielberg é processado por plagiar Hitchcock


‘Steven Spielberg plagiou ‘Janela Indiscreta’ (1954), de Alfred Hitchcock, com ‘Paranóia’ (2007), filme do qual é produtor, segundo uma ação judicial apresentada anteontem em um tribunal de Manhattan.


Spielberg e a produtora DreamWorks são acusados de infringir os direitos autorais por não pedir permissão aos detentores dos direitos do livro em que se baseia o longa de Hitchcock (‘Murder from a Fixed Viewpoint’, de Cornell Woolrich). Segundo a ação, ‘Paranóia’ e ‘Janela Indiscreta’ são ‘em essência a mesma coisa’, com a atuação dos personagens e desenvolvimento do roteiro similares aos do livro. O porta-voz de Spielberg não quis comentar o caso. Dirigido por D. J. Caruso, ‘Paranóia’ arrecadou US$ 80 milhões.’


 


 


Gustavo Villas Boas


Google Chrome é veloz e instável


‘Sem suporte a extensões, sem compatibilidade com o Mac OS e o Linux e com várias falhas, o Google entrou, na semana passada, com o Chrome, em um mercado restrito: o dos navegadores na internet.


E apresentando interface limpa e simples, código aberto, velocidade e sistema de gerenciamento de links muito elogiado, o browser gratuito conseguiu sucesso: tornou-se, segundo diversas aferições, o terceiro browser mais utilizado na internet, atrás do dominante Internet Explorer, da rival Microsoft, e do Firefox, da parceira Fundação Mozilla. O soft ficou à frente do prestigiado Opera e do Safari, da Apple.


Um dos trunfos do navegador é o sistema de gerenciamento de sites navegados. Quando o usuário inicia o Chrome ou uma nova aba, sem determinar um site, o programa mostra os sites mais frequentados (com imagem miniatura), a lista de páginas marcadas como preferidas e a barra de favoritos. Além disso, é possível ver o histórico e fazer uma busca dentro dos endereços já visitados.


Outra característica celebrada é a navegação anônima. Basta clicar no ícone de página no canto superior direito e selecionar Nova janela anônima e, na janela aberta, circular pela internet sem deixar rastros -como sites visitados ou senhas.


Também é possível fazer buscas diretamente na barra de endereços -seja em um mecanismo on-line, seja no histórico de navegação.


De acordo com o site do programa, o objetivo é uma rede mais rápida, segura e fácil. O Chrome, que tem um sistema de proteção contra pragas virtuais, é bem adaptado para a utilização de softwares baseados na internet, como o ZoHo ou o próprio Google Docs.


Softwares on-line


Primeiro, ele executa códigos JavaScript rapidamente. Além disso, cada guia funciona de forma semelhante aos aplicativos tradicionais: se uma página trava, dá para fechar só o processo relativo a ela, e não o browser inteiro.


A interface do navegador é minimalista. No alto, há apenas as guias e o local para o endereço do site, sem as entradas de menus (arquivos, editar etc.). Ou seja, em programas on-line, o primeiro menu é, normalmente, executado na rede, do próprio software on-line.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 10 de setembro de 2008


 


CAMPANHA
Ana Paula Scinocca


PSDB procura marqueteiro para intervir na campanha de Alckmin


‘Na véspera do jantar organizado pelo PSDB para celebrar o ingresso do governador José Serra na campanha do candidato tucano à Prefeitura de São Paulo Geraldo Alckmin, a crise no partido atingiu ontem o seu ápice. O Diretório Municipal cogitou até mesmo expulsar todos os tucanos aliados ao prefeito e candidato do DEM à reeleição, Gilberto Kassab (leia abaixo).


Não bastasse a crise política, integrantes mais radicais do comando de campanha defendem a saída do marqueteiro Lucas Pacheco, conforme o Estado informou na edição de ontem. Visivelmente irritado, o candidato negou o fato.


Ontem mesmo, porém, a cúpula tucana decidiu fazer uma intervenção e já iniciou conversas com o marqueteiro baiano Marcelo Simões, que passaria a dar as cartas na imagem da campanha. Oficialmente, porém, os dois trabalhariam juntos, dividindo responsabilidades.


Simões chegou a negociar com o PSDB, em maio. À época, no entanto, o partido acabou optando por Pacheco, que apresentou uma estrutura enxuta e o menor orçamento.


Uma das principais queixas do núcleo político da campanha é que o marqueteiro não utiliza imagens de Alckmin inaugurando obras quando era governador, estratégia repetida à exaustão na TV nos programas de Kassab e da adversária petista, Marta Suplicy (PT).


Na semana passada, o núcleo político da campanha teve uma reunião com o marqueteiro. Pacheco foi advertido sobre o descontentamento do partido com o modelo adotado na publicidade no rádio e na TV.


Enquanto os tucanos reclamam de um lado, Pacheco também tem suas queixas de outro. Em conversas reservadas, o marqueteiro tem atribuído aos problemas de ‘conteúdo, não de forma’ o fraco desempenho do candidato do PSDB nos programas de televisão. Ele tem dito a amigos, segundo o Estado apurou, que, por falta de discurso, o grupo político do candidato passou a criticar questões técnicas como iluminação, cenário e edição.


A reportagem procurou ontem Pacheco, mas ele não retornou os telefonemas.


?ESFORÇADO?


O candidato falou ontem sobre o assunto. Pela manhã, depois de participar de um evento na sede da Federação Paulista de Futebol, ele isentou Pacheco de qualquer responsabilidade por eventuais problemas e negou cogitar a troca de marqueteiro.


‘Ele está se esforçando e está fazendo um bom trabalho’, garantiu. ‘Não tem nenhuma procedência isso.’


Partiu do próprio Alckmin falar sobre a crise de marqueteiro na campanha. Ele abordou o tema antes mesmo de ser questionado pelos jornalistas.


Para o tucano, o problema em relação ao programa eleitoral no rádio e na TV se dá em razão de seu tempo ser inferior ao dos seus adversários. ‘Nós temos uma dificuldade porque o nosso tempo é menor, mas eu sou bastante conhecido.’


Ao longo do dia, aliados do candidato do PSDB se esforçaram em negar a existência de uma crise na campanha do ex-governador. O coordenador-geral da candidatura, deputado Edson Aparecido, disse que não há motivo nenhum para alterações: ‘Não existe mudança alguma. Acabei de sair de uma reunião com o Lucas (Pacheco) e está tudo bem.’’


 


 


Daniel Bramatti e Clarissa Oliveira


Em livro, petista diz ser alvo de machismo


‘No livro Minha vida de prefeita – o que São Paulo me ensinou, que será lançado hoje, a petista Marta Suplicy descreve a implantação dos programas que vê como êxitos de sua gestão entre 2001 e 2004 – Centros Educacionais Unificados (CEUs), programas sociais, Bilhete Único -, reconhece erros, como a política tributária, e critica seus dois principais adversários na corrida eleitoral, Gilberto Kassab (DEM) e Geraldo Alckmin (PSDB).


A candidata do PT à prefeitura se diz vítima de machismo e, ao analisar a derrota na tentativa de reeleição, em 2004, reclama de como a mídia e os eleitores teriam encarado sua separação de Eduardo Suplicy e o casamento com Luis Favre.


‘Ninguém me defendeu. Eduardo mostrou seu sofrimento em público e eu remoí minhas aflições em particular. Com isso, tornei-me a megera da história. (…) Pensava em políticos homens que tiveram a ousadia de se separar – a maioria não tem – e em como isso repercutiria na mídia. Uma notinha, no máximo, ainda que se casassem com mulheres muito mais jovens ou de nível cultural muito inferior ao deles.’


Marta reconhece ter errado na condução da campanha há quatro anos, principalmente em relação à saúde – setor em que diz não ter realizado o que pretendia. ‘A responsável por subestimar os êxitos da saúde, e só falar das dificuldades, fui eu. É uma péssima mania que tenho: quando as coisas não estão 100% certas, fico presa ao que faltou, em vez de alardear as conquistas.’


Acusada pelo sucessor de não ter deixado recursos para pagar compromissos mais urgentes, a ex-prefeita se declara vítima de ‘difamação sistemática’ por parte de José Serra (PSDB). A posse do tucano é descrita da seguinte forma: ‘Enquanto a solenidade transcorria, eu pensava: ele vai ficar alguns meses e o vice, que ninguém conhece, vai ser prefeito dessa cidade. E naquela hora, disso eu me lembro muito bem, meu sentimento foi de profunda tristeza’.


As menções diretas e indiretas a Kassab, vice de Serra até 2006, aparecem em vários capítulos, sempre que a petista compara sua gestão com a dos sucessores. Ele é apontado, por exemplo, como co-responsável pelas chamadas escolas de lata, criadas na gestão de Celso Pitta, de quem foi secretário de Planejamento. Atualmente, Kassab reitera o fato de ter trocado as escolas de lata por unidades de alvenaria. Marta alega não ter podido fazê-lo por desavenças com o Ministério Público.


Alckmin é citado no livro apenas de passagem. A ex-prefeita diz ter feito a ele reiterados pedidos de ajuda para evitar que uma quadrilha cobrasse pedágio ilegal de passageiros de determinada linha de ônibus, sem que a Polícia Militar tomasse providências.


No capítulo intitulado A guerra dos transportes, a petista descreve o confronto com ‘máfias’ que dominavam o setor. Por conta de ameaças, passou a usar um colete à prova de balas em eventos. ‘Em março de 2003, no auge dessa tensão, fui à TV Globo dar uma entrevista ao telejornal SPTV. O apresentador, Chico Pinheiro, confrontou-me com uma chuva de cobranças sobre as providências que ele julgava importantes no transporte da cidade. Eu não podia revelar o que se passava naquele momento nos bastidores, e suportei o quanto pude a sabatina, até que perdi a paciência. Perguntei-lhe por que não se candidatava a prefeito, já que sabia exatamente como consertar tudo. O episódio foi amplamente explorado como demonstração da minha arrogância.’


A ex-prefeita conta ter tirado desse incidente o ensinamento de que ‘nada é pessoal, os jornalistas tentam fazer as perguntas que percebem serem as dúvidas da população’. O que não a impede de, em outros trechos, se apresentar como perseguida pela imprensa.


Marta é a terceira candidata a buscar espaço nas livrarias em plena campanha – Kassab e Paulo Maluf são personagens de obras lançadas por Leão Serva e Tão Gomes Pinto, respectivamente. Ontem, a petista negou que a obra tenha relação com a candidatura. Sobre isso, talvez seja mais esclarecedor um trecho do próprio livro: ‘Fazer política – hoje sei – é o caminho inverso do que eu tinha trilhado nos primeiros 40 anos da minha vida. Um psicanalista busca a verdade, um político precisa esconder o que pensa até o momento em que for do seu interesse saberem o que lhe passa pela cabeça’.’


 


 


TELEVISÃO
Associated Press


Culinária derruba premiê tailandês


‘Apaixonado por culinária e conhecido como um gourmet, o primeiro-ministro tailandês, Samak Sundaravej, recebeu ontem uma ordem indigesta do Tribunal Constitucional: deixar o poder por ter infringido a lei ao aceitar dinheiro de uma empresa privada para apresentar dois programas de culinária na televisão.


Os programas Degustar e balbuciar e Todos à mesa às 6 horas conseguiram o que os opositores de Sundaravej tentavam havia duas semanas: derrubar o premiê. Centenas de manifestantes vinham ocupando o palácio de governo, impedindo a entrada do premiê e exigindo sua renúncia. Eles acusam o líder tailandês de ser uma ‘marionete’ de seu antecessor, Thaksin Shinawatra, deposto em um golpe em 2006. Ontem, os manifestantes celebraram a decisão da corte.


No entanto, o partido governista já informou que restituirá Sandaravej, de 73 anos, ao cargo, pois, segundo a legislação, pode reelegê-lo como premiê numa sessão parlamentar, que deve ocorrer na sexta-feira.


‘Se Samak de fato voltar ao poder a situação pode piorar bastante, pois a oposição pode adotar duras medidas para pressionar o governo a renunciar’, disse Nakarin Mektrairat, especialista em ciência política da Universidade Thammasat, em Bangcoc.


Numa sessão do julgamento, na segunda-feira, Sundaravej defendeu-se, dizendo que ele não era um funcionário da empresa de TV e apenas recebeu um pagamento de US$ 2.300 para cobrir despesas de transporte e gastos com os ingredientes usados em suas receitas.’


 


 


Cristina Padiglione


MTV identifica engajados e eco-alienados


‘Com levantamento primoroso e edição idem, tendo a sustentabilidade como foco, o 4 º Dossiê Universo Jovem da MTV Brasil foi apresentado ontem a uma platéia de convidados. Ao fim de 2.579 entrevistas em São Paulo capital, São Paulo interior, Rio, Salvador, Brasília Recife, BH, Porto Alegre e Manaus, com gente entre 12 e 30 anos das classes A, B e C, foram identificados cinco grupos quanto ao nível de engajamento: os teóricos (26%), os refratários (20%), os intuitivos (21%), os comprometidos com a causa (17%) e os eco-alienados (16%).’


 


 


Keila Jimenez


Autor teme reedição


‘No ar atualmente no Vale a Pena Ver de Novo, Mulheres Apaixonadas perdeu, dessa vez, um espectador de grande importância: seu autor. Manoel Carlos se recusa a assistir à reprise de sua novela por causa da edição feita pela Globo para adequá-la à classificação do horário.


Fontes ligadas ao autor garantem que Maneco queria ter sido consultado pela emissora sobre os cortes nos capítulos. Ele estaria preocupado com a edição da trama, uma vez que Mulheres Apaixonadas aborda temas polêmicos como agressão a idosos, violência contra a mulher, lesbianismo…


Cenas como as de Raquel (Helena Ranaldi), que apanha de Marcos (Dan Stulbach) correm o risco de sumir.


Manoel Carlos também teria ficado traumatizado com edições para o Vale a Pena como a que foi feita em Felicidade, que teve mais de 50 capítulos cortados.


Procurado pelo Estado, o autor não quis se manifestar. A Globo, por meio de sua Assessoria de Imprensa, alega que não é possível adiantar as adaptações em Mulheres Apaixonadas porque o processo é feito capítulo a capítulo. Segundo a rede, esse é um trabalho realizado pela Central Globo de Qualidade.’


 


 


TECNOLOGIA
O Estado de S. Paulo


Jobs brinca com notícia de morte


‘O presidente-executivo da Apple, Steve Jobs, fez piada, durante o lançamento de novos modelos do iPod, sobre relatos de que sua saúde estava debilitada. Ele mostrou uma mensagem na tela usada em sua apresentação: ‘As notícias sobre a minha morte são muito exageradas.’ A frase é do escritor americano Mark Twain.


No fim do mês passado, a agência de notícias Bloomberg divulgou, por engano, o obituário de Jobs – em 2004, o executivo, que tem 53 anos de idade, afirmou ter passado com sucesso por uma cirurgia de remoção de um tipo raro de câncer no pâncreas. Investidores começaram a se preocupar com a saúde do executivo depois que ele apareceu mais magro que de costume no lançamento da última versão do iPhone, em São Francisco.


Ontem, Jobs apareceu animado à apresentação, trajando seu ‘uniforme’: calça jeans e camisa preta de mangas longas.’


 


 


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Dados pessoais ficarão menos tempo no Google


‘O Google reduziu pela metade o tempo que mantém armazenado dados pessoais sobre os hábitos de navegação de seus usuários, medida que visa melhorar a política de privacidade da companhia, afirmou um representante da empresa. O Google costumava armazenar os dados por 18 meses, mas reduziu esse período para 9 meses. Nicole Wong, vice-conselheira legal do Google, disse durante um encontro da indústria com especialistas em privacidade noS EUA que sua empresa planeja ‘tornar anônimos’ os endereços dos computadores de seus usuário mais rapidamente.’


 


 


CELEBRIDADES
Tutty Vasques


Paparazzo também é gente


‘Em noites frias e chuvosas como essa que passou no Rio é que a gente vê – basta imaginar, vai! – o que é a vida de paparazzo. O cara poderia estar pirateando DVD, navegando em redes de pedofilia, passando ingressos falsos para o show de Madonna, grampeando o Gilmar Mendes… Mas não! Ele virou a noite de plantão na porta de um clube de golfe da Barra da Tijuca, enrolado numa capa pegajosa de plástico, com aquela porcaria de câmera digital no pescoço, disputando com um batalhão de selvagens a atenção de celebridades. Claudia Raia acabara de chegar para o casamento da amiga Juliana Paes, fazendo aquelas caras que a gente só vê em revistas de cabeleireiro. E corre que lá vem outra. Quem é? Sei lá! Na dúvida, flash na moça. Por R$ 450 a noite de trabalho, não se pode perder ninguém de vista.


Tomara que, no final da festa, o mau tempo tenha tornado perfeito o plano de fuga dos noivos para um local secreto. Ou tem paparazzo até agora atrás de um coqueiro esperando os pombinhos despertarem da noite de núpcias. Ninguém merece!’


 


 


 


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