Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Lolita ‘veste’ capote em torno da cintura

Trata-se de um sofisticado suplemento dedicado à moda que os leitores do New York Times podem desfolhar quinze vezes por ano. Artigos, apreciações, propaganda muito cara e fotografias sobre a moda.

Numa dessas fotos foi publicado o encarte de uma modelo de 17 anos com os seios descobertos O número para assinantes, que chegou a 2 milhões de exemplares, suscitou diversos protestos.

O fato foi noticiado (maldosa e polemicamente) pelo New York Post, tablóide sensacionalista e irmão mais pobre do Times, que pertence a Rupert Mudorch. Na sua página de intrigas, contou o caso de forma picante, o que levou o New Times Magazine a qualificar esse artigo de ‘hilariante, se não fosse triste’.

No New York Times, a figura do pulic editor é uma novidade no centenário jornal. O cargo foi criado depois de um escândalo. Um jornalista copiara e inventara algumas matérias. O fato tinha denegrido a imagem do jornal e provocado a demissão dos diretores e vice-diretores.

Aval do diretor

O atual editor público Clark Hoyt, prêmio Pulitzer, deu ao diário um traço de seriedade. No dia 16 de dezembro, em seu artigo, Hoyt selecionou numerosas cartas de protesto e enfrentou decisivamente a questão de seu jornal [ver, neste OI, ‘Entre o artístico e o vulgar‘]. Na fotografia do italiano Paulo Rovesi, que define sua modelo uma ‘Lolita’ – uma jovem, pouco mais que uma adolescente – Ali Michel posa seminua. Disse seminua porque que ‘veste’ somente um capote de tafetá, que custa 3.800 dólares, assinado por John Galliano. O capote está enrolado em torno da cintura. A fotografia é confusa e ela tem as costas nuas. Numa das fotos pode-se vê-la mostrando o perfil dos seios. Muitos leitores protestaram e dois deles a classificaram como pornografia infantil.

A denúncia geral do suplemento da moda, devido ao seu pouco cuidado, mostra o mundo difícil dos jornais e representa um sucesso espetacular, mas também uma brilhante idéia que produz milhões de dólares para financiar o ambicioso jornalismo do New York Times, o que pode ter complicadas conseqüências.

O serviço fotográfico tinha recebido o nihil obstat do diretor Bill Keller, que o aprovou. Sua convicção, além de não garantir, não convenceu o vice-diretor para a ética, que definiu a imagem de vulgar, acrescentando que se a visse, não a publicaria. [Texto de apoio de Alberto Flores d’Arcais]

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Jornalista