Sou um observador eventual do Observatório. E-ven-tu-al. É uma forma de não me manter totalmente desinformado (ou mal-informado) pelos jornais televisivos. Explique-se: por um grave problema oftalmológico, não consigo ler nada impresso. Bom, dito isso, ouso fazer uma pequena observação sobre a matéria “A resistência dos jornalistas”. Este título é ambíguo, pois não? Fica ainda mais ambivalente é o texto vindo de Paris, quando é supostamente sobre o SwissLeaks. Pelo pouquíssimo que eu sei pela TV, “mais de quarenta jornais” empreenderam em conjunto um extraordinário esforço para penetrar o bunker suíço em que se refugia a grana evadida de grande parte do mundo. Do citado esforço participou o Le Monde. Relativamente esclarecedora a citação dos sócios do jornal respingados pelas fissuras do cofre do HSBC suíço. Só faltaram números. Faltaram fatos novos. Faltou deslindar como tem sido a luta dos quarenta resistentes. Faltou ponte com o Brasil e a Lava Jato. A questão de os sócios do Le Monde terem vindo a público denunciar macartismos é de somenos. Deter-se nesse nível de discussão é quase fofoca. Espertamente, a matéria sai rapidinho do atoleiro suíço. E enfia o Libération no recheio do pastel. Pois é. A não ser que se insinue que o tal de Drahi também é um dos refugiados do HSBC, o Libération entra na matéria como Pilatos no Credo. Nada tem a ver com a “resistência”. Ou tem? O que parece é que há um esforço para se apontar a “coincidência” de o novo proprietário do Libé ser franco-judaico e ter assumido os despojos do Charlie Hebdo. Que resistência é essa? É jornalística ou sionista? E a Suíça? Em tempo: não sou muçulmano, não sou israelense, não sou Charlie, não sou zorra nenhuma. Tenho mais resistências à abolição do hífen e dos acentos diferenciais. A rigor, nem sou jornalista. Só um reles observador. (Edmilson Conceição, jornalista, São Paulo, SP)