‘Com seu olho clínico para descobrir a beleza das mulheres, Walter Hugo Khouri foi o primeiro a perceber o potencial de Dina Sfat. Em 1966, ele lhe deu um pequeno mas importante papel em Corpo Ardente. A protagonista era a atriz francesa Barbara Laage, no papel de uma mulher insatisfeita que sobe a serra em busca de elevação e termina projetando sua ânsia de liberdade num cavalo selvagem. Dina fazia a caseira da cabana onde ela se alojava. Era uma mulher simples, com os pés no chão.
Completam-se hoje 15 anos da morte de Dina Sfat. O Canal Brasil rende homenagem à atriz mostrando amanhã, às 20 horas, um especial da série Retratos Brasileiros a ela dedicado. Dina foi uma bela mulher. Posou nua para a Playboy em 1980, quando já tinha 42 anos, e no ano seguinte foi eleita a musa do verão carioca. Só que, nela, a beleza era a exteriorização da inteligência. Filha de judeus poloneses, Dina Kutner de Souza nasceu em São Paulo, em 1938. O nome artístico – Sfat – foi uma homenagem à mãe, lembrando a cidade onde ela nasceu. A jovem Dina começou no teatro, integrando grupos amadores que montavam Bertolt Brecht em São Paulo (Os Fuzis da Senhora Carrar e Aquele Que Diz sim, Aquele Que Diz não). Passou ao Arena, onde participou de montagens de Augusto Boal que se tornaram históricas pela resistência à ditadura militar instalada no País – Arena Conta Zumbi e Arena Conta Tiradentes, em 1966 e 67.
No cinema, o papel mais famoso talvez tenha sido o da guerrilheira Cy em Macunaíma, que Joaquim Pedro de Andrade adaptou de Mário de Andrade (e virou manifesto antropofágico de um cinema tropicalista). Dina fez muita TV. Numa época em que artistas de esquerda encaravam o veículo com desconfiança, por causa do controle que sobre ele exerciam a censura e o capital ligado ao movimento militar, ela virou a atriz preferida de Janete Clair em suas novelas. A bela mulher e atriz talentosa provocou polêmica ao apoiar o aborto e fez sensação ao participar, na TV, de uma entrevista com o general Dilermando Gomes Monteiro, no Canal Livre da TV Bandeirantes. Dina, encarando o militar, disse que tinha medo dele. O programa era transmitido ao vivo. A cena passou e o Brasil inteiro se identificou com Dina, que virou uma verdadeira heroína. Não admira que, logo em seguida, tenha aderido à campanha por Diretas Já, participando ativamente do movimento pela redemocratização.
Não se trata, aqui, de fazer dela uma ‘Santa Dina’, exagerando suas qualidades. A tentativa é apenas de fazer justiça à beleza e ao talento de uma figura singular da arte da representação no País. Dina pertence à estirpe de Cacilda Becker e Glauce Rocha. O especial traz cenas de filmes e depoimentos de amigos e familiares. Entre os filmes, contam-se clássicos do cinema brasileiro. Além dos de Khouri e Joaquim Pedro, Dina participou de Os Deuses e os Mortos, de Ruy Guerra; Das Tripas Coração, de Ana Carolina; e de Eros, o Deus do Amor, de novo sob a direção de Khouri. Foi casada com o ator e diretor Paulo José, com quem teve três filhas – Clara, Bel e Ana Kutner.
Separaram-se em 1981, mas ele dá um depoimento emocionado e emocionante sobre a ex-companheira. Também dão depoimentos o ator Carlos Vereza, o diretor Domingos de Oliveira, com quem Dina fez Edu, Coração de Ouro, e a jornalista e escritora Mara Cabalero, autora da biografia da atriz – Palmas para Que Te Quero. Depois de assistir ao especial, você vai querer mergulhar na biografia de Dina e ver seus filmes. Maior homenagem não se poderia fazer a essa figura excepcional do teatro, da TV e do cinema do País.’
CASSETA & PLANETA
Daniel Castro
‘Cassetas zoam ‘sogra’ Suplicy em cartoon’, copyright Folha de S. Paulo, 19/03/04
‘A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, será personagem de desenho animado no ‘Casseta & Planeta, Urgente!’, da Globo, que volta dia 13 de abril. Ela será Marta Suplisimpson na tira ‘Os Suplisimpsons’, sátira de ‘Os Simpsons’, que terá ainda o senador Eduardo Suplisimpson, o roqueiro Supla Simpson e o Argentino (o marido de Marta, Luis Favre).
Os cartoons, segundo o casseta Cláudio Manoel, terão de 15 a 45 segundos. Além de ‘Os Simpsons’, com os Suplicy (que também estarão em ‘reality show’ na MTV, em maio), haverá ‘Pênis Pinto’, uma versão ‘politicamente correta’ de ‘O Picapau’, e ‘Bebum Esponja’ (‘Bob Esponja’).
Claudio Manoel diz que ‘Os Suplisimpsons’ é ‘uma homenagem à sogra de Maria Paula’. Oitava casseta, ela é casada com João Suplicy, filho de Marta, está grávida e será poupada do desenho.
O ‘Casseta & Planeta’ terá ainda uma nova dupla de agentes (do CCS, Cerviço Cecreto Sentral) e uma repaginação da imagem das Organizações Tabajara por três badalados publicitários.
‘Duda Mendonça [marqueteiro de Lula] e Washington Olivetto já aceitaram. O Nizan [Guanaes, publicitário da Brahma] disse que estava muito ocupado’, brincou Claudio Manoel, anteontem, durante seminário, em São Paulo, que discutiu a polêmica transmissão de TV por celular. O ‘Casseta & Planeta’ terá maior interavidade, com votações por SMS.
OUTRO CANAL
Martelo
A Globo começa a gravar no final deste mês na ilha do Rodeadouro, no rio São Francisco, entre a Bahia e Pernambuco, as primeiras cenas de ‘Dinastia’, próxima novela das oito, que estréia em julho. Wolf Maya irá dirigir Carolina Dieckman e atores do teatro pernambucano. Haverá gravações no Ceará e no Piauí.
Dose dupla
Na novela, Dieckman será a protagonista Maria do Carmo nos dez primeiros capítulos (Suzana Vieira na segunda fase). Após salto temporal de 26 anos, ela interpretará Lindalva/Isabel, a filha de Maria do Carmo seqüestrada quando era bebê.
Supervisão
Silvio Santos foi pessoalmente anteontem ao estúdio do SBT em que Carlos Massa, o Ratinho, ensaiava o piloto de seu novo programa, que será gravado terça. Será um show de calouros e deve ir ao ar das 12h às 13h, aos domingos, em abril.
Nome aos bois
A peça sobre os tumultuados bastidores de ‘Metamorphoses’, de Arlette Siaretta, está sendo escrita por Alexandre Lydia, que já foi roteirista da novela, e supervisionada por José Louzeiro _a terceira ‘grife’ a abandonar o barco da produção.
Prumo
Marlene Mattos contratou Rodrigo Carelli (diretor de ‘Casa dos Artistas’ e do ‘Acústico MTV’ de Roberto Carlos) para comandar o Miss Brasil 2004, que a Band exibe dia 15 de abril.’
CRÍTICA DE CINEMA
Cecilia Giannetti
‘Os papéis da crítica’, copyright Jornal do Brasil, 19/03/04
‘O que é a crítica de cinema? Uma ferramenta com a qual são manipuladas opiniões e definidas bilheterias ou um diálogo com o público, visando ampliar a discussão sobre um importante meio de expressão? O sexto debate do seminário A arte da crítica, dedicado ao cinema, lotou o auditório do segundo andar do Centro Cultural Banco do Brasil, na última quarta-feira, para levantar questões como essas. Na mesa, o crítico do Jornal do Brasil, Rodrigo Fonseca; o cineasta e editor da revista eletrônica Contracampo, Eduardo Valente; o presidente da RioFilme, ator e ex-colunista do JB José Wilker; e o cineasta Murilo Salles. Na platéia, o produtor Júlio Miranda, da Politheama Filmes, e o cineasta Fábio Barreto. Fábio reclamou da promiscuidade nas relações entre críticos e realizadores, e afirmou, aproveitando o microfone aberto passado ao público, no final do evento:
– O nível está muito baixo.
Ao longo de três horas de duração, no entanto, a discussão não estancou na mecânica de acusar os erros e acertos da crítica nacional, sobretudo a carioca. Logo de início, o mediador Carlos Alberto Mattos, um dos curadores do evento, buscou o equilíbrio do debate, lembrando que a crítica de cinema enfrenta uma crise em todo o mundo, e que os problemas apontados com freqüência no seu exercício merecem uma investigação profunda:
– O curto espaço para a análise nos veículos impressos é uma cortina de fumaça para encobrir outras deficiências – afirmou Carlos, que assina resenhas no site criticos.com.br.
Ele citou a necessidade de maior inserção da classe nas discussões dos caminhos do cinema internacional e, especificamente, do crescimento das produções latino-americanas, além da evolução digital e da TV, um fenômeno pouco discutido, que terá grande impacto sobre o cinema nacional.
Para José Wilker, que se tornou comentarista de cinema depois de atuar como ator, diretor e produtor, o crítico e o cinema são a mesma coisa:
– O crítico de cinema é tão importante quando o fotógrafo e o diretor, ele é parte de uma cadeia sem a qual é impossível que o cinema exista – disse Wilker.
O resto, segundo ele, seriam ossos do ofício:
– Provocar debates e suscitar fúrias é parte do trabalho. Mas em relação às ‘bolinhas’ e ‘estrelinhas’, sou contra. É preferível ter espaço para o pensamento.
Movimentar o interesse do público pelo tema, em vez de apenas indicar bons filmes para o fim-de-semana, também seria uma tarefa do crítico. Carlos Alberto Mattos retomou o termo ‘animador cultural’ utilizado pelo escritor Silviano Santiago no debate sobre literatura, na semana anterior, e chamou a atenção para os múltiplos papéis desempenhados por Eduardo Valente. Além de crítico e autor dos curtas Castanho e Sol alaranjado, Eduardo promove mostras e é um dos criadores da Sessão Cineclube, uma das pontas do retorno do cineclubismo no Rio de Janeiro. Para ele, a crítica não deve ser exercida isoladamente de atividades que favoreçam a formação de público.
– A arte está ‘grudada’ na crítica. A própria arte é uma crítica do artista sobre o mundo – ponderou, afirmando que a crítica, por sua vez, é uma escrita em primeira pessoa, impossível de ser separada da subjetividade do crítico.
Da platéia, porém, surgiu o questionamento sobre a influência desta subjetividade sobre a capacidade analítica do leitor. A questão levada à mesa sugeria que, após ler uma crítica, o público tinha sua visão limitada pelas opiniões do profissional.
– A crítica é um diálogo e serve para ampliar a discussão em torno do filme. Não é uma verdade absoluta e o crítico não é um oráculo. O público deve construir sua própria argumentação – rebateu Rodrigo Fonseca.
– Crítica não é tabela de resultados, não deve ter o objetivo de descobrir verdades – afirmou Murilo Salles.
O cineasta leu um texto do teórico francês Roland Barthes sobre o tema e concluiu:
– Crítica é metalinguagem.
Hoje, às 18h30, o debate gira em torno das artes plásticas (leia acima). À mesa, Affonso Romano de Sant’Anna, Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale, Luiz Camillo Osório e Carlos Brandão.’
SÍTIO DO PICAPAU AMARELO
Beatriz Coelho Silva
‘Globo renova cenário e elenco do ‘Sítio’’, copyright O Estado de S. Paulo, 19/03/04
‘Uma Amazônia de mistérios e lendas ou uma área com problemática, devastada pelo Homem. Na dúvida, o episódio A Menina da Selva, que abre o Sítio do Pica-Pau Amarelo em 2004, na Globo, vai mostrar as duas faces da região. A estréia é no dia 12 de abril.
Serão 25 capítulos, contando as peripécias de Jajale ( Bruna Marquezine), perdida na floresta. Haverá seres mágicos, como Iaú (Flávio Migliacio) e o Saci (Isak Dahora), vilões desastrados como Mike Navalha (Marcos Breda) e Amorzinho (Rita Guedes), além dos personagens fixos: Dona Benta (Nicette Bruno), Tia Anastácia (Dhu Moraes), Emília (Isabelle Drummond), Visconde de Sabugosa (Cândido Damm) e os novos Narizinho (Caroline Molinari) e Pedrinho (João Vítor Silva).
Desta vez, o pajé Iaú pede ajuda às crianças do Sítio para Jajale voltar para casa. Pelo segundo ano, as histórias do Sítio não estão no texto de Monteiro Lobato, são personagens criados pelo quarteto de roteiristas do programa, Mário Teixeira, Duca Rachid, Alessandro Molon e Júlio Fuscher.
‘Aproveitamos alguns secundários e desenvolvemos histórias para eles’, adianta Teixeira. ‘Monteiro Lobato é tão incrível que, com duas frases, descreve um personagem e faz a gente imaginar sua história.’
A opção de viajar pelo Brasil no Sítio decorre da exibição do programa no exterior, em Portugal e nos países onde chega a Globo Internacional. Por isso, há planos para ir ao Sul, ao Nordeste e ao Pantanal. A ida à Amazônia deu ares de superprodução ao programa. Durante 17 dias, 43 pessoas gravaram na Amazônia, enfrentando todo tipo de contratempo próprio de uma floresta equatorial. ‘Convivemos com jacaré, cobra, macaco, vivendo à beira do perigo sem nenhum perigo real’, diz a diretora Cininha de Paula.
A emissora não divulga o custo da produção, mas a cidade cenográfica construída no Projac fica à altura do investimento na Amazônia. A casa do Sítio é de verdade, não cenográfica, embora mantenha o clima mágico. Os figurinos são o sonho de Helena Brício, que os desenhou. ‘É muito melhor que só escolher um jeans e uma camisa para o personagem’, diz ela. ‘Aqui eu viajo à vontade.’’
RODAPÉ