Para quem tenta justificar as quedas nos índices globais – e ainda mais no seu ex-porto seguro, as novelas – é que me dirijo. O que acontece na dramaturgia atual? A Record ameaça com uma ficção científica tupiniquim, o SBT ameaça com a re-re-reexibição de Pantanal. Onde está o dito país das novelas, que também pelos defensores do indefensável o proclamam há décadas o país do futebol?
Se ser o país das novelas é aplaudir falsos artistas que a única arte que praticam é aquela do léxico da minha avó: ‘Você fez arte, ein? Vai já pro castigo!’ Meus caros o castigo é nosso, ter de engolir testes do sofá ou qualquer nome que queiram dar.
A coluna ‘Revista da TV’ de Patrícia Kogut, do jornal O Globo, só não força mais a barra para não ultrapassar o cúmulo do ridículo. Quando cita:
‘Ela se despede de Maíra com o sentimento de missão cumprida. E agradece ao autor da história, João Emanuel Carneiro.
‘Foi um presente. João não deixou passar despercebida a presença dela. Sou muito grata a ele e ao Ricardo (Waddington, diretor). Tanto pela Maíra, quanto por eles terem me liberado para fazer a novela da Glória Perez, Caminho das Índias – finaliza a atriz.’
Qualidade de elenco
Primeiro, para crer em tal nota, precisaríamos viver em um mundo surreal, desinformado e alheio a realidade. Alguém que não é formado, e quando raramente o é, em uma novela geralmente faz parte da velha guarda, ou de alguma das pseudo-faculdades de teatro do país. As pessoas deveriam saber que curso de Artes Cênicas, não é teatro, forma apenas vomitadores de teoria crítica teatral, ora da realidade técnica de interpretação no palco. Pois até um semi-analfabeto que ler repetidamente Stanislavski poderá repetir suas teses, mesmo sem entendê-las ou praticá-las.
Agora alguém me diga, sem usar doping, como alguém que faz inúmeros trabalhos ditos de atriz pode fazê-los repetindo timbre vocal, repetindo expressão corpórea e repetindo sotaque. Num país preconceituoso, segregacionista e multi-étnico cultural, onde só a região nordeste tem cinco dialetos característicos, alguém pode conceber que uma atriz possa repetir sotaques em dois trabalhos seguidos?
Como disse Débora Block no prêmio contigo último: ‘Eu nunca dei para diretor nenhum. Vai ver, é por isso que minha carreira no cinema não decolou.’
Será que é só no cinema, ein, Débora. O que vemos hoje na dramaturgia, ou dita como tal? A cópia de algo que se criou no cinema norte-americano nas décadas de 60 e 70 e, aos poucos, foi o vulgarizando e conseqüentemente baixando seu nível ao discorrer dos anos. O mesmo ocorre com nosso patrimônio televisivo. Desde a entrada da Rede Globo no mercado de novelas, primeiro copiando a programação da TV Excelsior e novelas da TV Tupi, o número de atores com propriedade para tal designação tem diminuído. Na ultima década, mais descaradamente! É só avaliar a qualidade de elenco de uma trama com seu Remake. Compare o elenco de Ciranda de Pedra na primeira e na atual versão.
Alguém que não fala verdades
Não sei o que deixa mais perplexo um ser: os que fazem parte da mídia, que por muitas vezes negam o teste do sofá em detrimento aos profissionais capacitados e formados para tal, ou os que nem fazem parte da mídia mas têm o discurso de manipulado midiático e também fingem este fato não existir?
Antes que alguém pergunte quem sou eu, já de antemão respondo: sou um feio, pobre, sem fama e ainda sincero. Tudo que não faz sucesso no país do futebol, do carnaval e das novelas. Abraços, Débora, que bom que alguém em sua posição não tem que falar verdades… Que raro!
******
Ator, diretor teatral, cantor, escritor e jornalista, Florianópolis, SC