Foi com surpresa e perplexidade que os mais de quatro mil professores e pesquisadores de Comunicação ouviram, na abertura do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, o Intercom, semana passada, em Curitiba:
‘Nada se ganha ridicularizando os políticos. É necessário revalorizar os políticos.’
A declaração não partiu de um deles, em própria defesa. O dono do alerta é o reverenciado pensador francês Dominique Wolton, professor do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França, que, em seguida, completou:
‘A legitimidade vem da eleição. É o político que tem de decidir.’
A perplexidade se desfez diante da profundidade da reflexão. Para Wolton, o maior desafio da Comunicação, em todo o mundo, é a garantia da democracia, o respeito à diversidade e ao convívio cultural. E ninguém melhor para isso do que aqueles que são eleitos para nos representar, nos defender e tomar as decisões.
É claro que Dominique Wolton não fala em defesa de quem pratica ‘atos secretos’ ou defende aumento de quase oito mil novos vereadores no país. Ele se refere à representatividade legítima, aos bem-intencionados, aos que carregam na alma a vocação e o espírito público.
Alienação, não; dominação
Talvez seja este o equívoco que cometem os formadores de opinião: generalizar a malversação. Há muitos anos, os políticos vêm perdendo o respeito público diante dos atos em defesa de interesses pessoais ou interpessoais. A resposta tem sido a falta de interesse do povo pelos que se candidatam, diante do que fazem ou na cobrança do que ficou na promessa. Comparecer às eleições tornou-se simples obrigação. Falar mal virou lugar-comum. Qualquer ação diferente, aí sim, é fora do normal. Quem prepara seus filhos para serem bons políticos? Se os de bem não se oferecem, sobra espaço para os que têm ‘inconfessáveis desejos’. Ou, mais descaradamente, nem tão ‘inconfessáveis’ assim.
A imprensa reforça o sentimento da repulsa e reduz a cobertura política. É a chamada teoria dos espelhos: fala-se pouco porque o povo não quer saber ou o povo não quer saber porque a imprensa não (in)forma bem?
O pensador francês lança mão da experiência europeia para exemplificar a necessidade da comunicação política:
‘Os europeus se detestam, não têm o que dizer um ao outro, desconfiam um do outro. Mas a coisa está funcionando.’
Para ele, o público não é alienado, é dominado. Por isso, a comunicação é uma questão política. Violência é quando as pessoas não se falam mais. É melhor gastar tempo com a comunicação. Insistir!
Que tal experimentar?
Concluindo, diz – bem humorado – que conseguiu resumir trinta anos de pesquisas em Comunicação em cinco tópicos bem simples. São as suas ações para salvar o lugar da Comunicação, entendido aqui para além da questão política, como ações para todos os atos da vida:
** Seres humanos não podem deixar de se comunicar.
** Comunicar é seduzir.
** O outro pode não concordar.
** Deve-se, sempre, tentar negociar com os opostos.
** Tudo é convivência. Democracia é admitir o ponto de vista diferente.
Que tal experimentar?
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Jornalista, chefe de reportagem da TV Gazeta, Vitória, ES