É fácil encontrar o fio da meada dos 17 requerimentos apresentados pelo deputado Moreira Mendes (PPS-RO) na CPI do MST: a reportagem da revista Veja da primeira semana de setembro. Está tudo lá. Não há nada além do que foi publicado pela revista. A reportagem da Veja, que colocou na sua capa um boné do MST cheio de notas de reais e dólares, ‘desvenda’ uma suposta estratégia do movimento de captação de dinheiro público para fazer ocupações de terra.
‘Veja teve acesso às movimentações bancárias de quatro entidades ligadas aos sem-terra. Elas revelam como o governo e organizações internacionais acabam financiando atividades criminosas do movimento’, anunciou a reportagem. No entanto, não foram apresentadas as tais ‘movimentações bancárias’. Nem foi anunciado de onde saiu essa informação. Ou seja, nada de concreto. Existe uma hipótese para a origem das informações sobre os convênios dos ministérios com entidades sociais: são informações confidenciais da CPI da Terra e a CPI das ONGs.
Uma coisa parece muito estranha. Ainda não são proibidos os convênios de governos com entidades prestadoras de serviços públicos no país. Também não se apresentaram elementos concretos para questionar o resultado desses trabalhos. Até aí, não há nada de ilegal. Além disso, Veja não deu provas concretas de que esse dinheiro foi desviado para fazer ocupações de terras e protestos contra grandes empresas.
Desmoralizar os movimentos sociais
No entanto, a matéria da revista Veja foi exatamente a motivação para a instalação de uma CPI para investigar as entidades da reforma agrária. Criou um clima fértil para se convencer os parlamentares a assinar o requerimento. Só que, no primeiro lote de requerimentos, Moreira Mendes propõe investigar justamente os ‘fatos’ e ‘conclusões’ que sustentaram a instalação. Diante disso, se podem fazer duas leituras. Ou não haveria motivos para uma nova comissão, uma vez que as ‘novas’ denúncias têm origem nas CPIs da Terra e das ONGs, ou o deputado Moreira Mendes está propondo que se investigue mais uma vez o que já foi investigado nessas duas comissões de inquérito.
Será que os parlamentares estão sem trabalho? É difícil de acreditar. Moreira Mendes está na política há mais de 30 anos. Atua dia e noite no Congresso em defesa da indústria de armamentos, que apoia seu trabalho com o financiamento das suas campanhas eleitorais. Com esse ímpeto, chegou a uma fortuna de 2 bilhões de reais como advogado e fazendeiro. Ou existe uma intenção ainda não anunciada?
Do jeito que está, essa CPI vai requentar o que já foi levantado nas investigações anteriores e render matérias para a imprensa desmoralizar os movimentos sociais. Tomara que a sessão prevista para esta quarta-feira (23/12) possa tirar essas dúvidas e demonstrar que os parlamentares desejam estudar a estrutura agrária, a situação da reforma agrária e a origem dos conflitos no campo.
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Jornalista, Brasília, DF