As teorias de manipulação de massa (enquanto turba indistinta e alienada) pelos veículos de comunicação, há muito já foram refutadas por teóricos da atualidade. Tal dominação não ocorreria, entre outros fatores, graças ao papel desempenhado pelas mídias independentes, aliadas à influência dos chamados líderes locais. A possibilidade de se obter informações extra-oficiais, assim como a identificação e pertencimento dos indivíduos a grupos específicos, portanto, fariam a diferença primordial na forma de recepção das mensagens – fundamentalmente as de cunho político.
A eleição do presidente Lula em 2002 – com clara desvantagem em relação ao opositor, no que concerne à cobertura da imprensa dita nativa – talvez seja um bom exemplo para legitimar o argumento. Principalmente considerando-se que, em pleito anterior, ‘detalhe’ como a edição de um vídeo sobre debate entre candidatos à presidência pela TV Globo, em 1989, favoreceu a vitória de Fernando Collor, em detrimento da esquerda de Lula. O espaço de tempo decorrido entre os fatos abarca, ainda, o maior fenômeno responsável pela disseminação do discurso alternativo: a popularização da internet, que também viria a ampliar a até então restrita figura das diferentes lideranças populares.
Em que pese a importância da rede e os processos unilaterais de resistência, entretanto, a balança está longe de ser equilibrada. A simbiose entre mídia e política, duro golpe contra a isonomia, só deixará de ser prejudicial quando houver, efetivamente, a tão propagada democratização dos meios, concentrados em poucas e coordenadas mãos. Enquanto isso, e a despeito de teorias contemporâneas, quaisquer batalhas tenderão a ser desiguais.
O gancho do atraso
O recente escândalo que envolveu o presidente do Senado, José Sarney, o hipotético encontro da ministra Dilma Rousseff com a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, e a discussão em torno das novas regras do pré-sal são interessantes, do ponto de vista analítico, para examinar os mecanismos de persuasão utilizados, eventualmente, por determinadas empresas jornalísticas: partidarismo mascarado nas obstinadas tentativas de desconstrução da imagem do PT, com costuras forçadas entre os assuntos e o uso indiscriminado dos já conhecidos recursos de saturação, tão ao estilo das propagandas nazistas.
O site G1, portal de notícias da Globo, chegou a publicar uma foto, sobre a cerimônia do marco de regulação do pré-sal, em que aparecem lado a lado Lula, José Sarney e Dilma Rousseff (ver aqui). Chama atenção o fato de que o gancho da matéria é o atraso, na chegada ao evento, dos governadores Sérgio Cabral, José Serra e Paulo Hartung.
Interesses privados
O circo forjado sobre o depoimento de Lina Vieira à CCJ gerou muito mais suítes, em publicações de O Globo, Folha e Estadão, que as denúncias de corrupção da gestão de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul e o possível envolvimento do PSDB de São Paulo com a francesa Alston, que teria pago propina de 6,8 bilhões para obter contrato de ampliação do metrô na capital – isso para citar apenas dois casos.
Embora um observador atento saiba discernir entre verdades e mentiras patentes nestes já sabidos métodos de influência social, a estratégia permanece eficaz. Um despropósito, não pela ação de criticar o poder vigente, mas pelo apoio velado a uma oposição que comete os mesmos erros supostamente combatidos por coberturas que se afirmam apartidárias. Desgasta-se assim a imagem de um governo, menos por suas reais fragilidades que por indução, em prol de interesses privados dos grandes conglomerados.
Mais um tiro no pé da ética, em suma.
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Estudante de Jornalismo, Rio de Janeiro, RJ