Com a criação das agências de notícias, que quase sempre estão ligadas a conglomerados econômicos e que também possuem telejornais, mídia impressa e site na internet, as notícias relevantes passaram a ser privativas das mesmas, pois quase nunca, agora – somente em casos excepcionais – as televisões e jornais enviam seus jornalistas para constatações in loco, pois é mais econômico comprar as notícias das agências.
Observando alguns fatos de relevância da contemporaneidade, tais como a crise econômica e os intermináveis combates na Faixa de Gaza, vê-se que ao invés de explicar de forma cabal para o telespectador e/ou leitor da mídia escrita, acaba-se tendo dúvidas dos fatos e há nitidamente tendências em certas agências noticiosas. É até compreensível que uma agência de notícias ligada a essa ou aquela religião e/ou a governos tente mostrar somente o que lhe interessa, muitas vezes, certamente, por conta de interesses inconfessáveis.
Viajei o mundo todo e notei que em cada país a imprensa se ‘molda’ ou tem que se ‘moldar’ ao sistema de governo e à religião dominante. Em alguns países que estavam em conflito – França, subúrbio de Paris, por exemplo – notei que aquele conflito era glorificado e a impressão que se tinha é que se colocasse o pé fora do hotel seria atingido pela fúria descontrolada de meia dúzia de baderneiros imigrantes.
Por trás da notícia
Em Katmandu, no Nepal, quando desembarquei em meio a uma ‘revolução’ para derrubada do governo, segundo a mídia, perguntei logo ao motorista do táxi se havia risco de morte atravessarmos a cidade até o hotel por conta da tal ‘revolução’. O motorista, nepalês, sorriu, e disse que essa ‘revolução’ de que falava não passou de uma manifestação pelas ruas da pequena Katmandu. Ainda insisti em dizer que tinha visto na televisão que o número de mortos já passava de algumas centenas; novamente este fato foi negado pelo taxista. Depois disto, perambulando pela tranqüila Katmandu, descobri que houve exagero da mídia.
A Escola de Frankfurt, na Alemanha, fundada em 1924, cujos principais expoentes foram Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor W. Adorno (1903-1969), já denunciava o ‘totalitarismo eletrônico’, pois estavam seguros esses intelectuais de que as massas estavam sendo manipuladas e suas mentes bombardeadas de informações muitas vezes desnecessárias. A crítica da escola frankfurtiana é atual e é corroborada por um dos maiores intelectuais da contemporaneidade, Jürgen Habermas, autor do livro Ação Comunicativa.
Hoje em dia, e quando raramente assisto aos telejornais, fico de olho não somente nas notícias, mas no que há por trás delas – pois muitas vezes as mesmas são tendenciosas e não a expressão da verdade.
Os jornalistas, ao se graduarem – a graduação deveria ser obrigatória – deveriam fazer um juramento público prometendo nunca manipular notícias e informações, sob pena de não poderem mais exercer a sua nobilíssima profissão, que é o jornalismo.
******
Advogado e psicanalista, Fortaleza, CE