Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Marcelo Bortoloti

‘Passados mais de 30 anos da primeira transmissão de TV em cores no país, ninguém percebe que, em pleno século 21, ainda haja muitos brasileiros vivendo na era do preto-e-branco.

O Levantamento Sócio Econômico realizado pelo Ibope em 2003 e divulgado no começo deste ano verificou a quantidade de televisores em PB em uso em seis capitais do centro-sul do país. O estudo mostrou que só na cidade de Porto Alegre, por exemplo, 6% dos domicílios possuem aparelhos em preto-e-branco. Ou seja, quase 70 mil residências.

O fato de a casa possuir um aparelho em PB não exclui a possibilidade de ter outro em cores. Mas dados do IBGE confirmam que ainda há muitos espectadores à moda antiga. Segundo o instituto, em 2002, cerca de 8,9 milhões de brasileiros tinham acesso apenas a televisores em preto-e-branco.

Desde 1997, os aparelhos em PB deixaram de ser produzidos no Brasil. A última fabricante foi a Philco, com os modelos PBA7, de 12 polegadas, e o PBA2, de 17 polegadas. Mas até hoje, em lojas de móveis usados, é possível adquirir um televisor em PB de segunda mão. Os preços variam de R$ 30 a R$ 100, dependendo do modelo e do estado de conservação.

Nas casas de antigüidades, algumas TVs consideradas relíquias chegam a valer até R$ 350.

Quem ainda persiste no sistema preto-e-branco encontra dificuldades em consertar seu televisor quando ele estraga. No Rio de Janeiro não existem mais técnicos que trabalhem com TVs a válvula. Algumas oficinas ainda reparam os aparelhos em PB, desde que sejam transistorizados.

A Lojas Chuá, localizada no bairro carioca da Lapa, compra e vende móveis usados e trabalha preferencialmente com televisores em PB. Para o vendedor Jorge do Patrocínio esses modelos são mais resistentes: ‘Geralmente, quando a gente vende uma TV em cores, o freguês no outro dia devolve, dizendo que já estragou. A em preto-e-branco não. Ela vai e não volta mais’. Segundo ele, a procura por modelos em PB ainda é muito grande na região.

O vendedor José Rodrigues, que tem uma banca de objetos usados próxima à praça da Cruz Vermelha (centro do Rio), guarda sempre no estoque uma TV em preto-e-branco. ‘Tem gente que prefere porque toda a vida assistiu à TV assim e não se acostuma com a em cores’, diz. Segundo ele, o aparelho em PB tem uma série de vantagens: ‘É uma televisão mais barata, que pega qualquer canal com imagem boa e vende bem’.

Graças a essa audiência em PB, as emissoras também apostam nesse tipo de público. A TV Globo informa que investe em equipamentos de alta tecnologia para garantir compatibilidade total de seus programas com os vários modelos de televisores. Além disso, segundo a assessoria da emissora, durante a edição dos programas, o ajuste de brilho e contraste é feito por um monitor em PB e um em cores, de forma que as transmissões não se distorcem em nenhum tipo de aparelho.’

***

‘Colecionador mantém museu de TVs’, copyright Folha de S. Paulo, 18/04/04

‘Algumas pessoas persistem no sistema preto-e-branco por pura paixão. O colecionador Alceu Massini, de Santo André (SP), mantém uma espécie de museu de televisores antigos, com cerca de 700 modelos da época.

Seu hobby começou nos anos 80, quando percebeu que muitos aparelhos velhos estavam indo para o lixo. O primeiro da coleção foi uma preciosidade: uma TV da marca Invictus, de 1956, abandonado por 25 anos na casa do avô.

Desde então, Massini começou a freqüentar feiras de antiguidades em busca de TVs com mais de 30 anos de uso. ‘Havia pelo menos 80 marcas de televisores que eram fabricados no Brasil. Com a chegada da TV em cores, a maioria das empresas não conseguiu competir no mercado’, diz.

O próprio Massini restaura os televisores, e 30 modelos funcionam. O museu tem um site (www. televisoresantigos.com.br) com detalhes sobre o acervo.’



TELENOVELAS
Maxine Frith

‘Jovens imitam vilões de novela, diz estudo’, copyright The Independent / Folha de S. Paulo, 17/04/04

‘Personagens de caráter duvidoso e cenas de bate-boca em novelas de televisão estão levando os adolescentes a copiar esse comportamento agressivo em suas vidas pessoais, afirma um estudo britânico divulgado ontem.

Uma nova pesquisa demonstra que as crianças que assistem a cenas de agressão indireta e não-violenta na televisão têm maior probabilidade de exibir comportamento semelhante no futuro.

Há temores de que a insistência em retratar na televisão personagens populares que se dão bem espalhando boatos, queixando-se de colegas ou recorrendo à intimidação emocional possa levar a um aumento na incidência de comportamento agressivo nas escolas.

Sarah Coine, da Universidade de Central Lancashire, conduziu uma série de estudos sobre as imagens de agressão indireta tais como retratadas na televisão e o impacto que exercem sobre os adolescentes.

Suas conclusões, apresentadas ontem durante a conferência anual da Sociedade Psicológica Britânica, somam-se aos indícios cada vez mais numerosos de que a violência nos filmes estimula mais agressão na vida real.

Traição e boatos

Coine assistiu a mais de 250 horas de 29 programas de grande audiência na televisão britânica, entre os quais os seriados ‘EastEnders’, ‘Coronation Street’, ‘Emmerdale’ e ‘Friends’.

Ela constatou que 92% dos programas optam por cenas de agressão indireta, tais como personagens espalhando boatos, falando pelas costas de seus amigos e colegas ou traindo um amigo em benefício próprio.

‘Emmerdale’, há mais de 30 anos no ar retratando a vida num vilarejo no interior do Reino Unido, exibiu os piores resultados em termos de conteúdo de cenas de agressão indireta, com em média 15 dessas cenas por hora.

‘EastEnders’, popular novela que mostra o cotidiano de um bairro operário de Londres, e ‘Coronation Street’, o mais antigo seriado da TV britânica e que já teve participação até do príncipe Charles, ostentam níveis semelhantes.

Mulheres agressivas

Mais de dois terços das cenas mostram personagens femininos se comportando de maneira agressiva.

Em outro estudo, Coine mostrou a adolescentes filmes com cenas nas quais os personagens se comportavam de maneira agressiva, embora sem agressão física.

Quando comparado a crianças que não assistiram a esses filmes, o grupo de participantes do teste exibiu comportamento de agressão indireta muito mais intenso, imediatamente depois de assistir às cenas.

Vilões bonitos

Coine disse considerar essa tendência ‘muito preocupante, dada a presença elevada de agressão indireta na televisão hoje. É absolutamente constante, incansável -a TV norte-americana exibe muito mais violência física, mas os programas britânicos contêm muita agressão indireta’, afirmou.

‘A forma pela qual a agressão indireta vem sendo retratada é especialmente preocupante porque são muitas vezes os personagens mais bonitos e populares que recorrem a esse comportamento, o qual os produtores exibem como justificado e digno de recompensa’, disse.

Ela acrescentou que ‘esses personagens servem de modelo às crianças, porque estas vêem o tipo de comportamento que eles exibem sendo recompensado’.

‘Espalhar um boato sobre alguém evidentemente não é tão sério quanto estourar a cabeça de uma pessoa a tiros, mas o nível de incidência de imagens de agressão indireta na TV causa, como demonstram os estudos, uma maior incidência de agressão na vida real’, disse.

‘Acredito que devamos realmente investigar essa questão mais a fundo, bem como a questão mais ampla da violência na televisão como um todo’, afirmou.

Coine concluiu também que, embora a agressão indireta seja o mais das vezes retratada na televisão por personagens femininos, telespectadores adolescentes dos dois sexos julgam as mulheres que demonstram esse tipo de agressividade com muito mais severidade do que julgam os homens culpados da mesma falha.

Simpatia masculina

Quando os adolescentes assistiram a filmes em que personagens masculinos e femininos exibiam agressão indireta, demonstraram mais simpatia para com os homens, vendo seu comportamento como mais justificado.

Coine disse que, ‘aparentemente, os velhos estereótipos continuam a existir, na medida em que a agressividade, mesmo que não violenta, é vista como muito mais justificada no caso dos homens do que no das mulheres’.

A preocupação com a maneira pela qual a violência é retratada na televisão vem crescendo nos últimos anos. A Ofcom, uma nova agência reguladora britânica, vai investigar o nível de violência e agressão na TV do Reino Unido.

Os especialistas continuam divididos quanto ao possível impacto das cenas de violência sobre as crianças que as assistam.

Diversos processos judiciais foram abertos nos Estados Unidos sob a alegação de que filmes e videogames violentos haviam levado crianças a praticar assassinatos, embora nenhuma das ações tenha saído vitoriosa até agora.

Coine diz não acreditar que ‘a maioria das crianças assista a um filme em que alguém atinge outra pessoa com um tiro e repita esse exemplo’. ‘Mas creio que as cenas possam estimular a hostilidade e a agressão em seu temperamento’, disse. ‘A agressão indireta pode ter enorme impacto sobre a maneira de pensar dessas crianças.’’



TVE
Roberta Pennafort

‘TVE conta história da arte nacional’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/04/04

‘O título já diz tudo. Arte para Todos, série de cinco documentários do cineasta Zelito Viana que estréia amanhã na TVE, foi realizada com o objetivo de mostrar obras de arte produzidas no Brasil nos últimos três séculos a quem não tem acesso a elas.

Por um mês, entre agosto e setembro do ano passado, a equipe de Viana viajou por Minas Gerais, São Paulo e Rio filmando peças de coleções particulares e outras expostas em museus, mas desconhecidas pelo grande público. São itens representativos dos principais movimentos culturais do País, do barroco mineiro ao contemporâneo, passando pelo século 19, o modernismo e a arte popular.

O passeio começa com os oratórios que compõem o belíssimo Museu do Oratório de Ouro Preto (MG) e as dezenas de imagens de Sant’Ana, todos reunidos pela colecionadora Ângela Gutierrez. O interior de igrejas erguidas no século 18 e as obras de Aleijadinho não ficaram de fora. Em seguida, vêm Debret, Rugendas, Vitor Meireles, Pedro Américo e outros pintores menos famosos, cujos quadros retrataram o Brasil dos primeiros séculos. Muitos deles estão nas paredes do casal Hecilda e Sérgio Fadel, no Rio, e, portanto, são praticamente ignorados até mesmo pelos freqüentadores de salas de exposição.

O modernismo está representado pelo incrível acervo de Gilberto Chateaubriand, que fica em seu apartamento, no Rio. Estão lá Anita Malfatti, Cícero Dias, Guignard, Iberê Camargo, Carlos Scliar, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Portinari, Djanira, Volpi e muitos mais.

A abstração de Ivan Serpa e Aluísio Carvão também teve seu espaço, assim como as instalações e objetos de Lygia Clark, Hélio Oiticica, Amilcar de Castro, Waltércio Caldas e Tunga. Para finalizar, um pouco de Adriana Varejão, Carlos Fajardo e as figuras nordestinas de Mestre Vitalino, abrigadas pelo Museu do Pontal, no Rio.

Uma boa a- mostra da arte contemporânea exibida na série também está restrita a colecionadores: divide-se entre a propriedade do colecionador Bernardo Paz, na cidade de Brumadinho, em Minas, e na casa de Dulce e João Carlos Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto.

A idéia do cineasta, que teve como diretor de fotografia o artista plástico Mario Carneiro, foi não só expor as obras, mas também explicar didaticamente como se deram as diferentes etapas da história da arte nacional. Para tal, ele ouviu críticos, curadores e professores universitários.

O próprio Viana aprendeu muito com o que viu. ‘Era um ignorante em artes plásticas. Descobri bastante coisa e me surpreendi, principalmente com os pintores do século 19. Muitos eu conhecia só de ouvir falar.’ O diretor procurou filmar as peças lentamente, para dar tempo ao espectador de apreciá-las. ‘A edição é contemplativa’, resume. Os filmes, realizados já no formato para TV, têm 25 minutos e vão ao ar aos sábados, a partir de amanhã.’