‘A cidade de São Paulo viveu no fim de semana passado um evento que reuniu 3,5 milhões de pessoas, divididas por 350 atividades em 80 lugares. São números da prefeitura, a promotora da Virada Cultural.
No oceano de apresentações que duraram 24 horas, o destaque da Folha foi o maremoto ocorrido na praça da Sé na madrugada de domingo, quando o grupo de rap Racionais MC´s se exibia para uma platéia de 35 mil.
Confronto da Polícia Militar com fãs da banda pôs fim ao show, deixou dez feridos e provocou destruição.
Até a sexta o jornal não esclarecera o motivo do tumulto. Na segunda, a Ilustrada contou: ‘A confusão começou [quando] um grupo subiu numa banca de jornal e outros espectadores invadiram a sacada de um apartamento. A polícia tentou retirar as pessoas e passou a ser atacada pelo público com latas, garrafas e outros objetos’.
Em seu blog, o jornalista Xico Sá, colunista da Folha, escreveu que estava ‘colado’ à banca: ‘[Os PMs] não foram atacados. […] Somente depois de vários tiros para cima, bombas de gás lacrimogêneo, chuva de gás pimenta e um massacre de cassetete no lombo da platéia, uma garrafa PET foi atirada em direção aos homens de farda’.
A Folha não publicou o testemunho do colunista. Um leitor disse ao ombudsman que, na verdade, fazia horas que jovens estavam sobre a banca.
O jornal registrou declaração de oficial da PM, segundo o qual ‘os integrantes dos Racionais incitaram o público contra os policiais’. E reproduziu afirmação do vocalista Mano Brown: ‘Vamos continuar, essa festa é nossa, vamos ignorar a polícia’.
O relato não dá conta dos incontáveis apelos por tranqüilidade feitos pelo artista, como se assiste em numerosos vídeos na internet. Os leitores da Folha não souberam quem deflagrou o conflito -se os mesmos baderneiros do quebra-quebra ou a PM tantas vezes inepta.
Outro problema da cobertura foi ofuscar a dimensão da Virada, embora lhe concedesse espaço. O título da capa da Ilustrada traduz a prioridade: ‘Confusão e festa’. Melhor seria ‘Festa e confusão’.’
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‘Lula e Alkmin, dois pesos’, copyright Folha de S. Paulo, 13/05/07.
‘O ‘Painel’ deu informação exclusiva na terça: ‘Parecer de técnicos do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] recomenda a rejeição das contas de Geraldo Alckmin na campanha presidencial de 2006. O tucano não movimentou a conta de candidato, deixando o fluxo de dinheiro a cargo de seu comitê, o que é irregular, segundo corpo técnico do tribunal’.
O ‘furo’ não ganhou citação na primeira página. Nos dias seguintes, o jornal não publicou reportagem alguma. Nem ouviu Alckmin. Na quinta, o ‘Painel’ dedicou mais duas notas ao assunto.
No dia 6 de dezembro passado, o segundo título mais destacado na capa da Folha foi ‘Laudo do TSE rejeita contas da campanha do presidente’. Em página interna, a novidade recebeu justa atenção. Trecho da chamada: ‘Se vencer a rejeição [no plenário do TSE], a posse do eleito é impedida’.
Em 13 de dezembro o jornal manchetou ‘TSE rejeita contas do comitê de Lula’. E sublinhou: ‘Diplomação do petista é mantida’. O parecer sobre Lula, presidente reeleito, era mais importante que o relativo a Alckmin, derrotado.
Mas creio que a Folha errou ao minimizar a informação desta semana. Ela merecia exposição na primeira página e reportagem. O apartidarismo é princípio editorial que implica equilíbrio no noticiário.’
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‘Sóbria, cobertura escapa ao oba-oba’, copyright Folha de S. Paulo, 13/05/07.
‘‘A Folha pareceu nos últimos anos se sair bem na maioria das ‘grandes coberturas’ e deixar a desejar no noticiário do dia-a-dia.’
Foi o que comentei na crítica diária da segunda-feira, distribuída à Redação e acessível sem restrições aos leitores na Folha Online (www.folha.com.br/ombudsman). Era o prólogo para elogiar o inspirado caderno de domingo sobre religião.
O jornal já tinha ido bem nos meses que antecederam a visita do papa Bento 16, com os repórteres Rafael Cariello e Leandro Beguoci empenhados em acompanhar a Igreja Católica. Eles anteciparam a escolha de dom Odilo Scherer para arcebispo de São Paulo.
Além das revelações exclusivas, como o acordo que o Vaticano busca com o Brasil, houve um mérito especial: manter a sobriedade em um noticiário sensível.
Assim como o Estado é laico, o jornal deve exercer a independência em relação à igreja -que já tem o seu diário, ‘L´Osservatore Romano’.
A ‘grande cobertura’ fugiu ao oba-oba, porém teve tropeços (aponto-os nas críticas na internet). Na sexta, dava a impressão de overdose informativa, mas sem comprometer o bom trabalho jornalístico.
A Folha deveria retomar a cobertura sistemática de religião -de todas elas.’
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‘Folha esconde Galo, Grêmio e novos campeões’, copyright Folha de S. Paulo, 13/05/07.
‘Poucos temas motivaram protestos tão irados dos leitores nesta semana como o minúsculo espaço que a Folha reservou na segunda-feira às decisões dos campeonatos estaduais de futebol.
Eles têm toda a razão.
Os triunfos dos Atléticos (o de GO e o Galo de MG), Grêmio (RS), Paranavaí (PR) e Vitória (BA) receberam, cada um, míseras 11 linhas.
O título da Portuguesa na segunda divisão paulista, obtido após longo ‘jejum’, foi anunciado pela legenda de uma fotografia.
Somados, os feitos dos campeões mineiros, gaúchos e paranaenses não mereceram as 35 linhas publicadas sobre a conquista do Manchester na Inglaterra (nada contra esta notícia, que na era da globalização esportiva valia ainda mais destaque).
O leitor-torcedor, tendo ou não assistido aos seus times nas finais, nos estádios ou na TV, esperava que o jornal trouxesse um bom resumo dos confrontos do fim de semana. Ao abrir a Folha, deparou-se com notas condenadas ao rodapé de página.
O diário mais nacional não pode pensar que o país tem o tamanho de São Paulo. Nem esquecer os leitores de outras terras que vivem no Estado.’