Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Máximas de João, o pensador

O roqueiro João Gordo não manda beijos, como Jô (‘um beijo do gordo!’). Manda palavrões mesmo, gestos obscenos, risadas grotescas. Um dos apresentadores mais populares da MTV Brasil, com suas entrevistas sinceramente selvagens, ou selvagemente sinceras… E acaba de publicar um livro: A consciência do gordo (Editora Jaboticaba, 2005), em que reúne seus pensamentos, suas opiniões, autenticidade total.

Se Boris Casoy denuncia diariamente, sem vergonha, o que considera uma ‘vergonha!’, se Luciana Gimenez tem espaço de sobra para os seus comentários atrapalhados, se Ratinho promove aquela gritaria despropositada, se José Luiz Datena reincide na queixa pela queixa, se Hebe Camargo repete ano após ano suas conversas insubstanciais, se Luciano Huck consegue nos cozinhar no caldeirão a fogo lento, se o Fausto Silva considera todos os seus convidados os maiores cantores e atores do planeta, se João Kleber continua vulgarizando a vulgaridade, se Xuxa continua promovendo a ‘educação infantil’, se Gugu Liberato continua cultivando o seu lado de bom moço à nossa custa, se Gilberto Barros, se Silvio Santos, se Márcia Goldschimidt, se Marília Gabriela, se Adriana Galisteu, se Pedro Bial… enfim, se tantos têm o direito de dizer o que pensam e o que deixam de pensar, por que iríamos desvalorizar a cabeça de João?

João-ninguém

A cabeça de João vai a mil. ‘Meu cérebro tá girando fora de órbita!’ – grita João, dizendo o que muitos poderiam assinar embaixo, caso tivessem a cabeça no lugar.

João diz o que acha, sem esconder que se considera um perdido. Se um moleque que está iniciando carreira chega e pergunta o que ele achou do CD: ‘E aí, João, gostou do CD?’, João responde: ‘Achei uma merda’. Perde um possível amigo, mas ganha nota 10 em coerência. Nota zero em eufemismo. Nota zero em hipocrisia.

Sobre notas e provas, sobre qualidade de ensino, João tem tudo a dizer. Retrato falado da realidade educacional de uma geração, a diferença é que ele assumiu, sem constrangimento, ser vítima da calamidade: ‘A escola ideal, pra mim, é a escola da vida, escola da rua. Você aprende as coisas que vai usar na vida’.

Colegial (ensino médio) incompleto: ‘Tudo o que eu aprendi, esqueci. Cultura inútil’.

A solução, porém, ele desconhece ter: ‘Do que era interessante eu ia atrás. Tinha assuntos que eu queria me aprofundar mais, como egiptologia da Babilônia. Se você gosta, você vai atrás’.

Pedagogia revolucionária: descobrirmos o que fará o aluno tornar-se quem ele realmente é. Mesmo que venha a ser um joão-ninguém, alguém com poder de comunicação e de verdade – João Gordo.

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Doutor em Educação pela USP e escritor (www.perisse.com.br)