Quem quiser que tenha memória: O Liberal não tem. Em defesa dos seus interesses comerciais, está disposto a dizer uma coisa num dia e desdizê-la no outro, sem constrangimentos. Para não atacar diretamente – e sistematicamente – a governadora Ana Júlia, ao menos enquanto ela permanecer em cima do muro (ou do lado de sempre, ao lado dos Maiorana), atacam seus aliados. Quando a pressão exige uma estocada mais direta, num dia o jornal morde e exatamente no outro, assopra (como fez na coluna ‘Repórter 70’ com o novo secretário de cultura, ironizado por seu gerúndio e exaltado por suposto apoio ao teatro).
Na roleta russa voltada contra terceiros, o foco imediato é o ‘Jader Gazeteiro Barbalho’, que tenta conquistar a primeira posição de força no jogo do ano colocando ‘Domingos Cheio-de-Processos Juvenil’ na presidência da Assembléia Legislativa, conforme os dois políticos passaram a ser tratados pelo ‘R-70’, na escalada de ataque.
Para evitar a consumação desse movimento estratégico, O Liberal não hesita em hostilizar os aliados de ontem (a ideologia do deputado Afonso Sefer passou a ser a dos seus quatro hospitais, até então poupados de qualquer perturbação investigativa) e exaltar os nem tão próximos de ontem (o vice-prefeito de Belém, Manoel Pioneiro, virou quase-estadista por sua pretensão de terçar armas com Helder Barbalho em Ananindeua, embora os dois estejam conversando).
Nessa voragem, O Liberal corre o risco de entrar na linha de tiro da sua própria metralhadora giratória (e cega). Num dia atacou o concorrente Diário do Pará por aceitar propaganda da Clean, a empresa de limpeza visada pela Operação Rêmora, da Polícia Federal, que prendeu vários peixes pequenos do desvio de dinheiro público e um pescado maior, Marcelo Gabriel, filho do ex-governador Almir Gabriel. No outro dia, O Liberal nem piscou ao fazer o mesmo, aceitando propaganda da Clean sobre o aniversário de Belém.
Parece que, apesar das origens, os Maiorana da segunda geração nunca leram Maquiavel. Ou qualquer coisa.
Sangue
O Liberal e o Diário do Pará abriram uma nova frente de competição para saber de qual dos dois jornais sai mais sangue. O noticiário da folha dos Maiorana, que era até mais comedido, agora degringolou para a barbárie. Deve ser para justificar o espaço que reserva ao noticiário policial, o dobro do concorrente. Numa das edições, a primeira página do caderno tinha dois enormes presuntos. Coloridos, of course.
Presunto, na linguagem do setor, é cadáver. A ética foi para a geladeira também.
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Jornalista, editor do Jornal Pessoal