Um conhecido advogado condenado por estupro e assassinato; políticos presos por corrupção; guardas suspensos por aceitarem dinheiro para ajudar em uma fuga. Estes são exemplos de casos que só tiveram este desfecho graças à mídia indiana, que está tentando resolver as falhas de um sistema judiciário sobrecarregado e de uma polícia corrupta. ‘Acho que é o início da era da mídia indiana. Quando as instituições não funcionam, a sociedade civil tem de agir. Eu apoio totalmente as campanhas feitas pela mídia para fazer justiça com aqueles que a tiveram negada’, opina Poonam Saxena, crítico de mídia do jornal Hindustan Times.
Esta semana, uma campanha feita pela mídia ajudou na condenação do assassino da estudante Priyadarshini Mattoo, estuprada e espancada até a morte em 1996 por Santosh Kumar Singh, advogado filho de um ex-policial. A Alta Corte de Nova Déli condenou Singh a sete anos de prisão, depois que uma corte o havia inocentado. ‘Não sei nem como agradecer à mídia. Se não fosse por ela, perderíamos o espírito e a batalha’, disse o pai da estudante.
Ativismo midiático…
Antes de o caso de Priyadarshini ganhar destaque nas manchetes dos jornais, a mídia havia apoiado o caso da modelo Jessica Lall, supostamente morta com tiros por um filho de um político em Nova Déli em 1999 porque recusou-se a lhe servir uma bebida em um bar. Todos os acusados no caso foram inocentados, mas um protesto público, com a mídia liderando a campanha, forçou a polícia a voltar à corte com uma nova apelação.
‘Acho que o jornalismo tem de ter algum tipo de ativismo’, afirma Rajdeep Sardesai, editor-chefe do canal CNN-IBN, um dos que fizeram campanha para os casos da estudante e da modelo. ‘Não acredito em mídia passiva. Estamos apenas fazendo perguntas. Estamos apenas fazendo o que deveríamos estar fazendo’.
Alguns críticos, no entanto, atentam para os riscos de campanhas midiáticas. ‘A intervenção da mídia sem uma séria investigação pode ser perigosa’, alertou o advogado P.N. Lekhi. ‘Há poucas evidências nestas intervenções’.
Singh foi condenado à morte, um veredicto apoiado pela maior parte dos indianos – o que preocupa jornais como o Times of India, que é contra a pena de morte. ‘Uma sociedade consumida pela raiva facilmente confunde punição e vingança. A mídia encoraja estas atitudes’, dizia o editorial do diário.
…ou sensacionalismo?
Com dezenas de canais de TV na Índia, a competição por audiência é grande. Alguns canais usaram câmeras escondidas para filmar políticos e guardas na prisão de segurança máxima aceitando dinheiro. ‘Isto nada mais é do que uma armadilha, com o único propósito de aumentar o índice de audiência’, opina Saxena. Informações de Palash Kumar [Reuters, 1/11/06].