Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Mídia, futebol e a regra do jogo

A confusão entre Neymar e o ex-treinador do Santos, que resultou na demissão do último, rendeu milhares de linhas, mas é apenas um sintoma. O mal na verdade é bem outro.

Apesar de todas as bobagens que são ditas por torcedores, jogadores, dirigentes e jornalistas, os clubes de futebol são empresas que produzem jogadores e visam ao lucro. Dos meninos que passam nas peneiras e treinam, apenas alguns chegam a se tornar jogadores profissionais. Entre estes, apenas poucos serão famosos e se tornarão realmente valiosos.

O patrimônio circulante dos clubes são os jogadores muito valiosos ou potencialmente lucrativos. Os jogadores são homens livres, mas os passes deles são coisas imateriais comercializadas livremente dentro e fora do país. E, a exemplo de qualquer industrial e comerciante, os clubes não queimam seus estoques.

Por pior que seja o comportamento do jogador valioso ou potencialmente lucrativo, o clube não vai deixar de conferir-lhe prestígio e tratamento diferenciado. Não fazer isto poderia reduzir seu valor de mercado, que é o que realmente interessa ao clube/empresa.

O comportamento poderia ser diferente?

Os técnicos conhecem a regra do jogo. Eles sabem que são e sempre serão os culpados em situações análogas às que envolveram Neymar e Dorival. E é para isto, aliás, que os técnicos ganham fortunas e estão condenados a vagar entre um clube e outro como se fossem os judeus medievais, sempre de feudo em feudo.

Neymar ganha por mês o que eu não ganho como advogado em 10 anos de trabalho. Não digo isto porque estou insatisfeito com minha vida profissional e econômica. Até porque eu era advogado antes dele ser jogador e provavelmente serei advogado depois que ele se aposentar. Além disto, eu tenho 45 anos e na verdade nem saberia o que fazer com o salário mensal do Neymar.

O fato é que Neymar é um garoto e garotos são caprichosos. E a mim me parece que garotos que ficam ricos tão rapidamente tendem a ser mais caprichosos ainda. Neymar vai melhorar? A questão não é esta. A questão é a seguinte: o comportamento de Neymar poderia ser diferente?

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Advogado, Osasco, SP