Qual o valor de um dossiê? Qual o valor de uma foto? Qual o valor de uma reportagem? Seria isso jornalismo? A reta final da campanha eleitoral revelou, afinal, a sanha dos que disputam o poder, acenando desesperadamente com o magro osso democrático que resta ao eleitorado – o último (ou nunca) beneficiado em qualquer história.
E pelo visto, o preço da democracia parece sujeito a manipulações de toda ordem – das mais sutis às mais abusivas num jogo discursivo e imagético – na arena principal da TV, sob o manto de um (pseudo)jornalismo.
Quem assistiu ao Jornal Nacional de sexta-feira (29/9) percebeu o intuito democrático e prestativo da “Vênus Platinada” nas reportagens sobre os bastidores do debate (ao qual o presidente/candidato Lula não compareceu) de quinta-feira e pôde ver principalmente a repercussão sobre a divulgação das fotos do dinheiro usado para a compra do dossiê “sanguessuga”.
Há muitas questões sem respostas – e as imagens sempre exercem grande impacto na sociedade. O jornalismo poderia ajudar a degluti-las, entendê-las, e também a compreender os propósitos, por exemplo, de não terem sido divulgadas antes, mas só agora, às vésperas do 1º turno – vazadas como foram para a imprensa. Em questões de ética nossos homens públicos parecem se equivaler – e valem-se de quaisquer meios.
A mídia não parece isenta de fazer escolhas – mas não deve esquecer qual o seu papel (tanto apregoado) numa sociedade verdadeiramente democrática, independentemente de seus matizes. Convocado a exercer seu direito ao voto, o eleitor vê-se no centro de um jogo de acirrada disputa, onde faltam idéias e clareza e sobram interesses e paletas variadas – depois do pleito a vida volta à cor da realidade.
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Funcionário público, Jaú, SP