Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo Quarta-feira, 1º de julho de 2009 HONDURAS
Militares prendem jornalistas
‘Pelo menos sete jornalistas estrangeiros já foram detidos por militares em Honduras, embora todos tenham sido libertados horas depois. Pela internet, circularam ontem e-mails denunciando que jornalistas hondurenhos também teriam sido presos e ameaçados.
A Federação Internacional de Jornalistas condenou os ataques contra a imprensa como ‘violações flagrantes’ da liberdade de expressão e denunciou a agressão de alguns profissionais.
Nos últimos dias, emissoras de TV, rádios e alguns jornais locais foram ocupados por militares. O governo de facto também suspendeu, por algumas horas, as transmissões da rede americana CNN e da Telesur, controlada pelo governo venezuelano. Na segunda-feira, cerca de dez soldados invadiram o hotel onde trabalham jornalistas da agência de notícias ‘Associated Press’ e da Telesur. Eles desligaram seus computadores e os prenderam por algumas horas.~
LITERATURA
Diversidade cultural inspira a Flip
‘O número de escritores diminuiu (de 41 do ano passado para 34) e o orçamento previsto (R$ 5,9 milhões, captados por meio de leis de renúncia fiscal) foi fechado à custa de muito suor, por conta da crise econômica mundial – há um mês, nem todos os patrocinadores haviam confirmado sua participação. Mesmo assim, a 7ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, começa hoje com a imagem intacta: continua como o principal evento de literatura do País, tanto pela qualidade de programação como pelo interesse de público.
‘O propósito sempre foi o de buscar a diversificação, evitando que a Flip se transformasse em uma reunião de acadêmicos’, comenta Flávio Moura, curador do evento desde o ano passado, justificando a eclética programação deste ano – além de figuras renomadas da literatura (como o professor Davi Arrigucci Jr., que faz hoje a conferência de abertura sobre Manuel Bandeira, ou o português António Lobo Antunes), também estarão na Tenda dos Autores quadrinistas (como o premiado Rafael Grampá), cineasta (Domingos Oliveira), biólogo evolucionista (Richard Dawkins), artista plástico (Sophie Calle), crítico de arte (Catherine Millet) e jornalistas (Gay Talese, Zuenir Ventura).
A diversidade, no entender de Moura, se justifica pelo fato de que a literatura não serve como único parâmetro como medida do valor da produção de conhecimento atual. Nesse raciocínio, justifica-se, portanto, a volta do músico, cantor e escritor Chico Buarque de Holanda que, neste ano, lançou o romance Leite Derramado (Companhia das Letras), e cuja mesa, ao lado do escritor e colunista do Caderno 2 Milton Hatoum, transformou-se na mais disputada do evento.
Assim, evitando ser um evento congelado no tempo e fechado, a Flip inspira-se na atualidade para conseguir uma conexão mais imediata com seu público. Os 20 anos do massacre da Praça da Paz Celestial, na China, por exemplo, motiva a obra Pequim em Coma (Record), de Ma Jian.
O crescimento da Flip é um dos assuntos recorrentes a cada edição. A primeira, realizada em 2003, ocupou a Casa de Cultura de Paraty. A capacidade para 178 espectadores, no entanto, logo se revelou pequena, solucionada no ano seguinte com a construção da Tenda dos Autores que, desde então, se mantém com uma média de 550 assentos.. ‘E, para garantir o conforto do público e também dos convidados, esse número não cresce, apesar da procura ser cada vez maior’, explica Moura.
A solução foi diversificar o entorno, ou seja, incrementar os eventos paralelos que, inicialmente tímidos, agora ocupam posição de destaque durante os cinco dias literários. É o caso da programação do Flip-Etc. que, neste ano, passa a se chamar Flip – Casa da Cultura. A partir de amanhã, o tradicional espaço de Paraty será ocupado por importantes discussões como a do centenário de morte de Euclides da Cunha, mesa promovida pelo Estado (leia abaixo).
Também lá, o público terá a chance de conversar com franceses como David Foekinos e Ollivier Pourriol (amanhã). Ou ainda acompanhar discussões sobre o cinema, como no encontro de Pedro Buarque de Holanda com Rita Buzzar ou no debate sobre o papel dos roteiristas na atualidade, eventos programado para sexta-feira.
O trabalho com as crianças continua ativo na Flipinha, que desenvolve uma programação educativa na formação de leitores – neste ano, Ruth Rocha comemora seus 40 anos de carreira em atividades com seu público infantil. E, para saciar aqueles leitores intermediários, que já deixaram a infância mas ainda não atingiram a maturidade, foi criada a FlipZona, com oficinas de produção e edição de áudio e vídeo, caracterização teatral, entre outros eventos.
Para o próximo ano, alguns patrocinadores prometem aumentar sua ação. Como o Itaú que, depois da fusão com o Unibanco, tornou-se também incentivador – pelo seu projeto Itaubrasil, vai distribuir gratuitamente, via online, mais de 30 obras literárias que já caíram em domínio público.’
TELEVISÃO
Fora da ordem
‘Estratégia de audiência ou não, a Globo descumpriu o horário determinado para a exibição de pronunciamento oficial do governo anteontem.
Segundo determinação da Secretaria de Comunicação Social (Secom), o pronunciamento do ministro Altemir Gregolin, da Secretaria de Aquicultura e Pesca, deveria ir ao ar, em rede nacional, entre 20h e 21 horas, segundo horário de Brasília. Assim foi em todas as emissoras, exceto na Globo.
A rede, que costuma exibir pronunciamentos oficiais logo na abertura do Jornal Nacional, antecipou o comunicado do ministro. Em algumas praças,Gregolin apareceu no ar às 19h46. Ontem à noite, algumas emissoras já reclamavam do livre arbítrio da Globo junto à Secom e ao Ministério das Comunicações.
A Globo admite que exibiu o pronunciamento antes, mas justifica o fato pela diferença entre fusos horários. O caso é que em São Paulo, que tem o mesmo fuso de Brasília, o comunicado também foi ao ar mais cedo. A Secom diz que a punição , se houver, cabe ao Ministério das Comunicações. Procurada, a assessoria do MC não se manifestou até o fechamento desta edição, às 14h30.’
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Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 1º de julho de 2009
SARNEY
Teflon ao contrário
‘BRASÍLIA – Ao ler a longa carta do presidente do Senado, José Sarney, publicada ontem pela Folha, lembrei-me de uma frase repetida à náusea nos corredores do Congresso: em política, tudo o que precisa ser explicado não é bom.
Sarney está se explicando há meses. Quanto mais fala, mais se complica. Num discurso na tribuna, produziu uma frase de efeito, porém inócua: ‘A crise do Senado não é minha, a crise é do Senado’..
As justificativas de Sarney sempre pretendem demonstrar uma suposta legalidade para seus atos.
Mas a argumentação resulta manca, fica pela metade, mesmo para os episódios mais prosaicos.
Tome-se o caso do auxílio-moradia. Sarney recebeu o benefício mesmo tendo residência própria em Brasília. Em sua carta à Folha, repetiu uma argumentação conhecida: ‘Trata-se de vantagem concedida nas normas da Casa aos senadores, e só a recebi por oito meses, sem solicitá-la’. Ato contínuo, cabe então uma pergunta inexorável: já devolveu o dinheiro?
A história do auxílio-moradia tem baixa octanagem no tabuleiro dos escândalos, mas é simbólica pela sua simplicidade. Alguém recebe dinheiro por oito meses (cerca de R$ 3.000 por mês). Diz não perceber. O caso fica público. Sarney foi indagado pela Folha à época se devolveria o dinheiro. Respondeu com uma digressão -assessores analisavam o assunto.
Ontem, finalmente soube-se que o dinheiro será pago. Mas não de uma vez. Será descontado em prestações mensais do contracheque de Sarney. Pode ser tarde.
A profecia do presidente do Senado provou-se errada, pois a crise é hoje mais sua do que de nenhum outro político. Talvez por conta do seu passado, Sarney transformou-se numa espécie de ‘teflon ao contrário’. Nele, tudo cola.’
Mônica Bergamo
Sarney em capítulos
‘A biografia de José Sarney, que já tinha sido finalizada, com 25 capítulos e 600 páginas, está sendo atualizada pela jornalista Regina Echeverria. De acordo com Pascoal Soto, da editora Leya, que vai publicar o livro, a obra ‘tem muito o que dizer ainda’ sobre a vida do senador.
CORRENTE
O livro de Echeverria, uma das principais biógrafas brasileiras, com seis livros publicados (sobre Elis Regina, Cazuza, Gonzaguinha e Gonzagão, Mãe Menininha e Pierre Verger), terminava na eleição de Sarney para a presidência do Senado. A autora vai agora incluir os capítulos da crise no Parlamento. A data de lançamento deve ser mantida: entre outubro e dezembro deste ano.’
JORNALISMO
Comissão irá propor estágio obrigatório
‘A comissão de especialistas que analisa mudanças no curso de jornalismo irá propor um estágio obrigatório para quem quiser obter o diploma.
A ideia será levada na semana que vem ao ministro Fernando Haddad (Educação) pelos oito professores universitários que ele convocou para analisar o currículo do jornalismo.
A comissão quer também ampliar a carga horária do curso de 2.700 horas para 3.200, já com 200 horas do estágio obrigatório.
Também será recomendado às universidades que abram mais mestrados profissionais (com mais ênfase na prática) após o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. Serão propostas diretrizes curriculares específicas para o curso de jornalismo, hoje tratado apenas como uma habilitação da área de comunicação social.’
TODA MÍDIA
Isenção e eleição
‘O demo José Agripino Maia, via Twitter, postou que ‘a isenção das investigações recomenda a licença do presidente Sarney’. Na submanchete do UOL, depois, ‘DEM decide pedir afastamento temporário de José Sarney’. Mais um pouco e, na manchete da Folha Online, a colunista Mônica Bergamo informou que ‘parte da família e amigos mais próximos devem aconselhá-lo a se afastar’.
Ecoou no espanhol ‘El País’, destacando que a ‘oposição sabe que Sarney é chave para o apoio do PMDB a Dilma Rousseff e aproveita sua fraqueza com vistas à eleição presidencial’.
‘CARA…
Após a glória de ocupar os ‘trending topics’ do Twitter com #chupa, o Brasil passou vexame com uma segunda tentativa, recorrendo ao ator Ashton Kutcher, recordista do site. Vídeo postado por Carlos Cardoso denunciou o esforço de ‘um grupo de subcelebridades’ para levar o ator a postar #forasarney, ‘só para tomar lição de cidadania do sujeito que fez ‘Cara, Cadê o meu Carro?’.
CADÊ O MEU CARRO?’
Junior, o irmão de Sandy, Marcos Mion e alguns outros importunaram Kutcher até ele reagir: ‘Só VOCÊS têm o poder de afastar seu senador, é o SEU país’.
O site americano Politico, por coincidência, questionou que a Casa Branca pediu e o mesmo Kutcher linkou vídeo de Barack Obama em seu Twitter, para o Dia Nacional do Teste de HIV, realizado no último sábado..
OS EUA MUDARAM
Os enunciados sobre Honduras seguiam conflitantes e vagos, ontem, do ‘El País’ ao ‘New York Times’. No meio dos textos, indícios de acordo, com o presidente Manuel Zelaya discordando de Hugo Chávez -e dizendo que ‘os EUA mudaram bastante’, sobre o apoio de Barack Obama à sua volta ao poder.
Mas ecoava lá e cá um artigo da ‘Foreign Policy’, por Kevin Casas-Zamora, que foi vice da Costa Rica e integra a instituição Brookings, influente sobre Obama. Diz que Zelaya ‘tem que ser reinstalado’, mas os EUA precisam arrancar dele e dos demais uma pausa, pois a ‘destruição da democracia’ avança pela região.
FIDEL & HILLARY?
Isolado por aqui no apoio ao golpe em Honduras, o blog de Reinaldo Azevedo na ‘Veja’ argumentou ontem com texto da ultraconservadora Mary O’Grady publicado no ‘Wall Street Journal’, em defesa dos ‘patriotas hondurenhos’.
Pelo enunciado original, ‘Honduras defende a sua democracia, Fidel e Hillary Clinton são contra’.
NÃO É MAIS TEMPO
A ‘Foreign Policy’ reagiu ao mesmo texto do ‘WSJ’ postando estudo que aponta como, sem a rivalidade da Guerra Fria, ‘as potências ocidentais toleram menos’ golpes e ditaduras.
Em direção semelhante, o espanhol ‘El País’ postou em sua submanchete, ontem, a análise ‘Não é mais tempo para golpes’.
EUA SAEM, CHINA ENTRA
Nas manchetes de ‘NYT’ e outros, no meio da tarde, o início da retirada dos EUA do Iraque, marcado por um carro-bomba. Logo abaixo, ‘China avança em leilão do petróleo no Iraque’. A retirada coincidiu com a licitação, mas as companhias rejeitaram os valores mínimos e saiu só uma área, para a chinesa CNPC. ‘Na semana passada, a gigante chinesa Sinopec’ já havia comprado a Addax, com poços no Curdistão, norte do Iraque.
Na mesma linha, no topo das buscas pelo Yahoo News, ‘Banco de Desenvolvimento da China planeja se instalar no Brasil’ e ‘investir em energia’.
CHINA ADIA CENSURA
Nem Iraque nem Honduras, a manchete on-line do ‘China Daily’ ontem era ‘China adia instalação do Green Dam’. Foi manchete também de ‘Guardian’ e ‘Financial Times’e destaque por ‘NYT’, ‘WSJ’ etc. É o ‘filtro de internet’ que Pequim exigiu de todos os fabricantes de computadores -e causou reação americana e campanhas dos ‘netizens’, os internautas chineses. O adiamento, alegando problemas de ‘instalação’, foi visto como um gesto de deferência aos EUA.
Mas as gigantes Lenovo, Sony, Dell e HP se recusaram a informar se já começaram a fabricar aparelhos com o ‘software censor’.’
TELEVISÃO
Daniel Castro
Na Record, Gugu Liberato terá jatinho à disposição
‘Mais nova estrela da Record, Gugu Liberato terá à disposição na emissora um jatinho para viagens de emergência.
A ideia da cúpula da Record é que o próprio Gugu viaje para apresentar seu programa diretamente do local de grandes e recentes fatos. Por exemplo, se algo acontecer no domingo em Manaus, Gugu poderá usar o jatinho para ir até a cidade e apresentar o programa ao vivo de lá.
O jatinho que ficará à disposição de Gugu é da Alliance Jet, empresa do bispo Edir Macedo, dono da Record. Eventualmente, o apresentador poderá usar a aeronave para gravar reportagens no exterior.
Com quatro horas de duração, o ‘Programa do Gugu’ (este será o nome da atração, previsto em contrato) terá grande investimento no jornalismo, com entradas ao vivo de todo o Brasil e dos correspondentes internacionais. Nos bastidores da Record, teme-se que o ‘Programa do Gugu’ incorpore o ‘Domingo Espetacular’.
Gugu e Homero Salles, que era diretor-geral do ‘Domingo Legal’ até a semana passada, devem viajar nos próximos meses em busca de novos formatos e de ideias para os dois programas que realizarão na nova emissora. Além do ‘Programa do Gugu’, haverá um de entrevistas. Gugu quer visitar os estúdios de emissoras de TV da Europa e dos EUA para ver como talk-shows são feitos.
O programa de entrevistas deverá estrear na Record News e depois migrar para a Record.
A estreia de Gugu na Record, a princípio, deve ocorrer em abril.. Mas pode ser antecipada caso ocorra uma ruptura de seu contrato com o SBT..
ALTA DEFINIÇÃO 1
A Globo lançará suas mais recentes minisséries, ‘Capitu’ e ‘Maysa’, em discos de Blu-ray, tecnologia que reproduz vídeo em alta definição. Será em setembro..
ALTA DEFINIÇÃO 2
Inicialmente, a Globo visa os proprietários de PlayStation 3, console de game que roda Blu-ray. Estima que há mais PS3 nos lares brasileiros do que tocadores de Blu-ray.
ATO FALHO
Via Twitter, Luciano Huck parabenizou Marcelo Tas pelo ‘CQC’ de anteontem. Mas, pela segunda vez em menos de uma semana, chamou o programa de ‘CGC’. Desculpou-se dizendo que fazia várias coisas simultaneamente.
ASSÉDIO
Silvio Santos conseguiu impedir que dois dos cinco diretores de quadros do ‘Domingo Legal’ migrem para a Record. Além de aumento salarial, prometeu que eles dirigirão programas só deles.
SINAL DOS TEMPOS
Glória Perez colocou uma foto de uma garrafa de champanhe estourando em seu blog para comemorar o recorde de ‘Caminho das Índias’. Anteontem, a novela deu média de 46 pontos e picos de 50. Em ‘América’, novela anterior de Glória, esses números eram rotina.
DE PRIMEIRA?
Uma falha no ‘Jornal da Record’, anteontem, mostrou que o telejornal é quase todo gravado. A emissora não comentou.’
Luiz Fernando Vianna
Minissérie transforma vida intensa em obra esquemática
‘Quem quiser conhecer a fundo a história de Maysa (1936-1977) deve ler a excepcional biografia ‘Maysa – Só numa Multidão de Amores’, de Lira Neto.
A minissérie ‘Maysa – Quando Fala o Coração’, que foi ao ar em janeiro passado na Globo e está agora em DVD, é só um painel que usa expedientes esquemáticos para fazer caber em nove horas 40 anos de uma vida tão intensa.
O grande acontecimento da série é o acerto de contas que o diretor, Jayme Monjardim, faz com a mãe, que lhe foi tão ausente. É estranho ver na maior emissora de TV aberta do país um exercício que serviria melhor ao cinema ou ao teatro.
Mas é claro que não foi para ajudar na terapia de Monjardim que a Globo topou realizar uma produção tão cara, com reconstituições de época, locações no exterior e cenas que exigiam a destreza de um diretor de fotografia como Affonso Beato (trabalhos com Pedro Almodóvar e Stephen Frears).
A vida de Maysa já é um roteiro pronto. De uma família tradicional do Espírito Santo, casou-se aos 18 anos com André Matarazzo, 17 anos mais velho e integrante da então mais célebre das ricas famílias de São Paulo.. Insistindo em ser cantora -e compositora de músicas como ‘Meu Mundo Caiu’-, perdeu o apreço dos Matarazzo e o marido, com quem teve um filho, Jayme.
Dedicou-se à carreira de enorme sucesso, à bebida, às tentativas de suicídio, aos escândalos -muitos oferecidos por ela à imprensa, a quem culpava depois por tudo, como a série não cansa de repisar- e aos amores fugazes muito mais do que ao menino.
Com seus dois filhos (André e Jayme Matarazzo) lhe representando, numa superposição que torna o acerto de contas mais interessante, Jayme Monjardim cobra ter sido praticamente largado num internato da Espanha e crescido como órfão, já que o pai morreu cedo. A cena real do final, em que eles pedem perdão mútuo, é um alívio para diretor e espectador, mas também incomoda, pois Maysa morreu logo depois e os tempos de paz não vieram.
Larissa Maciel usa os grandes olhos e a voz mais grave do que tem de fato como trunfos para construir a protagonista.. Manoel Carlos e Angela Chaves agem como roteiristas de um ‘filme de diretor’, sendo discretos. Usam bem trechos do diário da cantora, mas simplificam demais a trama, superestimando, por exemplo, o papel de Ronaldo Bôscoli. O uso de chavões como ‘o que me alimenta é a arte’ e o ritmo arrastado da metade final da série também esfriam a narrativa de uma vida para lá de quente.
MAYSA – QUANDO FALA O CORAÇÃO
Distribuidora: Globo Marcas/Som Livre
Quanto: R$ 70 (3 DVDs), em média
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: regular’
LITERATURA
Flip começa hoje; ingressos estão à venda só em Paraty
‘A 7ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começa hoje, às 19h, com uma palestra do crítico literário Davi Arriguci Jr. sobre Manuel Bandeira (1886-1968). Às 21h, Adriana Calcanhotto se apresenta, com abertura de Romulo Fróes e banda.
Segundo a organização, todos os ingressos para a Tenda dos Autores estão esgotados, assim como os ingressos para a Tenda do Telão das mesas de Chico Buarque e Milton Hatoum, Richard Dawkins, Gay Talese e António Lobo Antunes.
Desde anteontem, o site www.ingressorapido.com. br informava a possibilidade de compra para mesas anunciadas como esgotadas, como as de Chico e Dawkins. Segundo a organização, podem ser ingressos de vendas não concretizadas.
Hoje, a venda de ingressos (Tenda do Telão e Casa da Cultura a R$ 10; Tenda dos Autores, no caso de desistências, a R$ 30) só ocorre em Paraty, a partir das 9h. Não é possível comprar por telefone. Informações pelo tel. 4003-1212 (sem DDD).’
INTERNET
PirateBay vai ser vendido e pretende legalizar conteúdo
‘O comando do PirateBay, o mais famoso site de compartilhamento de filmes, músicas e games, que vive em guerra com a indústria audiovisual, vai trocar de mãos.
A empresa sueca Global Gaming Factory X, de cibercafés, anunciou ontem a compra por US$ 7,8 milhões (cerca de R$ 15,2 milhões), a ser concluída em agosto.
Foi uma surpresa. Três dias antes, os piratas anunciavam planos para seu portal de vídeos que concorreria com o YouTube.
‘O PirateBay precisa de um novo modelo de negócio’, disse o presidente-executivo da Global Gaming, Hans Pandeya. Sem apresentar detalhes, ele afirmou que pretende pagar a criadores, legalizando o site.
Peter Sunde, porta-voz dos piratas, disse que os fãs não devem se preocupar. ‘As pessoas certas, com atitudes certas, vão manter o site.’
Sunde e mais três diretores do PB foram condenados pela Justiça sueca, em abril, a um ano de prisão e pagamento de multa de US$ 3,6 milhões por cumplicidade na violação de direitos autorais Eles recorrem em liberdade.’
Daniela Arrais
Internet não é a culpada dos crimes
‘FISL – Confira entrevista com cofundador do Pirate Bay, site de compartilhamento de arquivos como músicas e filmes
Peter Sunde, 30, cofundador do Pirate Bay, foi tratado como estrela no 10º Fisl (Fórum Internacional do Software Livre), que ocorreu em Porto Alegre na semana passada.
Para os cerca de 8.200 participantes do evento, o sueco atua como um símbolo de defesa da liberdade na internet. Afinal, ele é um dos responsáveis por um dos sites de compartilhamento de arquivos mais acessados na rede.
Em entrevista exclusiva à Folha, Sunde afirmou que é preciso conscientizar mais pessoas para que elas se tornem ativistas em relação ao compartilhamento na internet. Quando indagado sobre os planos futuros do site, Sunde foi evasivo: ‘Muita coisa vai ocorrer ainda, mas não posso falar sobre isso’. Ontem, uma empresa sueca anunciou a compra do site.
FOLHA – A Justiça considerou que o juiz responsável pelo veredicto do Pirate Bay não foi tendencioso. Qual é o próximo passo que vocês darão?
PETER SUNDE – Eu vou soar como uma pessoa que nunca desiste.
Você já assistiu a Monty Python? Há um cara lá que não desiste nunca. Um juiz decidindo se outro juiz foi tendencioso já é tendencioso. Não podemos mais apelar. A única maneira de conseguirmos isso é recorrendo à União Europeia de Direitos Humanos. Agora vamos ver se a Anistia Internacional nos ajuda. É um processo que vai levar cinco anos, por aí. A decisão é totalmente errada. Eles estão falando sobre eles, e não sobre a situação.
FOLHA – Christian Engström, do Pirate Party, disse que a decisão mostra que a única maneira de vencer essa batalha é por meio da política. Você concorda com ele?
SUNDE – Nós precisamos mudar a política a longo prazo. A curto prazo, precisamos ser ativistas para quebrar o sistema ou modificá-lo para que ele funcione da maneira como deve funcionar. O que nós fazemos é desobediência civil legal. Nós não infringimos a lei. Nós fazemos coisas que ainda são legais e não devemos ser condenados. Temos que incentivar mais pessoas a agirem contra esse tipo de coisa. Precisamos de pessoas se rebelando e dizendo que isso é errado.
FOLHA – Você não teme ser preso?
SUNDE – Não serei preso. Vamos recorrer e vencer no final.
Até agora, o juiz não disse o motivo de nossa condenação.
FOLHA – Você acredita que as pessoas estão começando a ficar preocupadas com as consequências de seus atos na internet?
SUNDE – As pessoas estão de saco cheio de ouvir grandes corporações dizendo como elas devem agir. É ruim para a sociedade ter poucas companhias muito ricas dizendo como elas devem ou não devem agir. Não é produtivo. E o Pirate Bay se tornou o símbolo disso.
FOLHA – Você acha que advogados e juízes ainda não sabem lidar com questões ligadas à internet?
SUNDE – Eles não entendem sobre tecnologia. E ainda dizem que ela não é tão ou mais importante do que a lei. A maioria dos juízes é muito velha, provavelmente vai ser trocada, em breve, por novos juízes que têm experiência no assunto. A tecnologia de hoje em dia é muito avançada para aqueles que se formaram há 30 anos. Enquanto isso não acontece, temos que atuar como ativistas.
FOLHA – Como você enxerga as críticas de grandes corporações ao compartilhamento na internet?
SUNDE – Elas não têm opção. Ou mudam ou vão perder ainda mais espaço. Elas têm que adotar novas tecnologias, inventar outras também. Elas não têm um problema de dinheiro, mas um problema de controle. As vendas continuam altas, não tanto em suporte físico, mas elas ganham dinheiro com licenciamentos para televisão, rádio. Mais gente usa a mesma música em diversos suportes. No final, elas sabem que estão perdendo controle sobre como o conteúdo está sendo espalhado. E isso as assusta.
FOLHA – E a atitude dos artistas sobre o mesmo assunto?
SUNDE – São artistas que não produzem há muito tempo aqueles que se contrapõem ao compartilhamento de arquivos. Prince e Village People tentaram processar a gente. Nenhum deles está fazendo música desde os anos 1980.
Mas eles se incomodam por não vender coletâneas de melhores sucessos.
No entanto, sem a internet, os novos músicos não seriam nada -ela abriu possibilidades.
As pessoas não vão pagar pelo que já pagaram. Em que tipo de trabalho você ganha dinheiro toda vez que alguém usa o que você fez? É assim que o copyright atua. Por 70 anos, você paga todas as vezes que usar uma obra. Imagine se você tivesse uma casa e precisasse pagar US$ 1 a cada vez que entrasse nela? Não estou dizendo que as obras não devem ser pagas, mas sim que a forma como elas são pagas deve ser revista.
FOLHA – O que você achou da quase aprovação da lei antipirataria francesa?
SUNDE – O que aconteceu é realmente estúpido e mostra como os políticos não têm a menor ideia do que é a internet.
Se alguém entra na sua casa e rouba alguma coisa, você não consegue bloquear a rua por onde ele passou. O mesmo acontece com a internet. Se alguém faz algo supostamente ilegal, você não pode bloqueá-la. A internet não é a razão pela qual as pessoas cometem um crime, é apenas uma conexão.
Você tem que consertar os problemas da sociedade para que as pessoas não cometam crimes, e não dizer que o meio que elas usam para isso é ilegal. A internet é a forma de comunicação das novas gerações. Nenhum crime iria desconectar você da internet por um ano.
FOLHA – E como fica a imagem do presidente francês, Nicolas Sarkozy, após esse episódio?
SUNDE – Ele não liga para democracia. É um ditador. A mesma coisa ocorre na Itália. E são essas pessoas que estão decidindo como as pessoas se comunicam. Os governos conseguem maneiras fáceis de fazer vigilância, como ocorre na China ou na Coreia do Norte. Eles não entendem sobre liberdade e democracia, e sim sobre dinheiro e controle.
FOLHA – A política o atrai?
SUNDE – Não. Não entraria na política porque nunca seria organizado. Uma das coisas que eu mais quero combater é aqueles que dizem que somos [o Pirate Bay] organizados. Não somos. Somos desorganizados como o diabo. Acredito que não posso falar sobre os valores de outras pessoas nem sobre o que elas acreditam, por isso não poderia ser candidato. Quero que as pessoas pensem por si mesmas, se imponham.
FOLHA – Você costuma baixar muito conteúdo? Tem uma conexão rápida e muito espaço no disco rígido?
SUNDE – Baixo o que me der vontade. Minha conexão é bem rápida, como a da maioria das pessoas na Europa. Acho que um desafio de hoje em dia é lidar com a quantidade de informação disponível. Então, nem sempre armazeno tudo -baixo de novo quando dá vontade.
FOLHA – Se você fosse ouvido pela indústria do entretenimento, que conselho daria para que ela saia do estado em que está?
SUNDE – Diria para eles se inspirarem no Swedish Model (www.theswedishmodel.org), organização que reúne gravadoras para repensar o futuro da música. Em vez de brigar com a internet, eles querem usar as mil possibilidades que ela oferece. E, claro, conseguem ganhar dinheiro assim.’
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Empresa compra Pirate Bay
‘O Pirate Bay foi comprado ontem pela empresa sueca Global Gaming Factory X -o valor da transação foi de cerca de US$ 7,8 milhões. A empresa disse que vai ‘legalizar’ o site.
A empresa deve assumir o controle do site em agosto e espera desenvolver ‘novos modelos de negócio que permitam compensar produtores de conteúdo e detentores de direitos autorais’.
Em post no blog do Pirate Bay, os responsáveis afirmam: ‘Como todos sabem, não houve muitas novidades no site nos últimos dois, três anos. É essencialmente o mesmo site. Na internet, as coisas morrem se não evoluem. Não queremos que isso aconteça’.
Em abril, os quatro responsáveis pelo Pirate Bay foram condenados por promover infração de direitos autorais. A sentença foi estipulada em um ano de prisão mais multa de US$ 3,56 milhões para a indústria do entretenimento.’
Folha de S. Paulo
RapidShare é multado na Alemanha
‘O serviço de hospedagem de arquivos RapidShare foi condenado pela Justiça alemã a pagar uma multa de 24 milhões de euros (cerca de R$ 66 milhões), em razão de permitir o armazenamento de músicas protegidas por direito autoral.
O Tribunal Regional de Hamburgo determinou também que o site filtre esse conteúdo de modo mais efetivo.
A ação foi impetrada pelo Gema, órgão alemão de arrecadação e distribuição de direitos musicais, que pedia a retirada de 5.000 músicas disponíveis on-line.
‘A decisão indica que o serviço de hospedagem agora é responsável por verificar que nenhuma das músicas seja distribuída de modo ilegal no futuro’, afirmou a organização, segundo o site The Register.
O RapidShare é um dos sites mais usados no Brasil para hospedagem de arquivos -eram de lá muitos dos links encontrados na finada comunidade Discografias, no Orkut. A página, que tinha mais de 1 milhão de membros, foi removida em março por ação da APCM (Associação Antipirataria de Cinema e Música).’
Daniela Arrais
Projeto Tor permite navegação anônima
‘Em uma rua pacata em Porto Alegre, um pequeno restaurante vegetariano armazena um servidor que é capaz de embaralhar endereços de IP -conjunto de números que identifica cada dispositivo ligado à internet.
Um dos donos do restaurante, que reúne livros, pôsteres e postais sobre cultura livre, juntou-se ao projeto Tor (www.torproject.org), que tem como objetivo proteger usuários contra a análise de tráfego, uma forma de vigilância na internet.
Jacob Appelbaum, hacker de segurança na computação e um dos responsáveis pelo projeto, afirma que existem 16 servidores do Tor no Brasil. Por meio deles, um usuário de internet da China, por exemplo, consegue navegar anonimamente, driblando as restrições do governo.
‘Defendemos a liberdade, a privacidade. O Tor protege usuários de internet distribuindo suas comunicações ao longo de uma rede feita por voluntários’, disse à Folha.
O Tor ajuda a acessar sites e mensageiros instantâneos que são bloqueados por provedores locais de internet.
Os serviços escondidos, como são denominados, permitem que alguém atualize blogs ou sites sem necessidade de revelar sua localização.
Na última sexta-feira, no tal restaurante vegetariano, Appelbaum, Peter Sunde, do Pirate Bay, Elizabeth Stark, advogada especializada em cultura livre, e Seth Schoen, tecnologista da Electronic Frontier Foundation, entre outros, falaram sobre liberdade na internet -e, claro, sobre amenidades.
Na hora do brinde, com sucos e cervejas artesanais, todos ergueram os copos e exaltaram, em coro, sua filosofia: ‘À pirataria!’
RECORDE
A décima edição do Fisl contou com 8.232 participantes de todos os Estados brasileiros e de 27 países, segundo a organização do evento. A maior parte dos participantes foi de homens (62%). Mulheres foram 11%; não identificados, 27%.
SEM CONEXÃO
Um dos pontos criticados do evento foi a instabilidade da conexão Wi-Fi. Nos estandes era possível navegar. Em algumas salas, o sinal era fraco ou inexistente.’
‘Lei Azeredo quer fazer censura’
‘O presidente Lula afirmou, na última sexta, no Fisl, que ‘neste governo é proibido proibir’. Ele se referiu à Lei Azeredo, que tipifica crimes cometidos pela internet. ‘A lei que está aí não visa proibir abuso de internet. Ela quer fazer censura’, disse o presidente, que foi ovacionado por uma plateia de cerca de 300 pessoas.’
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