Na edição de sexta-feira (18/11), com direito a manchete na primeira página – ‘Dilma disse a Lula que ação de Palocci pára ministérios’ – o Estado de S.Paulo deu o que parecia ser um senhor furo de reportagem.
Dias antes da falada entrevista, também ao Estado, em que chamou de ‘rudimentar’ o plano de ajuste fiscal de longo prazo que a equipe econômica vem preparando, a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, tinha encaminhado a Lula um relatório com as queixas dos ministros à mão fechada do titular da Fazenda, Antonio Palocci, e os números comprovando a sua orientação de liberar só a conta-gotas, nas palavras da matéria, os recursos orçamentários do Executivo deste ano.
Como diria o Macaco Simão da Folha: ‘Buemba!’
Pois no dia seguinte (19), discretamente, no corpo da reportagem ‘Dilma diz que é Palocci, e não ela, quem está errado’, e num box intitulado, simplesmente, ‘A íntegra da carta de Dilma’, o jornal dá que ela desmentiu o relatório noticiado na véspera com grande destaque.
‘Nenhum relatório com o teor relatado pela reportagem foi produzido pela ministra Dilma Rousseff ou pela Casa Civil’, diz a correspondência, assinada por Aguinaldo Nogueira, da assessoria de imprensa do Planalto. ‘A Casa Civil é responsável pela articulação interministerial. Esta atribuição não transforma a ministra […] em porta-voz dos ministros.’
Decisão histórica
Em outra matéria, na mesma página A6, ‘Para Bernardo, debate é natural’, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, é citado como tendo dito ao correspondente do Estado em Curitiba, Evandro Fadel, que chegara a brincar com a ministra, quando conversaram pelo telefone: ‘Você costuma falar as coisas na lata e agora vai fazer [sic] relatório?’ Ao que ela teria respondido: ‘Eu não fiz relatório nenhum, não tem nada disso’.
Mais do que depressa, corri os olhos pela página e pelas seguintes em busca da reação do jornal ao desmentido. Nem uma única, solitária palavra: nenhuma contestação à ministra, nenhuma admissão de erro parcial ou culpa integral por uma ‘revelação’ de primeira página que ajudaria a entender melhor o tiroteio entre os dois mais importantes ministros de Lula. Silêncio sepulcral.
Parafraseando o inesquecível ‘Que país é este?’, do político arenista Francelino Pereira, é o caso de perguntar: ‘Que jornalismo é este?’
Não fez escola, infelizmente, a decisão histórica do então editor-chefe do Correio Braziliense, Ricardo Noblat. Num dia, ele deu na primeira página, com exclusividade, o que tinha tudo para ser uma notícia pedra 90. Desmentido, deu no outro dia, na mesma primeira página, em manchete: ‘O Correio errou’. [Postado às 12h26 de 19/11/2005]