Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ministro firme e conciliador

Na terça-feira (22/5), Jô Soares utilizou os dois primeiros blocos do seu programa para entrevistar Fernando Haddad. No final da conversa, interpretando o ‘aahhh’ da platéia, o apresentador concluiu que ali o ministro da Educação fora aprovado, e ‘aprovado com louvor’.

Embora mais jovem, o ministro Haddad pertence ao tradicional grupo dos intelectuais do PT, ao lado de Dalmo Dallari, Marilena Chauí, Paul Singer e Maria Victoria Benevides. Ao que tudo indica, porém, não foram seus textos que chamaram a atenção de Lula, mas sua capacidade de congregar pessoas em torno de projetos e objetivos. Tal virtude teria sido o motivo pelo qual o presidente o recomendou para acompanhar Tarso Genro na pasta da Educação.

Saindo do Ministério do Planejamento, onde atuava como dedicado assessor, Haddad destacou-se como o criador do ProUni (Programa Universidade para Todos), que tem beneficiado muitos estudantes da escola pública sem condições objetivas de cursar o ensino superior. Quando Tarso Genro foi convocado para apagar outros incêndios governamentais, Haddad assumiu a Educação. E Lula o manteve no segundo mandato.

Por ocasião do recente lançamento do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), a revista Época (edição nº 467) publicou matéria com título de gosto duvidoso: ‘Ele vai salvar a educação?’. Duvidoso, porque de messias e planos salvacionistas já estamos fartos, e não será um homem solitário, com vocação de profeta e mártir, a resolver os graves problemas da nossa calamitosa educação.

Um projeto para o país

No entanto, seria muito conveniente que o MEC exercesse nos próximos anos, tendo Fernando Haddad como dirigente firme e conciliador, papel de destaque no cenário nacional. Socialista convicto, mais próximo de Darcy Ribeiro e de Cristovam Buarque do que muitos supunham, cabe ao ministro ouvir os anseios dos nossos 3 milhões de docentes e dos mais de 50 milhões de estudantes brasileiros.

A principal tarefa de Haddad agora, a meu ver, é catalisar as forças que há décadas lutam pela melhoria da educação. Além dos professores que trabalham nas salas de aula diariamente, há ainda pesquisadores, autores, palestrantes, gente da mídia, líderes sociais, movidos por idéias e princípios diferentes, mas identificados todos com o ideal de educar.

Momento oportuno, hora de contar com todos eles, se de fato a questão é concretizar um projeto para o país, e não apenas ‘tocar’ uma iniciativa de curto fôlego, atrelada a interesses partidários.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br