O jornalista Mino Carta, diretor de redação da revista CartaCapital, em artigo intitulado ‘Bom humor global?’, explica por que recusou um anúncio das Organizações Globo:
‘Colocadas em 20º lugar na classificação das Empresas Mais Admiradas no Brasil, que a pesquisa TNS InterScience realiza e a CartaCapital publica, as Organizações Globo pretendiam inserir um anúncio na edição especial a ser lançada na segunda-feira, 29/10. Rezava o anúncio: ‘De tanto nos investigar, a CartaCapital acabou descobrindo o que você já sabia.’ Não havia como aceitar a mensagem global, sutil como uma Panzer Divisionen da Wehrmacht. Ao recusar o anúncio, em carta dirigida ao diretor de propaganda da Central Globo de Comunicação, José Land, não deixamos de esclarecer as nossas razões. O texto pretendia demonstrar que CartaCapital investigou em vão certas situações a envolver as Organizações Globo. Tentativa obviamente mistificadora.’
Creio que CartaCapital perdeu uma boa oportunidade de dizer que o seu público leitor tem razão e sabe das coisas, antes mesmo de a revista publicá-las; além de ter desperdiçado um considerável faturamento.
Certa ocasião, li uma nota sobre pesquisa científica. O texto falava de dois cientistas ingleses que, depois de dez anos pesquisando, concluíram que o bom humor faz bem à saúde. ‘Ora, para se chegar a essa conclusão, não há necessidade de se fazer pesquisa alguma. Se alguém perguntar ao mais iletrado dos analfabetos se o bom humor faz bem à saúde, certamente ele responderá que sim; pois é a mais óbvia das conclusões’, falei para o colega de trabalho que me acompanhava analisando a informação. Entretanto, naquele mesmo momento, ainda sobre a minha própria ironia, reconheci que a pesquisa dos cientistas ingleses tem apenas o objetivo de ‘comprovar’ o que qualquer pessoa sabe por intuição: o bom humor faz bem à saúde. Portanto, os cientistas ingleses apenas se dedicaram a pesquisar as causas e os efeitos das idiossincrasias sobre o nosso organismo.
Argumentações consistentes
Assim, o anúncio das Organizações Globo poderia muito bem ter sido aceito por CartaCapital, pois, apesar de este órgão de imprensa, ‘de tanto investigar…’, acabar por descobrir ‘…o que você já sabia’, há de se considerar que o papel fundamental da imprensa não é falar do que ninguém sabe. Investigação não se faz apenas sobre fatos ocultos do grande público leitor.
Acredito que esclarecer sobre aquilo que muitos leitores andam falando pelos cotovelos, repetindo o que todos já sabem, mas sem fundamentar suas queixas e acusações em coerentes argumentos, é mais importante que andar espreitando janelas para flagrar um ministro fazendo top-top e apresentar isso ao público como ‘jornalismo investigativo’, com a pretensão de transformar um simples gesto de indignação em ‘ato indecoroso’.
Grande parte da população brasileira diz que as Organizações Globo manipulam informações a seu bel-prazer e escusos interesses; entretanto, CartaCapital não se limita a vociferar tais acusações. As próprias Organizações Globo reconhecem a tenacidade daqueles que fazem CartaCapital, quando expressa claramente: ‘De tanto nos investigar…’
Mino Carta, no meu entender, perdeu a oportunidade de dizer que os leitores de CartaCapital, de tanto ler a revista, já não falam apenas à toa, já não acusam ou se queixam das Organizações Globo sem estarem fundamentados em consistentes argumentações. Acho que Mino Carta esqueceu-se de si próprio, do papel que desempenha. Mino Carta que tantas vezes me forneceu bons argumentos para eu falar do que já sabia.