‘O apoio ao setor de mídia que vem sendo estudado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode ser encaminhado ao Congresso, segundo fontes da instituição. Divergências entre as empresas em relação às reivindicações encaminhadas ao banco estatal levariam a decisão final a instâncias mais altas do governo, como o próprio presidente Carlos Lessa sinalizara no início da semana.
No estudo enviado ao BNDES, em outubro último, pela Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Associação Nacional de Jornais (ANJ) e Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) foram sugeridas três linhas de financiamento para o setor. Uma para o financiamento para investimentos, outra para a compra de papel de imprensa e uma terceira para a reestruturação financeira das dívidas das empresas.
Dívida estimada do setor de mídia é de R$ 10 bilhões
A linha para o equacionamento financeiro seria a responsável pela divergência entre as empresas do setor. Um grupo prefere que os recursos do banco sejam usados para modernização e investimentos em tecnologia e não para renegociação de dívidas.
Na última terça-feira, Lessa disse que não há consenso entre as empresas de comunicação na elaboração de uma proposta de financiamento para o setor. Segundo ele, as sugestões apresentadas ao BNDES até momento foram ‘pouco convergentes’. O presidente afirmou, ainda, que não caberia à instituição arbitrar sobre a questão, que deveria ser decidida num ‘espaço superior’.
A dívida estimada do setor de mídia é de R$ 10 bilhões. Uma das sugestões apresentadas seria a renegociação de 50% desse total por meio de uma linha especial criada pelo BNDES.’
Irany Tereza
‘Record protesta contra ajuda do BNDES à mídia’, copyright O Estado de S. Paulo, 21/02/04
‘RIO – O presidente da Rede Record, Dennis Munhoz, renunciou ontem a uma das vice-presidências da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert), evidenciando uma crise que dividiu as empresas de comunicação em torno do projeto de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao setor.
Quinta-feira, representantes da Record, do SBT e da RedeTV estiveram na sede do banco e formalizaram ao presidente da instituição, Carlos Lessa, e ao vice-presidente, Darc Costa, o repúdio à condução do processo pela Abert.
‘No dia 12, havíamos dado um ultimato à direção da Abert para que esclarecesse a opinião pública de que não há unanimidade no setor. Não concordamos com a utilização do dinheiro público para o equacionamento da dívida de empresas particulares, adquirida por causa de suas próprias administrações. O papel do BNDES não é esse’, afirma Munhoz.
Segundo ele, o projeto apresentado pela Abert ao banco divide-se em três propostas básicas: financiamento ao papel de imprensa, apoio a investimentos e equacionamento financeiro das empresas. Para equacionar a dívida, seriam concedidos empréstimos em condições favoráveis: Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), atualmente em 10%, mais 1,5% ao ano, 2 anos de carência dos juros e mais 2 de carência do principal.
A informação não foi confirmada pela Abert. Na sede da entidade, em Brasília, só foi dito que o expediente será retomado após o carnaval.
Terça-feira, Lessa comentou, durante entrevista, que o financiamento ao setor de comunicação ainda ‘vai dar muita controvérsia’, devido à postura ‘pouco convergente’ das empresas do setor.
Munhoz destaca que o projeto assinado pela Abert defende o financiamento às empresas que apresentaram dívidas no balanço até dezembro de 2002. ‘Nesse caso, a empresa poderá saldar com dinheiro público 50% dos débitos adquiridos por qualquer motivo’, diz. Pelos cálculos do mercado, o setor deve atualmente cerca de R$ 10 bilhões. O presidente da Record apresentou à direção do BNDES uma solução alternativa, com utilização de verba do banco especificamente para investimentos em tecnologia e produção futuros.’
Folha de S. Paulo
‘Painel S.A.’, copyright Folha de S. Paulo, 18/02/04
‘Luiz Gushiken (Comunicação e Gestão Estratégica) recebeu ontem diretores da RedeTV!, da Record e do SBT. Os três foram dizer a ele que são contra o financiamento do BNDES para pagar a dívida da mídia. Pediram que essa posição fosse levada ao BNDES. Gushiken os encaminhou a Carlos Lessa, presidente do banco.’
***
‘BNDES diz que setor não chega a consenso’, copyright Folha de S. Paulo, 18/02/04
‘O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, afirmou que ‘não há consenso’ na indústria de comunicação em relação a propostas sobre como deve ser um eventual programa de financiamento para permitir o fortalecimento do setor.
‘Um passarinho me contou, e eu leio e percebo sinais de uma controvérsia espantosa dentro da chamada indústria [de comunicação]. Ela não está nem sequer se apresentando de uma maneira compacta e organizada’, disse.
Segundo Lessa, ele vem recebendo do setor ‘sugestões que, no momento, são pouco convergentes’. E resumiu: ‘Não há consenso’. Ele afirmou que há estudos sobre as necessidades do setor, mas ‘não existem números fechados nem programas definidos’.
Lessa disse ser a favor de um ‘projeto de robustecimento’ do setor de mídia, mas acrescentou que, ‘pelas suas angulações e sutilezas’, o assunto ‘transcende uma decisão do BNDES’.
Para ele, é fundamental para a sociedade brasileira que o país mantenha uma indústria capaz de ter uma produção e reprodução própria de conteúdo informativo.
‘É extremamente importante para uma sociedade nacional que os conteúdos sejam próprios. É importante também que você produza noticiário com órgãos do país, novelas com gente do país.’
Lessa citou a publicação recente ‘por jornais’ (o assunto saiu na Folha no domingo) de reportagens mostrando dados referentes à situação das empresas de comunicação e disse que o momento ‘é privilegiado para discutir a sua [da mídia] transparência’.’
O Globo
‘Lessa: mídia deve ter projeto conjunto’, copyright O Globo, 18/02/04
‘O presidente do BNDES, Carlos Lessa, disse ontem que não há consenso entre as empresas de comunicação na elaboração de uma proposta de financiamento para o setor:
– As sugestões, no momento, são pouco convergentes. Não há consenso.
Lessa afirmou que percebe sinais de uma ‘controvérsia espantosa’ dentro da indústria, que, segundo ele, não está se apresentando de uma forma compacta e organizada.
– Colocar a arbitragem na mão do governo e do BNDES é muito difícil, muito pesado. A sociedade tem que se pronunciar sobre a questão – disse.
De acordo com o presidente do banco, existem estudos sobre o setor, mas ainda sem números ou programas fechados.
– É uma matéria que, pelas suas angulações e sutilezas, transcende à decisão do próprio BNDES.
Financiamentos podem gerar 3 milhões de empregos
Segundo Lessa, a posição do banco é que a indústria de comunicação deve ser objeto de um programa de fortalecimento, mas com a decisão construída num ‘espaço superior’.
– É fundamental o contraditório criado por essa indústria para que a musculatura democrática se fortaleça. E é extremamente importante para um país, para uma sociedade nacional, que os conteúdos sejam próprios. Ou seja, que você produza noticiários e novelas com órgãos do país – disse. – Não há processo civilizatório de uma sociedade nacional se ela não tiver a produção de seus conteúdos. A indústria de comunicação é um espaço importante para a produção, reprodução e afirmação desses conteúdos. Então, nenhuma sociedade pode permitir que ela desapareça – completou.
Lessa ressaltou que tem acompanhado as notícias sobre setor e lembrou que a sociedade tem o direito de conhecer como é sua indústria de comunicação.
Ontem, durante encontro com sindicalistas na sede do BNDES, Lessa disse ainda que, se o banco executar o orçamento de R$ 47,3 bilhões deste ano, possibilitará a geração de quase 3 milhões de empregos a médio e longo prazos.’