Burcas que cobrem todo o corpo raramente são destaque nas revistas de moda – isso até a próxima sexta-feira (23/6), quando será lançada nas bancas do Líbano, Jordânia e Marrocos a versão da revista Elle produzida para o Oriente Médio. Pelo menos no quesito moda, o Oriente Médio está em harmonia com o Ocidente nas páginas da publicação, que trará dicas para mulheres que usam burca em público, mas que querem vestir-se de modo elegante por baixo da vestimenta tradicional ou quando estão em casa.
Nos países muçulmanos, é cada vez maior o número de mulheres que querem estar na moda e até parecer sensuais – sempre com o visual coberto pela burca. Na Arábia Saudita e no Kuait, mulheres realizam festas no estilo ‘luluzinha’ em casa, com bufês, música e karaokê. ‘As jovens têm um entendimento globalizado de beleza’, afirma Abu Baker Bagader, professor de sociologia da Universidade King Abul Aziz, na Arábia Saudita.
Hábitos diferentes
Dinheiro e disposição para comprar não são problemas para a maior parte destas mulheres. Em países como o Líbano, as roupas que as modelos vestem nas páginas da Elle Oriente Médio podem até mesmo ser usadas nas ruas. Já em outros, como o Irã e a Arábia Saudita, as roupas ficam restritas a eventos fechados para mulheres. Em relação aos acessórios – como sapatos, lenços, bolsas, jóias e óculos –, estes são permitidos em quase todos os países.
As revistas de moda já chegavam aos países muçulmanos importadas da França, Reino Unido ou dos EUA. Tais publicações, entretanto, são caras e não correspondem aos gostos locais. ‘Estamos abrindo um novo mercado’, disse Desiree Sadek, publisher da Elle no Oriente Médio. Ainda assim, é um risco lançar uma revista em regiões que nem sempre recebem bem a cultura ocidental. Não se sabe se as matérias ou fotos serão bem aceitas em países mais conservadores.
A primeira edição da Elle no Oriente Médio inclui artigos que vão desde a proteção da pele dos riscos do sol até relatos de mulheres muçulmanas que lutam pela custódia dos filhos. Os anúncios tiveram de se adaptar à realidade do Oriente Médio. A propaganda do perfume de Jennifer Lopez, por exemplo, mostra o rosto da atriz, em vez de seu corpo inteiro, como ocorre no anúncio original. Os acessórios recebem mais destaque do que as roupas – a Gucci optou por colocar mais anúncios de bolsas e sapatos. ‘São nos acessórios que as mulheres se expressam e mostram seu status’, explica Hana Balaa, chefe do Centro de Pesquisa da Mulher da empresa de pesquisa TNS.
Na Arábia Saudita, os censores do governo proíbem qualquer imagem de mulheres sem o véu. Por isso, uma outra versão da Elle, com sede em Beirute, está programada para ser lançada no país em outubro, com artigos, anúncios e fotos mais recatadas. Informações de Christina Passariello [The Wall Street Journal, 20/6/06].