Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Moradores de favelas aprendem primeiros socorros

Cidade de Deus, Complexo do Alemão, Complexo da Maré, Vigário Geral, Parada de Lucas, Vila Vintém e Cantagalo. Essas são as sete favelas mais violentas do Rio de Janeiro, onde o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e a Cruz Vermelha Brasileira (CVB) desenvolvem um trabalho de orientação e instrução dos moradores desde 2008. No Rio, o foco é a população local, que tem seus direitos infringidos quando há confronto entre comunidades rivais.

O CICV promove cursos gratuitos de primeiros socorros, cuidador de idosos, babás e berçaristas, técnicas de curativo e imobilização ortopédica. Desenvolve campanhas preventivas sobre doenças sexualmente transmissíveis/Aids, doação de sangue, droga-dependência, vacinação, desnutrição, hipertensão arterial, entre outras. Qualifica profissionais para atuarem em desastres, apoio à Defesa Civil, atendimento à população em situações de enchentes, inundações, catástrofes, desmoronamentos etc. Há ainda programas básicos de proteção à saúde e vida, aconselhamento de jovens, busca e localização de pessoas desaparecidas em todo o território nacional, este último é ligado à agência Central de Buscas do CICV, que atua em todo o Brasil.

‘Os moradores confiam nos voluntários da Cruz Vermelha, pois sabem que nossa preocupação é estritamente humanitária e isenta de intenções políticas. As pessoas morriam porque não sabiam estancar um sangramento, fazer um torniquete. Passamos adiante os conceitos de dignidade humana, evitando assim mortes desnecessárias por falta de assistência médica ou violência gratuita, relata Gabriel Valladares, assessor jurídico do CICV.

A posição da mídia na ‘guerra’

Valladares define: ‘A Convenção de Genebra e seus protocolos adicionais têm como base o respeito ao próximo e zelam pela dignidade do indivíduo. Lutam para que qualquer arma ou estratégia utilizada que infrinja o Direito Internacional Humanitário (DIH) seja proibida e regulam os métodos e meios de combate – proíbem o ataque a não combatentes e a utilização de armas que ferem o homem e afetam não só sua vida, como a de sua família, tornando-o deficiente sob qualquer aspecto ou exigindo cuidados diferenciados e permanentes para viver.’

Quando em situação de guerra, o CICV orienta todos os combatentes e agentes armados quanto a suas normas. Porém, no Brasil isso não é realizado com os responsáveis pelos enfrentamentos, os traficantes. Eles são considerados infratores da lei e devem responder de acordo com o Código Penal vigente.

Frequentemente, se ouve o termo ‘guerra’ sendo utilizado pelos meios de comunicação para descrever a situação dos morros do Rio. Seja em razão da divulgação de produções cinematográficas ou programas no estilo reality show, que acompanham o dia-a-dia dos policiais, ou no jornal diário, em que essa informação é bastante difundida. Erroneamente, porém.

Cruz Vermelha divulga DIH

Esses veículos prestam um desserviço à população, pois para haver uma guerra é necessário um ultimato, ou seja, um Estado, por meio de seu chefe militar, propõe a outro suas últimas exigências e condições de acordo. A negativa implica declaração de guerra. Analisando os meios de comunicação de modo geral, percebe-se que são raros os veículos preocupados com a divulgação da informação correta e fidedigna. Em sua maioria, o sensacionalismo ganha na busca de novos telespectadores, assinantes e leitores.

A sociedade consome essa informação, pois por outro lado o número de vítimas no Rio chega a ser maior do que em muitos conflitos pelo mundo. Para um jornalista, vender a ideia de que existe uma guerra é aplicar as normas da guerra e aceitar a polícia ou o exército com a força armada e estratégias de combate.

O CICV realiza cursos, palestras e conferências, a fim de ampliar o conhecimento e o respeito ao DIH por parte de acadêmicos, militares, meios de comunicação e autoridades em geral.

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Estudante de Jornalismo da Fiam, Projeto Repórter do Futuro