Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo Segunda-feira, 28 de setembro de 2009 WILLIAM SAFIRE Folha de S. Paulo Morre colunista do ‘Times’ e redator de discursos de Nixon ‘William Safire, redator de discursos para o presidente americano Richard Nixon (1969-1974), colunista político do ‘New York Times’ e vencedor do prêmio Pulitzer, morreu ontem de câncer no pâncreas, aos 79 anos, segundo uma amiga da família. Autor também de romances e livros sobre política e especialista em linguística, Safire foi o articulador, em 1959, dos famosos e tensos debates públicos entre o então líder soviético Nikita Kruschev e Nixon (na época vice-presidente), em Moscou, nos quais discutiram os méritos do capitalismo e do comunismo. Safire foi também o orador pela Casa Branca na tumultuada era da Guerra do Vietnã, da visita de Nixon à China e em meio à polêmica do Watergate, que culminou com a renúncia do presidente. Depois, de 1973 a 2005, Safire escreveu sua coluna bissemanal -e de orientação conservadora- no ‘Times’, veículo de tendência majoritariamente liberal. O jornalista escreveu mais de 3.000 textos opinativos, nos quais defendia de maneira incisiva as liberdades civis e o Estado de Israel, além de fazer críticas a figuras políticas americanas. Uma das maiores polêmicas em que Safire se envolveu foi com o ex-presidente dos EUA Bill Clinton (1993-2001), que quis lhe dar um soco depois de o colunista ter dito que sua mulher, Hillary, era uma ‘mentirosa congênita’. Inicialmente, seus críticos o consideravam apenas um apologista do grupo político de Nixon. Mas as desconfianças foram aplacadas quando ganhou o Prêmio Pulitzer, em 1978, na categoria artigo, por um texto sobre o caso Bert Lance -escândalo de corrupção durante a gestão do presidente dos EUA Jimmy Carter (1977-1981). Ao lado dos jornalistas George Will e William F. Buckley Jr., Safire ajudou a pavimentar o discurso conservador no espaço público nos EUA para a eleição do presidente republicano Ronald Reagan (1981-1989). O colunista foi um dos pioneiros da reportagem opinativa, com colunas repletas de fontes de Washington e do Oriente Médio, e foi considerado um dos mais influentes críticos políticos dos últimos anos. Com ‘The New York Times’ e agências internacionais’ BIOGRAFIA Editorial Lula, o filme ‘DEPOIS de Hugo Chávez ter se tornado personagem de cinema, com o lançamento, em Veneza, de um apologético documentário dirigido pelo norte-americano Oliver Stone, agora é a vez de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desfilar pelo tapete vermelho. E, pelo visto, com amplo apoio promocional da máquina governista e de organizações empresariais e sindicais que gravitam em torno dela.. Os responsáveis pela cinebiografia ‘Lula, o Filho do Brasil’ já entraram em contato com as duas principais centrais sindicais do país, CUT e Força, para que facilitem a divulgação do filme entre o público de baixa renda. Segundo o produtor, essa seria uma preocupação manifestada pelo próprio presidente Lula. A ideia é que centrais e grandes empresas sobre as quais o governo tem poder de influência participem elas mesmas da compra antecipada de bilhetes, que seriam depois distribuídos ou vendidos a preços acessíveis. Distribuído com recursos levantados por estruturas subservientes ao governo, o filme candidata-se a campeão de bilheteria. Não se trata de atacar o notável senso de oportunidade dos criadores da obra -que tem estreia prevista para o início do ano eleitoral de 2010. Mas toda essa operação, no que tem de promíscua e autopromocional, ilustra a faceta estado-novista do lulismo. Com a agravante de que agora os laços entre sindicatos e Estado foram estreitados com a extensão do alcance do imposto sindical. Sindicatos que outrora denunciavam ‘pelegos’ e pediam independência consolidaram-se como aparelhos estatais. Para o biografado e os produtores há, no entanto, uma dificuldade a vencer: mais de 90% dos municípios brasileiros não têm sala de cinema. Não por acaso, já há movimentações para uma versão televisiva do filme. A minissérie do presidente.’ TODA MÍDIA Nelson de Sá A tensão cresce ‘‘Governo interino’ dá ultimato para Brasil ‘definir situação de Zelaya’; Lula não reconhece ultimato de ‘governo golpista’; então ‘governo interino’ proíbe entrada da OEA e repete ultimato ameaçando ‘retirar status de embaixada’; depois, suspende a liberdade de imprensa, entre diversos direitos constitucionais. De hora em hora, ações e reações tomaram as manchetes de Folha Online e Reuters Brasil e de portais como UOL e G1. Com intervalos para o futebol, é também o que comanda buscas por Yahoo News, Google News, via agências que avisam: ‘A tensão cresce’. O ‘New York Times’, dos poucos fora da América Latina a dar atenção, tem dois enviados procurando alternativas. Fechou a semana com ‘Batalha ecoa com barulho na mídia’. Destaca comerciais de TV do governo denunciando até ‘plano terrorista’. Relata que, ‘mesmo antes de Zelaya ser derrubado por um golpe, TVs e jornais, de um punhado de ricos empresários, se opunham a ele’. E agora podem ‘até caluniar’, dizendo que ‘o Brasil promete reinstalar Zelaya em troca de cadeira no Conselho de Segurança da ONU’. Na ‘guerra de mídia, a voz do governo é mais elevada, mas Zelaya é habilidoso’. E tem pelo menos uma rádio a seu lado, a Globo. PROMESSAS Os jornais de EUA, Europa, China reagiram sábado ao G20. No ‘NYT’, ‘Líderes prometem redesenhar a economia global’. No ‘Washington Post’, entre outros textos, ‘Move over, G8’, saia da frente. No ‘Wall Street Journal’, ‘Nações concordam em coordenar as políticas umas das outras’, mais a análise ‘Mudança para grupo maior arrisca acordos mais fracos’. No ‘Financial Times’, ‘Ceticismo sobre promessa de uma nova era’. Até o estatal ‘China Daily’ foi contido. SOBE, SOBE Sob o título ‘A ascensão e a ascensão do Brasil: mais rápido, mais forte, mais alto’, o ‘Independent’ publicou duas páginas, do correspondente Hugh O’Shaughnessy, apontando o favoritismo para os Jogos de 2016. Diz que na sexta ‘o voto pode ser um marco na jornada do Brasil para deixar de ser o eterno país do futuro’. Cita a popularidade, o G20, a resistência ao ‘impostor’ de Honduras etc. VAI AGUENTAR? Em longa reportagem, a ‘Time’ trata dos Jogos de 2016 com uma pergunta, no título, ‘O Rio vai aguentar?’. Também vê o país favorito e até destaca que, ‘Se a vida é justa, o Brasil será escolhido’. COMO FAZER Na alemã Deutsche Welle, sobre a cúpula América do Sul-África, ‘Brasil ensina aos vizinhos o comércio com a África’, ele que há tempos busca ‘uma nova geografia comercial chamada Sul-Sul’. DIGITAL IMPERIAL Enquanto Lula viaja pelas Américas, seu ministro das Comunicações anuncia, no topo das buscas em espanhol, que o Brasil ‘quer unificar TV digital na América Latina’. Convenceu Argentina, Chile e Peru, negocia com Equador, Bolívia e Paraguai. Hélio Costa diz que dobra até Uruguai e Colômbia, que já optaram pelo padrão europeu. PAÍS PARANÓICO Joe Sharkey, jornalista americano que estava no jato Legacy que se chocou com um Boeing da Gol há três anos e desde então defende os pilotos americanos envolvidos, escreveu sexta no site Editor & Publisher que está sendo processado por difamação por ‘um cidadão brasileiro e uma viúva de um dos mortos na colisão’. Afirma que ‘os brasileiros querem me arruinar financeiramente’ e que, mesmo nos EUA, ‘todos que escrevem negativamente de um país estrangeiro paranóico estão sob risco’. ‘MULHERES FRUTAS’ Clone azul do vermelho G1, da Globo, o portal R7, da Record, estreou com a manchete ‘Senadores queimam 18 anos de gasolina em apenas três meses’, com um ranking com DEM, PSDB, PT, PMDB. Também em destaque, uma entrevista com a mulher de Manuel Zelaya e reportagem sobre as ‘mulheres frutas’, com galeria de fotos. Como o G1, o R7 reproduz vídeos editados da rede. O Blue Bus acompanhou a estreia e postou que o portal chegou a sair do ar por ‘excesso de tráfego’. O COLUNISTA O liberal ‘NYT’ deu a morte de William Safire na home, sublinhando ter sido também autor de discursos de Nixon. Foi lembrado por ‘WSJ’, ‘WP’, HuffPost. O Gawker registrou que começou publicitário e era um ‘nerd das palavras’.’ INTERNET Folha de S. Paulo Hackers invadem site do Ministério da Defesa ‘A página foi parcialmente encoberta ontem à tarde com foto montagem de um olho pintado com as cores da bandeira brasileira e uma mensagem. A invasão ocorreu por volta das 16h e, até o fechamento desta edição, a página mantinha a mensagem, que dizia ser uma ‘decepção’ o site poder ser ‘ownado’. O termo é uma gíria usada por jogadores para reconhecer uma forma de superioridade devido a uma falha, erro ou perda pelo adversário. A Folha não conseguiu contato com o ministério ontem.’ TELEVISÃO Daniel Bergamasco Globo reconstrói avenida São João em cidade cenográfica ‘A próxima novela das 19h da TV Globo, que tem título provisório de ‘Bom Dia, Frankenstein’ e terá o centro paulistano como cenário, está fazendo a Globo construir uma réplica da avenida São João em sua cidade cenográfica, no Projac. Mais glamourosa na primeira metade do século 20 e deteriorada nas últimas décadas, a avenida será mostrada em sua melhor forma atual, em simulação de trechos mais bem conservados da via. A novela de Bosco Brasil -que foi coautor de ‘Bicho do Mato’, na Record- mapeará lugares belos do centro, como o Vale do Anhangabaú, e não terá, em princípio, a cracolândia, apelido bastante autoexplicativo da região que o marketing da prefeitura chama de Nova Luz. A novela também terá cenas ambientadas de fato na avenida São João. As primeiras delas serão feitas na primeira quinzena de outubro, quando praticamente todo o elenco (que tem Antônio Fagundes, Fernanda Vasconcellos, Grazi Massafera, Priscila Fantin) estará em São Paulo para gravar em locações como o viaduto do Chá e a rua Santa Ifigênia. Outra locação constante deverá ser o edifício Grande São Paulo, na rua Libero Badaró, que tem vários de seus andares usados pela prefeitura da capital. Funcionam lá as secretarias de Modernização, Gestão e Desburocratização e Coordenação de Subprefeituras. De arquitetura mais contemporânea, com paredes envidraçadas que deixam aparentes as escadas metálicas dos primeiros andares, servirá como fachada para um dos prédios ‘high-tech’ da história. REI EM NOVA YORK O show do cantor Roberto Carlos no Radio City Music Hall, em Nova York, em abril de 2010, será filmado como especial de televisão. Mesmo que não seja exibido em TV aberta, será comercializado em DVD. DIVIDIDA O produtor Diler Trindade, de filmes como os de Xuxa e ‘Irmãos de Fé’ (2004), negociou os direitos sobre os textos da novela ‘O Rebu’, de 1974, com os herdeiros do dramaturgo Bráulio Pedroso. Desistiu, ao menos por enquanto, de transformar a história em filme quando soube que o autor Carlos Lombardi adapta a trama como minissérie para a TV Globo. Trindade planejava atrelar ao longa a produção de uma série com a mesma história. EXEMPLO Em esforço para não perder humoristas para a concorrência, o empresário Tutinha, dono do ‘Pânico’, alfineta os desertores: ‘O Mendigo [Carlinhos Silva] voltou à mídia com ‘A Fazenda’, já o Gluglu [Vinícius Vieira] sumiu na Record’. SEGUNDA MARCHA Para Tutinha, o público está finalmente ‘comprando’ o humorista Cesar Polvilho, há mais de um ano no ar. ‘Começo a ouvir os bordões dele na rua.’ HUMILDADE Enquanto as grandes se digladiam pela liderança, a Rede TV! divulgou nota em que celebra ‘excelentes índices de audiência’: ‘A Tarde É Sua’ em terceiro lugar por 1 minuto (16h34) e média de 1,3 ponto’.’ Álvaro Pereira Júnior Tosqueira e melancolia no YouTube ‘Uma boa alma botou na web, na íntegra e numerados, todos os episódios de ‘Beavis & Butt-Head’, desenho animado que a MTV lançou nos anos 90. Descobri, sem querer, buscando no YouTube pelo episódio ‘Trouble Urinating’, clássico em que Beavis e Butt-Head se esquecem de como fazer xixi. Se você é tão jovem que não conhece o desenho, explico que ‘Beavis & Butt-Head’ é uma dupla de pré-adolescentes que mora no meio do nada e passa o dia sem fazer nada. O Q.I. de Beavis é 0,5. O de Butt-Head, 0,6. O fato de Butt-Head ser um pouco menos burro do que Beavis dá a dinâmica da série. Os episódios misturam B&B envolvidos em situações cotidianas com os dois sentados num sofá podraço, assistindo a videoclipes. A ‘opinião’ dos moleques ganhou tanto destaque que o Beavis e o Butt-Head, em certa época, chegaram a ser considerados os críticos de música pop mais importantes dos Estados Unidos. Lembro-me de que uma banda dos anos 90, o Babes in Toyland, ficou na maior alegria porque seu clipe passou em ‘Beavis & Butt-Head’ e os dois disseram: ‘It doesn’t suck’ (não é uma porcaria). Se eles não detonavam, já estava bom. As situações eram sempre muito engraçadas. Os dois arrumavam trabalho numa lanchonete de fast food e só pisavam na bola. Iam trabalhar no CVV (Centro de Valorização da Vida) da gringa e deixavam as pessoas ainda mais loucas. Zoavam com o professor ripongo. Na hora de comentar os clipes, eles só queriam saber de barulho. Uma das sequências mais famosas mostra os dois vendo ‘Creep’, do Radiohead, desesperados com a lengalenga do início. Querem que chegue logo a sonzeira. O criador da série, Mike Judge, sempre disse que os episódios de ‘Beavis & Butt-Head’, apesar do humor tosco, brutal, eram, na verdade, pequenos ensaios sobre melancolia e solidão. Sobre viver no interior, não ter perspectivas, ver a vida passar como um videoclipe distante.’ Marco Aurélio Canônico Mesmo velhos, ‘Simpsons’ têm humor ‘Foi na virada de 2000 para 2001 que a 12ª temporada de ‘Os Simpsons’ -agora lançada em DVD no Brasil- foi ao ar na TV americana. Era um outro mundo, como mostram os 21 episódios que compõem esse ano da série (em uma caixa com quatro discos). As referências à internet, por exemplo, eram incipientes. Justin Timberlake ainda estava no NSync (o grupo é um dos convidados da temporada). E um dos episódios tem uma piada que certamente não existiria hoje: um ataque terrorista a um arranha-céu em Nova York. O fato de que várias referências ficaram datadas certamente tira um pouco da graça dessa caixa dos Simpsons. Por outro lado, ainda sobra bastante humor do tipo que não envelhece (ora bobo, ora inteligentíssimo) para satisfazer os fãs. Há, por exemplo, o célebre episódio em que Bart, Milhouse, Nelson e Ralph formam uma boy band, e outro dedicado ao Comic Book Guy (que dá a cara da caixa de DVDs). Há, também, um episódio de grande ternura, em que Homer fica inteligente (sua idiotice, descobre-se, era fruto de um lápis de cera enfiado em seu cérebro), para alegria de Lisa. Por fim, o especial de Halloween dessa temporada é ótimo, com três histórias curtas. É sintomático, aliás, que, à medida que as temporadas avançam, fica cada vez mais difícil contar uma única história linear nos 22 minutos de cada episódio. A maior parte deles junta tramas curtas quase sem conexão umas com as outras. De resto, a chegada dessa temporada oito anos após sua exibição diz muito sobre a (fracassada) mentalidade dos estúdios. O que se espera, que os fãs aguardem todo esse tempo para rever o desenho? OS SIMPSONS – 12ª TEMPORADA Distribuição: Fox Quanto: R$ 139 Classificação: livre’ ARGENTINA Silvana Arantes Argentina prepara lei de incentivo à cultura ‘Foi uma derrota eleitoral que levou o cineasta Jorge Coscia, 57, ao cargo de secretário de Cultura da Nação na Argentina -posto equivalente ao de ministro da Cultura no Brasil. Ele assumiu em julho, quando a presidente, Cristina Kirchner, reformou seu gabinete, após revés nas eleições legislativas. ‘Assumo na metade da gestão. As prioridades devem ser realistas, mas ambiciosas’, diz ele, que pretende impulsionar uma lei federal de incentivo à cultura, como a Rouanet. Nesta quarta, Coscia vai a São Paulo para o 2º Congresso de Cultura Ibero-Americana, cujo tema é ‘Cultura e Transformação Social’, um binômio que ele quer associar à sua gestão. Nesta entrevista, feita em seu gabinete, em Buenos Aires, o secretário fala da proposta de ‘politizar a cultura’ e analisa a polêmica em torno do projeto de lei de Cristina Kirchner sobre a comunicação audiovisual. FOLHA – O sr. propôs ‘politizar a cultura’ no discurso de posse. Qual o sentido dessa expressão? JORGE COSCIA – Proponho que a política se encha de cultura, que ela tenha seu lugar na agenda, mas que também assumamos que a cultura está politizada. Até numa pintura abstrata há formulação política. Sou parte de uma gestão política. Venho aqui para uma missão carregada de sentido político. Hoje, há um discurso despolitizador, que tenta dizer que a política é ruim. Mas só a política melhora a má política. FOLHA – Quais são as prioridades de sua gestão? COSCIA – Aprofundar e acelerar o processo de federalização da cultura, com um fundo federal. Trabalhamos também para fortalecer as políticas solidárias -políticas sociais em que a cultura entra com a capacidade de inclusão. Buscamos a recuperação patrimonial e queremos criar uma lei federal de cultura e um canal de TV cultural. FOLHA – Como avalia a lei brasileira de incentivo federal à cultura, a chamada Lei Rouanet? COSCIA – O modelo brasileiro é muito interessante. Nossos países devem ser imaginativos em matéria de políticas culturais, têm de ter leis compensatórias. Estamos buscando os pontos centrais para a nossa lei. Deve haver um marco que fixe a importância das políticas culturais, que trate a cultura como um direito humano essencial. FOLHA – O sr. concorda com a presidente Cristina Kirchner quando ela diz que o projeto de Lei de Serviços Audiovisuais põe à prova a democracia na Argentina? COSCIA – Sim. Nesta discussão, está em jogo a viabilidade da democracia na Argentina. Aqui, 90% da [produção de] imagem está nas mãos de cinco empresas. Isso não é bom para a democracia. Nós acreditamos que os meios de comunicação têm toda a liberdade [….], mas o Estado e a sociedade têm a responsabilidade de gerar equilíbrios diferentes. O único modo de fazê-lo é ampliando o acesso aos meios de comunicação. FOLHA – Aos brasileiros espanta que os argentinos tenham uma formação e uma produção cultural tão sólidas, apesar das crises econômicas. Como o sr. explica o paradoxo? COSCIA – Não há relação direta entre capacidade de produção cultural e êxito econômico. Temos um formidável capital cultural, subsidiário de uma também formidável tradição educativa. O que talvez tenha faltado à Argentina é que a criatividade cultural possuísse um senso maior de pertencimento e identificação nacional. FOLHA – É viável uma integração cultural entre Brasil e Argentina? COSCIA – Nós, os latino-americanos, somos uma unidade cultural desintegrada. A cultura nos une; o que nos separou foi a história, a política, os interesses das oligarquias egoístas. Se semeássemos a integração pela perspectiva cultural, o terreno seria fértil.’ LULA E A GLOBO Mônica Bergamo Jamais ‘O presidente Lula afirmou há alguns dias à coluna que candidatos com pouco tempo de TV têm poucas chances eleitorais. ‘A não ser que aconteça como em 1989, quando a TV Globo apoiou o Collor’, disse Lula. Questionado, o jornalista Ali Kamel, diretor da Central Globo de Jornalismo, afirma que ‘a TV Globo, em seu noticiário, jamais apoiou candidato algum, nem jamais vai apoiar’. Erro Ali Kamel faz considerações também sobre a edição do debate do segundo turno de 1989, em que a emissora foi acusada de favorecer Fernando Collor. Segundo ele, a TV Globo, naquela ocasião, ‘cometeu um erro, sem má-fé, conforme já admitido pela emissora diversas vezes, inclusive em livro (‘JN, 35 Anos, A Notícia Faz História’, Editora Zahar, 2004). Esse erro, porém, não teve influência na eleição: diversos petistas, inclusive o então candidato Lula, já admitiram que Fernando Collor ganhou aquele debate, realizado por um pool de quatro emissoras’.’ ************ O Estado de S. Paulo Segunda-feira, 28 de setembro de 2009 CAMPANHA Christiane Samarco Ciro deve oferecer vice ao PDT para ter tempo na TV ‘O pré-candidato do PSB à Presidência, deputado Ciro Gomes (CE), tem um trunfo para fechar a aliança com o PDT do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e viabilizar sua candidatura com maior espaço na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Um aliado de Ciro que acompanha as negociações da corrida sucessória informa que o pré-candidato deve oferecer o posto de vice em sua chapa justamente ao ministro Lupi, que é presidente licenciado do PDT. Além dessa oferta aos pedetistas, o PSB de Ciro trabalha para reeditar o bloquinho que funcionou na Câmara com o PDT e o PC do B porque só tem garantido 1 minuto e 11 segundos em cada um dos dois blocos diários de 25 minutos de propaganda eleitoral na TV. O tempo pode dobrar com a divisão da sobra dos minutos que couberem aos partidos que não apresentarem candidatos a presidente. Ainda assim é pouco. O desafio de fortalecer o palanque eletrônico não é o único que ocupa os aliados de Ciro. O PSB não pode confrontar com o PT da pré-candidata e ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e tem de contar com a ‘compreensão’ do governo para fechar as alianças com partidos aliados ao presidente Lula. ‘Temos de montar o palanque do Ciro sem desmontar o palanque da Dilma’, resume o senador Renato Casagrande (PSB-ES), certo de que é possível manter um bom relacionamento na base governista para que os aliados estejam juntos no segundo turno da corrida presidencial. ‘Mesmo com duas candidaturas teremos diálogo nos Estados.’ Casagrande é um dos que veem no PDT um bom parceiro para compor a vice com os socialistas. Adverte, porém, que por enquanto não existe uma proposta oficial de seu partido à direção pedetista. Um interlocutor comum de Ciro e Lupi aposta que o ministro aceitaria o convite e acrescenta que ele tem autonomia para fazê-lo, na condição de presidente nacional licenciado do PDT. Pondera, no entanto, que Lupi precisará obter o aval de Lula para fechar o acordo. O mesmo interlocutor explica que o ministro do Trabalho não faria nada que contrariasse uma determinação presidencial. Em qualquer cenário, Ciro terá de enfrentar a resistência de alguns setores do PDT. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) é um dos que admitem que a parceria ‘faz sentido’ dentro do processo eleitoral, mas diz que tem dificuldades para compreender a candidatura Ciro como uma alternativa progressista para o País. Ele defende a tese de que a melhor opção para fortalecer o partido seria o lançamento de um nome próprio para disputar a Presidência, em vez da candidatura a vice. Vários pedetistas também se queixam de que a experiência da última eleição não foi boa e dizem que Ciro anunciou apoio a Lula no segundo turno de 2002 sem antes consultar os companheiros. ‘O discurso dele passa a ideia de um homem conservador e emocionalmente instável’, diz Cristovam. ‘É um discurso sobre taxa de crescimento que faz com que ele passe a ideia de candidato a ministro da Fazenda, e não de um estadista que defende uma inflexão na história do Brasil.’’ LIBERDADE DE IMPRENSA Ricardo Brandt ‘Demora para nova decisão gera estranheza’ ‘Causa estranheza e insegurança a demora do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) em proferir nova decisão no episódio de censura ao Estado. A opinião é do especialista em direito constitucional Rui Fragoso, que afirma que o problema não pode ‘ser creditado à morosidade da Justiça’. ‘Faz-se necessário que o novo desembargador analise o caso o mais rápido possível. Não há justificativa para ele não analisar a decisão que determinou a censura’, afirma Fragoso, ex-presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo. ‘Com a decisão que colocou o primeiro desembargador fora do caso, o novo relator tem de pegar e dar um primeiro despacho, como se fosse uma liminar.’ Desde 31 de julho, o Estado está proibido, por decisão do TJ-DF, a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga os negócios da família Sarney. O desembargador que proferiu a decisão, Dácio Vieira, foi afastado do caso pelo tribunal, mas sua decisão continua a valer. Cabe ao novo relator, Lecir Manoel da Luz, desde o dia 15 decidir se mantém ou não a censura. ‘Essa demora gera grande insegurança quanto à prestação jurisdicional. Para dar a liminar que censurou o Estado, o primeiro desembargador foi muito rápido. Mas quando o próprio TJ reconhece a suspeição e um novo desembargador é nomeado, é preciso que com a mesma rapidez seja dado um primeiro despacho’, avaliou Fragoso. Para ele, a liberdade de imprensa é ‘irmã siamesa’ da democracia. ‘Uma não vive sem a outra. Os fatos são de interesse público e a função da imprensa é noticiá-los. Essa liberdade é um direito constitucional.’’ LUTO New York Times Colunista William Safire morre aos 79 anos ‘William Safire, autor dos discursos do ex-presidente americano Richard Nixon (1969-1974) e vencedor do Prêmio Pulitzer por suas colunas de política e linguagem no jornal americano The New York Times, morreu ontem aos 79 anos em um asilo em Rockville, no Estado americano de Maryland, de complicações decorrentes de câncer pancreático. Por mais de 30 anos, Safire escreveu duas vezes por semana sua coluna de política Essay no jornal americano e era conhecido por seu conservadorismo. Em 1978, sua coluna sobre a administração financeira de Bert Lance, diretor de Orçamento do então presidente americano Jimmy Carter (1977-1981), rendeu-lhe o Pulitzer de Opinião. Em 1979, ele começou a escrever a coluna On Language, em que examinava a origem e o uso de palavras e frases coloquiais do idioma. A ERA NIXON Safire começou sua carreira em 1951: trabalhou em rádio, televisão e, entre 1952 e 1954, serviu o Exército dos EUA. Em 1955, foi nomeado vice-presidente da Tex McCrary, uma firma de relações públicas que tinha como um de seus clientes a companhia que construiu a ‘típica casa americana’ para a Exibição Nacional dos EUA em Moscou. O evento foi aberto oficialmente por Nixon, então vice-presidente dos EUA, em 24 de julho de 1959. Nessa ocasião, Safire inquiriu Nixon e o líder soviético Nikita Khrushchev sobre os méritos relativos do capitalismo e do comunismo, no que ficou conhecido como o famoso ‘kitchen debate’. Em seguida, Safire foi contratado por Nixon para sua campanha presidencial de 1960, contra o candidato John F. Kennedy. Em 1968, Safire se tornou assistente especial de Nixon. Ao integrar o time de escritores de discursos da Casa Branca, o colunista ajudou os conservadores a ganharem respeito na década de 1970. Durante esse período, Safire escreveu sobre a Guerra do Vietnã, organizou a ida de Nixon à China e lidou com a explosão pública do escândalo do caso Watergate. Em 1973, antes que a situação piorasse e Nixon renunciasse no ano seguinte, Safire largou o cargo e passou a trabalhar no New York Times. Ao longo de sua carreira, ele redigiu mais de 3 mil colunas, espaço no qual defendia os direitos civis e também se dirigia a figuras políticas. Em 1992, depois de votar em Bill Clinton para presidente, Safire se tornou um dos maiores líderes de críticas à administração democrata.. Em uma oportunidade, chamou Hillary Clinton de ‘mentirosa congênita’. A então primeira-dama respondeu que não se sentia ofendida. Mas o secretário de imprensa da época, Mike McCurry, afirmou que Bill Clinton teria ‘dado uma resposta mais agressiva diretamente no nariz de Safire, se não fosse presidente.’ LEGADO Nascido em Nova York, Safire era casado desde 1962 com Helene Belmar Julius, modelo, pianista e designer de joias. Safire deixou a mulher, os dois filhos, Mark e Annabel, e a neta, Lily Safire. O jornalista se aposentou de sua coluna política em 2005. Seu último texto foi intitulado ‘Nunca Se Aposente’. Safire também escreveu diversos livros de ficção, incluindo o best-seller Full Disclosure, e obras de não-ficção sobre política e linguagem. Após a saída do jornal, Safire se tornou presidente da Fundação Dana, que apoia pesquisas nas áreas de neurociência, imunologia e disfunções cerebrais. Entre 1995 e 2004, participou da junta diretiva dos prêmios Pulitzer. Em 2006, recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade do presidente americano George W. Bush (2001-2009).’ CONTEÚDO PAGO O Estado de S. Paulo Estadão Digital terá preço definido pelo leitor ‘O Estadão Digital foi incluído na segunda fase da campanha ‘Qual o valor do conhecimento?’. O serviço oferece, na internet, o conteúdo integral do jornal. Com a tecnologia digital paper, permite a leitura do Estado como se o usuário estivesse folheando as páginas da edição impressa. Os assinantes do jornal impresso, de segunda a domingo, podem dizer quanto vão pagar para terem também o Estadão Digital. A assinatura avulsa do serviço, sem o jornal impresso, custa R$ 29,90. Lançado em março de 2008, o serviço usa um sistema que vem sendo adotado por publicações no exterior e no Brasil, que une a comodidade da internet com toda a qualidade encontrada no jornal impresso. ‘O produto é um sucesso’, afirmou Pedro Doria, editor-chefe de Conteúdos Digitais do Grupo Estado. ‘Ele oferece a oportunidade de o leitor ter acesso ao jornal mesmo em lugares onde não conseguiria receber um exemplar em papel.’ O Estadão Digital é voltado principalmente para pessoas que estão fora do País, para leitores que encontram-se em viagem e para o público jovem, que passa um longo tempo conectado à internet. Antes da inclusão do serviço na campanha, o assinante do impresso já poderia ter acesso à versão eletrônica, com um preço diferenciado. ‘Houve uma grande adesão dos assinantes do impresso ao produto digital, mesmo sem uma divulgação da oferta conjunta’, afirmou Rogério Machado, diretor de Comunicação do Grupo Estado. ‘Cada vez mais, os leitores querem a versão impressa e a digital juntas. Não existe uma concorrência entre impresso e eletrônico. O assinante busca a convergência. Ele quer cada vez mais opções de acesso.’ Além de ter todo o conteúdo disponível na edição em papel, a versão digital traz facilidades como a busca de conteúdos e a possibilidade de gravar as páginas no seu computador ou enviá-las para os amigos. Na página, o leitor pode escolher a matéria que quer ler e ampliá-la, para ter mais conforto de leitura. O Estadão Digital também traz vantagens para os anunciantes, como a possibilidade de se incluir vídeo e animações nos anúncios, além de links para o site da empresa. ‘No limite, é possível criar uma campanha para uma comunidade brasileira em outro país’, explicou Machado, ressaltando a união entre a qualidade do impresso e as facilidades trazidas pela publicação na rede mundial.’ TELEVISÃO Ubiratan Brasil Nós que amamos Lucy ‘Entre outubro de 1951 e abril de 1960, um estranho fenômeno acontecia nas principais cidades americanas nas noites de segunda-feira, precisamente entre 21 horas e 21h30: o índice de criminalidade caía, as grandes lojas fechavam suas portas, o consumo de água reduzia. O motivo era um programa exibido pela rede de televisão CBS em que Lucy, uma ruiva atrapalhada, envolvia o marido (o cantor cubano Ricky Ricardo) e os vizinhos Ethel e Fred nas maiores confusões: I Love Lucy, pioneiro dos sitcoms (abreviação de comédia de situação) que conquistou o público graças ao carisma de sua protagonista, Lucille Ball, responsável por um longo caso de amor com a América. Basta conferir qualquer um dos 36 episódios da primeira temporada que a Paramount envia para as lojas na quarta-feira (R$ 129,90 a caixa). A escolha não será fácil. Tanto pode ser O Balé, em que Lucy é uma desajeitada aspirante a bailarina, como Lucy Faz um Comercial de TV, em que ela interpreta a garota-propaganda do tônico Vitameatavegaminem (veja detalhes nesta página). ‘A fórmula do sucesso era simples: um roteiro que não insultava a inteligência e divertia toda a família. E, principalmente, uma atriz com um fenomenal dom para a comédia’, comenta Gregg Oppenheimer, responsável pela edição do DVD nos Estados Unidos, que aconteceu em 2000. Os fãs da série identificam o sobrenome – ele é filho de Jess Oppenheimer, o produtor que convenceu a CBS a apostar no programa de TV em uma época em que o rádio e o cinema dominavam a atenção do público. Jess, aliás, buscava inovar e apostou alto, pois cada episódio era gravado por três câmeras que se movimentavam em um cenário fixo e diante de uma plateia ao vivo, para garantir a autenticidade das risadas. E, no projeto que apresentou à emissora, Jess foi sucinto: ‘Um programa de tevê com um cantor latino-americano e sua mulher. O desejo dela é entrar para o show biz; o dele – igualmente forte – é de impedi-la.’ Esse fio condutor consagrou a atriz de cinema e rádio Lucille Ball (1911-1989), até então conhecida como a Rainha dos Bs, referência aos filmes de segunda linha de que participava. Com suas caretas e gestos, ela se tornou o protótipo da dona de casa que, apesar de se meter em confusões, sempre preservava o casamento. Lucille, aliás, lutava também pelo seu na vida real, pois insistiu pela contratação do marido, o cubano Desi Arnaz, conhecido no meio artístico como mulherengo e canastrão – como assumiu a produção da série através de sua empresa Desilu, Lucille garantiu para ele o papel de Rick Ricardo. ‘Lucy era durona nos bastidores e não se considerava engraçada’, conta Gregg, que conheceu a atriz quando, com 5 anos, visitou o estúdio. ‘Ao mesmo tempo, tinha uma grande imaginação e trabalhava arduamente, pois tinha horror a improvisos.’ Tal declaração, aliás, soa irônica ao se assistir o episódio piloto, que abre o primeiro disco do pacote. Em um cenário capenga, que balança a cada fechar e abrir de portas, o que se sobressai é o talento de Lucy, apesar da extensa participação de Desi tocando com sua orquestra. O sucesso, porém, foi instantâneo e tão intenso que, durante a segunda gravidez de Lucille, no fim de 1952, episódios antigos foram readaptados para que a série não saísse do ar – foi a primeira vez que a tevê americana usou o videoteipe. Ao todo, I Love Lucy ganhou quatro prêmios Emmy (o Oscar da TV), além de liderar a audiência em quatro das seis temporadas. ‘Mesmo depois de encerrada, a série sobreviveu mais quatro anos, com edições especiais’, conta Gregg. ‘Lançou ainda o caminho das futuras sitcoms ao apostar em histórias pouco realistas.’ A fama também trouxe problemas e levou Lucille ao comitê anticomunista, em 1953, que questionava seu apoio ao PC americano na eleição de 1936. A defesa veio no episódio 68 (The Girls Go Into Business) em que Desi, mirando as câmeras, afirmou: ‘O único toque vermelho de Lucy é seu cabelo e, mesmo assim, não é legítimo.’ NA TV BRASILEIRA De 1958 a 1979, foi exibido pela TV Tupi Durante os anos 1980, foi a vez da TV Gazeta Em 1994, I Love Lucy foi exibido pela TV Cultura, que o reprisou também em 2001 Em 2002, entrou na programação do canal pago Multishow Desde 2005, o seriado é mostrado por outra emissora paga, o TCM AS IMPERDÍVEIS AS GAROTAS QUEREM IR A UMA BOATE: Lucy e Ethel querem dançar, mas os maridos preferem o boxe. PILOTO PERDIDO: A produção é tosca, mas Lucy como palhaço é impagável. MULHERES PIONEIRAS: Lucy luta contra a massa de um pão gigante.’ *** Versão nacional repetiu sucesso ‘O enorme sucesso de I Love Lucy na TV Tupi de São Paulo logo inspirou o surgimento de uma versão nacional, Alô, Doçura!, a primeira sitcom brasileira, escrita e dirigida por Cassiano Gabus Mendes e exibida, entre 1954 e 1964, pela mesma emissora, que veiculava o original americano. Estrelado por Eva Wilma e John Herbert (que logo formaram um casal na vida real), o seriado tinha o mesmo ponto de partida: os desencontros de marido e mulher na cidade grande. Além do seriado americano, Gabus Mendes aproveitou um programa criado por seu pai, Otávio, para o rádio. Curiosamente, os primeiros episódios foram interpretados por Eva e outro ator, Mário Sérgio, na época o grande galã da empresa cinematográfica Vera Cruz. Como ele logo abandonou o papel, Gabus Mendes decidiu arriscar ao convidar Herbert, pois sabia que ele já namorava Eva Wilma – sua esperança era que a química entre eles se transferisse para o seriado. Com o sucesso em São Paulo, o programa ganhou uma versão na Tupi do Rio de Janeiro com o título Alô, Querida!, com Haydée Miranda e Paulo Maurício. Logo o casal foi trocado pelo mesmo do seriado paulista, obrigando Eva e Herbert a viajar muito para o Rio, onde o programa também era ao vivo. E, assim como Lucille Ball, Eva Wilma se afastou do seriado quando ficou grávida, substituída por Marly Bueno. Alô, Doçura! fez tanto sucesso que a fórmula voltou a ser testada nos anos 1990 pelo SBT, com Virgínia Novick e César Filho. O resultado final, no entanto, ficou muito abaixo do original.’ Keila Jimenez Combo Glória Perez ‘Vem aí o ‘Combo Glória Perez’. A Globo oferecerá ao mercado internacional, já em outubro, um pacotão inédito de duas novelas da autora: quem comprar Caminho das Índias poderá levar, de quebra – e se pagar, claro – a versão hispânica de O Clone (2001), El Clon, parceria da Globo com a mexicana Telemundo ainda em produção. Esse pacote prevê a exibição imediata de Caminho e a pré compra de El Clon, uma vez que a novela deve estrear na Telemundo só no início de 2010. A estratégia visa a aproveitar o sucesso dos textos de Glória Perez lá fora para vender dois produtos em um só. Para tanto, a Globo resolveu atrasar a venda de Caminho das Índias – que, pelo calendário habitual deveria ser comercializada para outros países há pelo menos quatro meses. Com roteiro brasileiro, adaptação da Telemundo e atores hispânicos, a Globo vislumbra para El Clon um sucesso comercial quase tão grande quanto o de sua original, O Clone, que já foi vendida para 90 países. O ‘Combo Glória Perez’ será lançado na Mip Com, feira do mercado audiovisual que acontece a partir do dia 5 de outubro, em Cannes, na França.’ ************