Pelas paredes do Sesc Pompéia, em São Paulo, imagens de esportistas misturam-se às de fenômenos naturais, conflitos civis, líderes mundiais e cenas por vezes excêntricas da vida cotidiana. É a exposição internacional World Press Photo, que traz ao Brasil uma amostra dos vencedores da mais importante premiação do fotojornalismo mundial.
A WPP é uma organização independente sem fins lucrativos fundada na Holanda em 1955. Com o objetivo de promover e incentivar trabalhos de destaque de fotojornalistas de diversas partes do mundo, ela organiza anualmente o concurso, onde um júri independente – também formado por fotógrafos – seleciona as melhores fotos do ano em onze categorias (prêmio principal, notícias gerais, personagens em notícias, artes e entretenimento, principais fatos do ano, natureza, cotidiano, retratos, esportes e ação, eventos esportivos e assuntos atuais). Em 2004, participaram da 47ª disputa mais de quatro mil profissionais de 124 países, em um total de 63.093 imagens.
Em busca de patrocínio
A mostra com os trabalhos premiados circula por 80 cidades em 40 países. No Brasil, a passagem é incerta. O problema é sempre o mesmo: falta de patrocínio. A exposição já esteve quatro vezes por aqui. Este ano, a vinda foi possível graças ao esforço de Martha Batalha, da produtora cultural Desiderata. ‘Vi a exposição em Lisboa, em 1998, e me apaixonei’, conta ela, que correu atrás da oportunidade de incluir o Brasil no roteiro oficial.
O concurso tem patrocínio internacional da Canon e TNT, mas cada país interessado em apresentar a mostra deve arcar com suas despesas. Além do espaço no Sesc, Martha conseguiu também o apoio do Consulado Geral dos Países Baixos em São Paulo, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, da Case Logic, TAM, CBN e da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo. Detalhe: ela é do Rio de Janeiro, mas não conseguiu apoio para levar a exposição à sua cidade.
Retratos da vida
A mostra, que foi aberta ao público na sexta-feira (5/11) E fica no Brasil até 5/12. As 201 fotos dos vencedores são, mais do que simples imagens, uma aula de história contemporânea. A alguns passos de um torneio de pólo no Paquistão podemos conhecer o drama de um vilarejo chinês tomado pela pobreza e pela Aids, a burocracia da Índia e a sangrenta guerra civil da Libéria. A obesidade americana se choca com a primeira e extensa geração de meninos de rua da Mongólia, nascida com a queda do regime comunista, na década de 1990.
A grande vencedora deste ano, que ganhou o prêmio principal de 15 mil dólares, é de autoria do fotógrafo francês Jean-Marc Bouju, para a Associated Press. Tirada por trás de uma cerca de arame farpado, mostra um prisioneiro iraquiano em Najaf, encapuzado, que consola o filho pequeno. Conta a história que o menino teria ficado desesperado ao ver o pai encapuzado e algemado. Um soldado americano teria retirado as algemas do homem para que ele pudesse acalmar a criança. Assim como esta foto, todas as outras presentes à mostra tocam, de alguma maneira, quem as vê. Todas elas contam um pedacinho de uma grande história: a história do mundo em que vivemos.