Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Movimentos pela desconcentração da mídia

Dois dos três jornalões nacionais, O Globo e Folha de S.Paulo, saíram na quinta-feira (19/3) com matérias sobre as mudanças que a presidente Cristina Kirchner quer fazer na legislação para diminuir a concentração da mídia argentina (ver, neste OI, ‘Conseguirá Cristina fazer o que Lula não fez?‘, e na Folha OnlineCristina Kirchner propõe lei para desconcentrar a mídia na Argentina‘).


A idéia é positiva e democrática: quanto mais empresas de mídia atuando no mercado, mais diversidade e pluralidade. A concentração da mídia argentina, de certa forma, é pior do que a brasileira porque aqui as coisas são mais transparentes, visíveis; no país vizinho as associações são quase clandestinas.


Acontece que a ofensiva do governo argentino para oxigenar a sua mídia, embora resulte de uma antiga aspiração, só foi formalizada poucos dias depois da decisão de antecipar as eleições legislativas. Pode ser coincidência, mas também pode ser um tipo de manha que está se tornando moda na América Latina: intimidar e enquadrar a imprensa em momentos em que ela pode ser decisiva.


É notória a má vontade do casal Kirchner com a imprensa local, porém chama a atenção o fato de que esta má vontade tenha se materializado justamente quando começa uma corrida eleitoral que não estava prevista. Aqui no Brasil fazemos as coisas com um jeitinho especial.


Fogo amigo


Um movimento semelhante para desconcentrar a mídia brasileira também foi divulgado pelo governo nesta semana (ver ‘Governo define tema da Conferência de Comunicação‘). A desconcentração aqui também pode representar um importante avanço democrático.


A manobra foi mais sutil: quem vai discutir as mudanças será uma Conferência Nacional de Comunicação Social no fim deste ano, da qual participarão três ministérios e todos os setores interessados.


Note-se, porém, que no ano seguinte teremos eleições presidenciais. Se o Conselho de Comunicação Social não tivesse sido embargado há três anos por ordem do senador José Sarney, grande aliado do governo, parte substancial das mudanças já estaria sendo discutida e talvez até implementada.