Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

MP 449 e o perdão das dívidas

É muito comum que assuntos econômicos e financeiros se restrinjam aos espaços da imprensa especializada. Até aí, tudo certo, o futebol também tem seu espaço especializado. Para mim, a pergunta é: será que a imprensa especializada brasileira tem condições de cobrir os meandros do embate político/econômico? Não tenho certeza, por dois motivos: o número de jornalistas empenhados nesta tarefa e a capacitação deles nestes assuntos técnicos.

Um dos exemplos que me chamou a atenção foi a cobertura, que considero de modo geral fraca, dada às negociações em torno da MP449, do ‘perdão de dívidas’, que agora está no Senado. Será que algum dos repórteres que escreveu sobre a MP 449 leu o texto de lei proposto? E se leu, entendeu? Ou só estamos reproduzindo o que a assessoria de imprensa oficial passa adiante?

Está certo, repórter não é fonte, mas ele tem que verificar a veracidade das fontes e para isso precisa ler e entender, pelo menos, a lei que se propõe. Algum repórter poderia argumentar que o texto da MP 449 tem 50 páginas de ‘juridiquês’ e ‘economês’ e que não dá tempo para esta leitura de um dia para o outro. Isto é só a ponta do iceberg que congela nossa imprensa para assuntos econômicos/políticos.

Negócios e negociatas

As MPs, muito espertamente, substituíram o que seria a Reforma Tributária, que foi para a gaveta, e no lugar dela surgiu uma espécie de super-acordo palaciano que ‘escanteou’ qualquer debate sério sobre a legislação fiscal brasileira, tudo isso na base do ‘é dando que se recebe’. Não vi este fato ser coberto pela imprensa de maneira crítica e bem informada. A Agência Câmara foi o mais breve possível sobre as MPs e o resto da imprensa ‘especializada’ seguiu o mesmo caminho, reproduzindo só o ponto de vista oficial. ‘Perdão de dívidas’… Só um momentinho, como assim, ‘perdoar’? Que ‘dívidas’ são estas? Quem tem estas ‘dívidas’? Quem ganhou e quem perdeu com a MP 449? Ninguém perdeu? Acreditei.

Neste episódio pontual, a imprensa colaborou para o total obscurantismo que só beneficia as grandes negociatas que acontecem nos bastidores do Congresso e que o leitor comum quer saber a tempo, e não só quando roubos absurdos ficam escancarados e batem à porta de todos os brasileiros.

Para muitos repórteres, é mais fácil cobrir gafes de políticos semi-analfabetos e os desmandos de seus orçamentos relativamente pequenos (se comparados ao PIB nacional e às grandes contas do país), do que entender e explicar para o leitor comum o que realmente os técnicos da área econômica do governo estão armando na imensa floresta de oportunidades de negócios e negociatas que é o Brasil.

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Jornalista