Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

MST contesta artigo

O colunista Leonardo Attuch, da revista IstoÉ, demonstrou ser um jornalista mal informado em seu artigo intitulado ‘Stedile, o Motosserra’, publicado semana passada. A coluna mistura assuntos de naturezas diferentes, organizados para atacar a reforma agrária e o MST.


1. Em primeiro lugar, nenhum dos oito assentamentos da lista dos maiores devastadores da Amazônia, divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente, localizados no Mato Grosso, é coordenado pelo MST. Além disso, nenhuma das matérias publicadas nos jornais considerados mais importantes do país fez qualquer referência à responsabilidade do MST sobre esses casos de desmatamento. Ou seja, o sr. Attuch demonstra uma profunda ignorância sobre a questão agrária, quando omite os processos de legalização da grilagem e da pilhagem da madeira da Amazônia e associa mecanicamente assentamentos à reforma agrária e sem-terra ao MST.


2. A presença de área do Incra nessa lista é conseqüência da criação de assentamentos ilegais em benefício de madeireiras na Amazônia Legal. Investigações do MPF (Ministério Público Federal) e do Greenpeace identificaram a falta de laudos e licenciamento ambiental, além de cadastros adulterados, para criação formal dos chamados ‘assentamentos fantasmas’, destinados ao desmatamento de áreas florestais para extração de madeira. A responsabilidade é da política agrária do governo federal, tanto na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso quanto do presidente Lula, de regularizar a posse de áreas sem critérios adequados para inflar os números da reforma agrária.


Temas fundamentais


3. O sr. Attuch faz uma grande confusão e mistura com o tema do desmatamento uma crítica sobre ‘o Estado financiar, com dinheiro dos contribuintes, organizações que invadem fazendas’. O MST nunca precisou de recursos do Estado para fazer ocupações de fazendas para pressionar pela reforma agrária. Todos os protestos são financiados pelas famílias sem-terra e por amigos, entidades, ONGs e sindicatos que apóiam luta pela reforma agrária. Os projetos que são realizados em parceria de entidades da reforma agrária com os governos são dirigidos para áreas de educação e saúde no campo e produção e assistência técnica dos assentamentos, responsabilidades do Estado, de acordo com a Constituição.


4. O sr. Attuch simplifica questões complexas quando sugere que assentados cortam ‘madeira muito acima do limite de 20% permitido pela lei’. Ora, é a bancada ruralista no Congresso que tenta aprovar o projeto de lei 6.424/05, do senador Flexa Ribeiro (PSDB), que autoriza a derrubada de até 50% da vegetação nativa em propriedades privadas na Amazônia. Participamos, ao lado do Greenpeace, da campanha ‘Desmatamento Zero’, em defesa da Amazônia, ao lado de diversas entidades da sociedade civil, que exige a rejeição desse projeto, apelidado de ‘PAG (Plano de Aceleração da Grilagem)’.


5. A nossa análise da agricultura não cai no maniqueísmo, no entanto, o que esse artigo faz justamente o que se critica, mas mudando os sinais: o agronegócio é herói e os camponeses são vilões. Para isso, o artigo do sr. Attuch, por trás de uma isenção dantesca que sabidamente não possui, lança mão de malabarismos, misturando questões que não têm sentido senão para atacar a reforma agrária e o MST.


Divulgamos uma nota à imprensa com esses esclarecimentos. Se houve omissão, foi uma questão ética; caso não tenha tomado conhecimento, o problema é profissional, porque fazer acusações sem uma pesquisa básica sobre o assunto é irresponsabilidade. A imprensa precisa tratar de forma honesta, séria e cuidadosa de temas fundamentais para o futuro do país, como a Amazônia e a agricultura, para que a sociedade tenha elementos para fazer seu julgamento e compreender os interesses que estão por trás de determinadas análises e pontos de vista.

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Da Assessoria de Comunicação do MST, Secretaria Nacional