Os dois mais importantes jornais da Itália são o vetusto Correire della Sera, fundado em 1876, e la Repubblica, com exatos cem anos menos. Este último surgiu quando o milagre italiano já era uma realidade irreversível e chegou para inovar, além do conteúdo, da paginação e da linha editorial – apareceu em forma de tablóide.
Sou leitor de la Repubblica, todos os dias da semana menos às quintas-feiras, quando vou para o Corriere pois traz o encarte ‘Magazine’ e confesso que me tornei totalmente dependente da forma tablóide; o outro tamanho me é estranho e é até difícil virar as páginas.
Agora, que completa 31 anos, la Repubblica mais uma vez resolveu inovar mudando a estrutura e a própria concepção do jornal.
Desde quarta-feira passada (19/9), o jornal passou a dividir-se em três. A parte principal conterá as notícias mais importantes do dia; aqui que se faz necessário saber para entender com maior clareza, na forma gráfica e na riqueza informativa.
Pensamentos de Sarkozy
No coração do quotidiano, nasce o ‘R2’, que recolherá diariamente os serviços especiais de la Repubblica. Um jornal de investigações, histórias, dossiês, reportagens e contos para aprofundar fatos e protagonistas da grande crônica italiana e mundial. Nesse novo espaço, a política também terá seu lugar, não uma política que fale de si própria, mas aquela que fale das pessoas e do mundo.
Na parte central do jornal se poderão encontrar as cartas dos leitores, precedidas de uma nova página de idéias, que diariamente apresentará um documento inédito elaborado pelo testemunho de quem o viveu.
Nesse primeiro número, a parte de idéias trata da mudança do mundo pela arquitetura, com pensamentos do presidente francês Nicolas Sarkozy, externados quando da inauguração da ‘Cité de l’architecture’, em Paris, tais como: ‘A arquitetura é a identidade de um país. Me empenharei totalmente na missão de restituir a esse mister a possibilidade de ser audaz’.
Completo em seus temas
No ‘R2’ propriamente dito, a matéria de capa é sobre a Camorra (a máfia napolitana) e ocupa ainda mais duas páginas. As duas seguintes têm por título ‘Maddie não mora mais aqui’ e tratam do desaparecimento da menina inglesa Madeleine McCann, de 4 anos, fato ocorrido no dia 3 de maio em Portugal, onde estava junto aos pais passando as férias. Hoje os principais suspeitos do ocorrido, depois de investigações da polícia local, são os pais da menina. Segue-se um trabalho sobre as dificuldades da igreja católica na China, com depoimentos do cardeal (Hong Kong) Joseph Zen ZeKuin.
Na parte de pesquisa, o assunto é o aumento do preço do pão. Na seção ambiente, trata-se do aumento de temperatura dos mares.
A seção de cultura do ‘R2’ é dominada por Delio Cantimori (1904-1966), historiador interessado profundamente nos documentos sobre os heréticos do Renascimento. ‘R2 espetáculos’ é dedicada à maior cantora de música latina da atualidade: a cubana Gloria Estefan, com mais de 90 milhões de discos vendidos e diz: ‘Canto para minha Cuba sem Castro’.
A mudança parece que foi de agrado geral. Tem-se um diário que tenta ser completo nos seus temas, como diz o jornalista Ezio Mauro (diretor responsável): três partes diversas em um só jornal, todas reunidas ao que mais nos liga a nossos leitores – aquela certa idéia da Itália que la Repubblica continua a testemunhar depois de mais de 30 anos, fiel à obrigação de mudar permanecendo a mesma.
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Jornalista