Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mudar para não desaparecer

Preocupados com a constante decadência no número de assinaturas e de vendas em banca, jornais de todo o mundo estão repensando seus fatores estéticos e os atrativos oferecidos aos leitores. Se em outros tempos a mídia eletrônica – representada pelo rádio e pela TV – não chegou a abalar a tradicional credibilidade do jornalismo impresso, o mesmo não se pode afirmar em tempos de internet e de Sociedade da Informação.


Isso porque a internet vem ditando, há algum tempo, o ritmo de produção e leitura de notícias. Influenciados pelo panorama tecnológico e de olho no faturamento, jornais tradicionais ingleses em formato standard como The Independent, The Times e The Guardian aderiram à onda da redução e estão circulando em novo formato, o berliner (28 x 42 cm), meio-termo entre o standard e o tablóide. O preço de capa caiu e as vendas, tanto de assinaturas quanto de espaços publicitários, aumentaram. Em território brasileiro, o Jornal de Londrina (Paraná) ousou ainda mais: além de migrar para a versão condensada, também passou a circular gratuitamente.


Há dias, duas novas mudanças – bem menos radicais, é verdade – foram recebidas pelos leitores brasileiros: a Folha de S. Paulo e A Notícia (de Joinville, SC) apresentaram novos projetos gráficos, mais arrojados, dinâmicos e que, curiosamente, lembram o ambiente da internet. Essa associação quase imediata, feita pelo observador mais atento, tem explicação: é na rede mundial de computadores que está a maior parte da informação acessada pela sociedade contemporânea, um meio que precisa mudar constantemente para atrair visualmente a atenção do internauta. Essa linguagem, por conseguinte, acaba sendo captada pelos meios mais tradicionais, e o jornal impresso tende a reproduzir as inovações apresentadas na internet: tipografia, utilização de fotografias e demais imagens, grafismos e layout acompanham essa tendência.


Outra explicação lógica para a necessidade em revolucionar a partir do projeto gráfico parece ser uma tentativa do jornal impresso em fazer frente à internet não somente como mídia informativa, mas como espaço de entretenimento. Entretanto, é importante que o conteúdo acompanhe a evolução da forma e que os jornais abram espaço para reportagens mais aprofundadas, porque os principais concorrentes dos jornais de hoje não são os outros jornais, mas as outras mídias, como internet.


Mais espaços e destaque para as imagens


O curioso nas duas propostas gráficas (Folha e A Notícia) é que as mudanças são muito semelhantes, assim como os resultados obtidos. Entretanto, a mexida maior é sentida em A Notícia, que passa a usar em seus títulos uma tipografia mais moderna, sem serifa e com toques artísticos que lembram as fontes utilizadas em anúncios publicitários. O novo projeto mantém as fontes serifadas para os textos, o que lhes confere credibilidade, permite legibilidade para trechos mais longos e, ainda, realiza um acabamento interessante a partir do contraste entre as duas famílias tipográficas utilizadas.


Outro toque peculiar, que combina mudança editorial e gráfica, é a presença de cartolas (ou chapéus) acima de cada título, identificando a temática ou o assunto a ser noticiado, não se excetuando sequer os títulos das notas menores.


Os espaços livres, também chamados de zonas brancas ou áreas de arejamento (na parte superior da página recebem o nome de entrada e, na parte inferior, são chamadas de saídas), ganham mais destaque no novo projeto, concebendo mais leveza a todo o documento. A distância entre as colunas, maiores e mais equilibradas, também reforçam a harmonia presente na proposta.


A capa, também mais limpa e melhor dividida, apresenta uma valorização intencional para as imagens e para a tipografia. A presença de linhas duplas dividindo os principais assuntos é outra inovação de A Notícia, que já aparece partir da capa e é levada para as páginas internas.


Na Folha de S.Paulo, as mudanças foram mais tímidas e menos arrojadas, mas não menos importantes. A utilização da cor como elemento de composição da página, principalmente nas capas de cada caderno, é uma mudança bastante significativa. Primeiro, porque apresenta cores mais vivas, escuras e em blocos não tão discretos. Depois, porque faz a clara opção por uma visualização mais artística do layout, demonstrando preocupação em comunicar pela imagem, num pensamento de que o jornal, antes de ser lido, precisa ser visto e compreendido como um todo.


Outra mudança da Folha combina a linha editorial e a proposta gráfica: a linha de apoio volta à parte inferior do título, depois de um longo período sendo disposta acima deste elemento. Também de caráter editorial-gráfico é a presença das cartolas acima dos títulos, que a partir de agora passam a ser escritas em fonte de serifa grossa, uma marca da família das egípcias. Isso confere mais peso à informação, e contrasta com as áreas brancas e com a diagramação vertical da nova proposta. Contrariando a tendência de horizontalidade, ideal para um jornal de 53 centímetros de altura, a diagramação vertical permite maior liberdade, apesar de exigir maior criatividade.


Na capa de cada caderno, há uma utilização mais racional da mancha (área total impressa de uma página), que agora distribui melhor os elementos textuais e ilustrativos. Na parte superior, uma agradável surpresa: a utilização de fotografias, em destaque, já ao lado do título de cada caderno, que agora são escritos em minúsculas. A imagem, agora tratada como elemento principal, valoriza a informação e os espaços sem tirar o peso dos textos, ainda que a sutileza das alterações tenha sido o principal objetivo da equipe responsável pelo novo projeto.


Em tempos de competitividade, os jornais preferem ser tachados de ser uma versão impressa da informação online do que cair prematuramente no esquecimento. E levar consigo uma geração de leitores que não vive sem o jornal de domingo.

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Jornalista, professor do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Univali e pesquisador do Monitor de Mídia, integrante da Renoi