São usados equivocadamente na mídia brasileira:
>> “Decreto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva” (vide Valor, 2/1, Ribamar Oliveira, “O ‘cartão desastre’ já existe desde 2010”). Ex-presidente, ex-governador, ex-prefeito não decretam nada. Muito comum também a forma “ex-ministro do governo Tal”, pretendendo dizer que alguém foi ministro do tal governo. E numerosas variações: ex-prefeito, ex-secretário do prefeito, ex-vereador (“Foi proposta do ex-vereador Roberto Pérez”, referência a ato realizado – ou cometido – no exercício de mandato). Esses problemas, de pequena monta mas capazes de distrair a atenção do leitor, portanto a evitar, se resolvem com o recurso ao velho e prosaico advérbio “então”: “decreto do então presidente Luiz Inácio” etc.
>> Deteriorar(-se). Da mesma maneira que se usa “proliferar-se” por “proliferar” (verbo sempre intransitivo; vide “Nanodicionário”… v. 7, faz-se operação inversa com o verbo “deteriorar”, que pode ser tanto transitivo direto (“desrespeito à gramática em textos de jornais deterioram as mentes dos leitores incautos”) como pronominal (“deteriorou-se a paciência do assinante em face do excesso de agressões à língua”). No segundo caso, talvez seja influência da língua falada em Minas Gerais, Goiás e adjacências, onde é muito comum a omissão do pronome: “Ele divertiu muito” etc.
>> Frei (por “frade”). Frei (forma proclítica apocopada de “freire”, variação do latim frater, pelo provençal fraire = irmão) é forma de tratamento a ser usada junto ao nome: “Frei Damião”. Quando se faz referência a membro de ordem religiosa, deve-se usar “frade”. Daí que se possa usar artigo antes de frade (“O frade dobrou a esquina, pensativo”), nunca antes de frei (“Frei Augusto caminhava sem destino”). A distinção fica clara em exemplo dado por Napoleão Mendes de Almeida (Dicionário de questões vernáculas, São Paulo, LCTE – Liv. Ciência e Tecnologia, 1994): “Entre os frades estava frei Ângelo”. De “frade” derivam “fradar-se”, “fradaria”, “fradalhada”, “fradejar”, “fradesco”. De “frei” não deriva coisa nenhuma. Essa abreviatura também não vai para o plural. Escreveu Napoleão Mendes de Almeida, que muitas vezes estava coberto de razão: “’Foram condenados os freis dominicanos’ não é redação do nosso idioma” (ibidem).
Leia também