O ano de 2010 começa com mais uma notícia de um ‘desastre natural’. Assistimos novamente cenas marcantes de deslizamentos de terra e inundações, o que torna inevitável que relembremos a enchente de novembro de 2008, que assolou o Vale do Itajaí.
Ao assistir repetidamente às imagens e às notícias sobre esta ‘tragédia’ percebo uma ênfase constante na divulgação do número de vítimas, número de pessoas atingidas e casas condenadas, porém não vi em momento algum um debate mais aprofundado sobre as causas que levaram a estes acontecimentos.
A situação é idêntica à vivida na região do Vale do Itajaí, onde passado mais de um ano da enchente que assolou a região vemos poucas ações sendo realizadas para que evitemos novos acontecimentos como estes. Assistimos em estado de inércia ao descaso com a situação, o que acaba por nos levar a achar este fato normal.
Torna-se comum e rotineiro achar que foi apenas uma ‘catástrofe natural’ e que não temos nada a ver com a situação, pois, é sempre mais fácil nos eximirmos de culpa. Não vejo uma discussão aprofundada sobre as causas e possíveis solução para amenizar estas situações.
O ser humano como ponto central
Fica evidente que estamos sempre esperando que fatos como estes não ocorram ao invés de trabalharmos para evitar/amenizar os mesmos. Ao pararmos para discutir estas catástrofes dois discursos são sempre bem marcantes, que são eles:
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Falta de planejamento: especialistas apontam a falta de planejamento como um grande motivo para que as situações de desastres se agravem; eu colocaria que não se trata da ‘falta’, e sim, a forma que planejamos. Esta forma está sempre associada a interesses particulares, desconsiderando quase completamente os interesses da coletividade e as questões ambientais. E fica evidente que apesar de considerarmos a falta e/ou a forma de planejamento um grande problema não se vê qualquer esforço dos nossos governantes para mudar o mesmo.**
Falta de recurso: quando soluções são apresentadas para se evitar o problema, os nossos governantes têm sempre a resposta na ponta da língua: faltam recursos. Porém, quanto perdemos a cada tragédia/catástrofe natural? Assistimos no Brasil ao uso inadequado do recurso público e achamos isto normal, mesmo que isto afete a execução de uma obra fundamental para e evitar/amenizar novas tragédias/catástrofes naturais.Discursos recorrentes e que não possuem mais qualquer coerência sem uma efetiva ação, é necessário mudarmos a situação vigente, mesmo que para isso tenhamos que realizar ações que gerem um desgaste de imagem com alguns setores da sociedade. Não podemos mais desconsiderar os fatos recorrentes como fizeram os líderes mundial na conferência de Copenhague, na Dinamarca.
Mas, ao que tudo indica, vamos ter em breve novos eventos com conseqüências cada vez maiores. Lembro-me bem que ao discutirmos a enchente de novembro de 2008 na cidade de Itajaí uma pergunta sempre era feita: qual enchente foi ‘maior’, as de 83/84 ou a de 2008? E esta resposta está diretamente relacionada à população atingida. Então, no imaginário das pessoas, a de 2008 sempre será maior, pois, sempre analisamos vendo o ‘ser humano’ como ponto central do evento.
Potencial para o desenvolvimento
Os recorrentes desastres naturais nos apontam que temos que tomar atitudes urgentes e colocar em voga toda nossa atual relação com o meio ambiente. Rever a forma como pensamos e trabalhamos a questão ambiental é provavelmente hoje a maior prioridade mundial. Temos que acabar com o discurso no Brasil de que a Europa e os Estados Unidos poluíram e acabaram com os seus recursos naturais e que temos que fazer o mesmo. Isto é um erro sem precedentes, pois salvaguardar o meio ambiente é um grande investimento para um país que pensa em um futuro próximo se tornar uma potência. Mas para isso, o Brasil precisa de políticas ambientais sérias e eficazes, que sejam capazes de compreender os interesses da coletividade.
Por isso, digo que chegou a hora de cobrarmos dos nossos governantes atitudes para salvaguardar o meio ambiente conforme previsto em nossa Constituição Federal. Chegou a hora do meio ambiente ser protagonista das nossas discussões. Temos que fazer dele um potencial para o nosso desenvolvimento.
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Oceanógrafo, discente do Mestrado Profissional em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Sócio-Ambiental da Universidade do Estado de Santa Catarina-Udesc