Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Não vote em quem não paga o piso

O Piso Salarial Nacional é uma luta de muitos anos dos educadores e muitos até morreram na esperança de que o mesmo seria pago ou implantado. Depois de muita luta, foi sancionado pelo governo Lula dando esperanças de que finalmente os educadores teriam um referencial de salário para iniciar um processo de resgate de dignidade que, embora não deva se limitar ao salário, já é um bom começo. Acontece que a lei não foi cumprida nem no governo Lula nem no governo Dilma. O Ministério da Educação e Cultura já fez sua parte para atrapalhar o processo de implantação rebaixando o valor real do piso e dando munições para governadores e prefeitos sem consideração nem respeito à educação criarem maquiagens econômicas para não implantação.

O grande problema que vemos é que nossa imprensa continua silente em relação ao problema. Não investigando dentro dos processo econômicos e suas teorias o motivo do não pagamento desta pequena contribuição à dignidade dos educadores. A revista Veja da última semana mostrou um pouco do caos na educação através dos resultados imorais do Exame Nacional de Ensino Médio que está, sim, relacionado com a falta de dignidade e autoestima da educação. Que venham mais reportagens das outras revistas. Procurem urgentemente discutir temas como bullying, ciberbullying, burnout e desestímulo dos educadores que até querem fazer trabalhos e são barrados pelos mecanismos burocráticos da educação.

Nossos meios de comunicação deveriam iniciar uma campanha séria em prol da educação, pois sem pessoas educadas não vai haver consumidores de jornais, revistas e periódicos além de termos uma massa falida de telespectadores e ouvintes. Será que seria isso que nossos meios de comunicação querem? Pessoas sem senso crítico, sem criatividade, sem poder de discernimento para julgar o bom programa, a boa coluna, o bom comentário? Pessoas cultas são consumidores de mídia tanto pelo nível cultural quanto pelo nível econômico.

Que tal a mídia encampar?

Sugerimos que os meios de comunicação iniciem a campanha “Não vote em quem não paga o piso”, pois quem não o paga não tem compromisso com o povo nem com a sociedade em geral e realmente não quer que a educação aconteça de forma eficiente e eficaz. Precisamos dar lugar à educação em nossos meios de comunicação. Quantos programas temos na televisão sobre educação? Quais jornais têm colunas dedicadas à educação? Onde estão as revistas que investigam a verdade sobre a educação? Recentemente, um filme denominado Carregadoras de sonhos denunciava o caos na educação e a falta de respeito dada a educadoras. São casos reais. Por que ninguém diz nada? Algumas colunas de jornais, como a de Gilberto Dimenstein, tocam na educação, mas infelizmente apenas culpabilizam os professores por alguns insucessos da educação… Claro que há profissionais e profissionais, mas a solução da educação não é por aí.

A imprensa não poderia se omitir diante deste caos que todos os dias está presente nas escolas onde aos professores é negada até a simples reprodução de textos para atividades que merecem respeito e devem ser divulgados. Nesse sentido vai uma crítica a revistas como Nova escola, da Editora Abril, que anteriormente publicava experiências desenvolvidas e hoje apenas faz reportagens que, embora válidas, não servem para dar dignidade aos professores. O prêmio Professor Nota Dez, promovido pela revista, tem resultados um pouco nebulosos que não dar para entender nem pela situação das atividades nem pelo conhecimento do acompanhamento das atividade que foram desenvolvidas.

Não é possível que nossos meios de comunicação continuem silentes diante do caos, não motivem o povo a buscar educação de qualidade. Queria ver uma secção investigativa sobre a Lei do Piso e sua aplicabilidade, que certamente seria um momento de esclarecer a população sobre a falta de responsabilidade dos governantes em sua implantação. A campanha “Não vote em quem não paga o piso” seria uma oportunidade da imprensa cumprir seu papel verdadeiro perante a sociedade. ABI, Fenaj, Intervozes, FNDC, que tal encampar esta demanda? Quem se habilita, ou é pedir muito? Se cada um fizesse sua parte o mundo seria bem melhor e os governantes aprenderiam a respeitar os educadores…

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[Francisco Djacyr Silva de Souza é vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE]