Que a Copa do Mundo da África do Sul está registrando uma média de gols baixíssima, todos aqueles que acompanham as partidas, ou simplesmente veem os noticiários, sabem. O pensamento de que nessa Copa, especificamente, não tem tido um favorito emergindo de forma sólida para a conquista do título também é frequente. Ainda assim, o desempenho apresentado por algumas seleções que ostentam nome, durante as primeiras rodadas deste torneio é um tanto contestável e não merece desculpas. Mas em suma, o que é aquele futebol protagonizado pelas equipes de França e Inglaterra? Como podem duas seleções tradicionais jogar de forma tão displicente e descompromissada?
Algumas informações merecem destaque. A base da seleção inglesa, salvo algumas exceções, é praticamente a mesma que disputou a Eurocopa 2004, em Portugal. Já os bleus, ou ‘impostores’ – como estão sendo chamados, por hora, pela torcida francesa – tiveram um número considerável de alterações em seu elenco ao longo dos últimos anos. Lá se foi a geração de Lilian Thuram, Claude Makelele, Petit, Didier Deschamps, além do melhor e mais importante de seus ídolos, Zinedine Zidane – do qual os franceses se tornaram tão dependentes. Porém, ao refletir sobre o assunto não se pode esquecer do fato de que esta é a atual vice-campeã mundial da última Copa do Mundo, em 2006, na Alemanha.
Lesões e escândalos
De qualquer forma, o problema francês começa com o líder, coisa que, na verdade, a França não tem no momento. O guru e astrólogo Raymond Domenech é tudo menos treinador, pois não motiva, não consegue trazer evolução à equipe com os treinamentos e ainda consegue rachar o grupo às vésperas de um mundial se iniciar. A exclusão de Anelka e a briga de Evra com o auxiliar técnico é só um visível resquício de um problema muito maior que vem sendo amadurecido há meses, ou até anos.
Pelo menos o homem que ocupa o cargo de treinador da equipe já está com os dias contados. Laurent Blanc assumirá a seleção francesa logo após a Copa – este sim, conhecido por sua habilidade e liderança em clubes que passou, como Barcelona, Olympique de Marselha, Inter de Milão e Manchester United.
O fim de temporada do futebol inglês trouxe alguns pesadelos para a seleção. Jogadores importantes como Ashley Cole, Wayne Rooney e Joe Cole tiveram contusões, ainda que simples, enquanto Beckham e Owen não puderam voltar a tempo por conta de lesões mais graves, o que pode até ser enfatizado por alguns como um dos fatores determinantes para o desempenho abaixo do esperado por eles. Mas o maior problema se deu com o escândalo envolvendo o zagueiro Terry, o lateral Wayne Bridge e sua namorada, que resultou na perda da braçadeira de capitão do zagueiro do Chelsea, passando para Ferdinand e, por fim, para Gerrard, por conta da contusão do zagueiro do Manchester United na preparação para a estreia.
Astros denotam menosprezo
A invasão de estrangeiros na Premier League também pode ser considerada como fator de influência, inclusive com um pouco mais de expressão que outros, mas novamente são só migalhas de um grande problema. A seleção inglesa tem uma escalação quase fixa há anos, com exceção de uma ou outra baixas e alterações. A mudança de técnicos – com a saída de Sven Goran Eriksson para a entrada de Fabio Capello – trouxe uma evolução inicial, mas na hora dos desafios, as coisas voltaram a estaca zero.
É incrível como o favoritismo inglês – que retorna a cada participação da equipe em competições internacionais – permanece na mídia e na boca do povo, sendo que nos torneios disputados pelo English Team este favoritismo é, de modo geral, superado facilmente. O ego acima da média entre os jogadores com cadeira cativa na equipe de Capello é notoriamente visível. Os astros dos campeonatos da terra da rainha, bem como da tão cobiçada Uefa Champions League, denotam ar de menosprezo toda vez que um torneio começa. A mídia, e consequentemente os fãs, sempre espera que os intocáveis Gerrard, Rooney e Lampard – sendo este último o mais improdutivo – arrebentem da mesma forma que em que seus clubes.
A polêmica mão salvadora
Perante a mídia, os ingleses já conquistaram o título, com direito a artilharia de seu camisa 10, antes mesmo do apito soar. E para aumentar o problema, o time joga como se o mesmo já houvesse terminado, sem o mínimo esforço.
Apesar da Inglaterra ter passado de forma desesperadora para a segunda fase, é no mínimo indispensável que haja algum tipo de reformulação nas duas seleções, seja ela semelhante ou não àquela feita por Dunga na seleção brasileira (após a equipe do ‘quadrado mágico’ de Parreira ter sido eliminada, curiosamente pela França, em 2006). Como alternativa, talvez essa seja a melhor hora para alguns medalhões, banhados a ouro, serem protagonistas de suas seleções, mas fora dos campos, quem sabe, nos museus de cera.
Se não querem nada com a equipe que representa seu país, então que permaneçam em seus clubes, nadando em dinheiro. Que se contentem com seus campeonatos locais e europeus. Afinal, o que é a Copa do Mundo para eles, senão uma perda de tempo?
O mundo não precisa ser testemunha deste futebol medíocre e passivo.
Por essas e outras tantas que a tal linha que divide a paixão do futebol e o mercado no qual o mesmo se tornou, se faz mais nítida. É aí que o torcedor começa a desgostar vagarosamente do que se vê e ouve. É aí que o futebol se torna cada vez mais igual, mais nivelado, só que por baixo, ao contrário do que se aparenta.
E para fechar, o guru Domenech deveria ter se prevenido diante do que estamos vendo em 2010. De repente, teria exercido um pouco de liderança ao alertar Henry das consequências da polêmica mão salvadora. Azar da França. E os irlandeses agradecem.
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Estudante de Jornalismo do Unasp, Engenheiro Coelho, SP