Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Nossa máxima culpa

Lula prometeu uma nova política econômica, livre do FMI.

Lula prometeu criar dez milhões de empregos.

Lula prometeu, no começo de seu mandato, o rápido início do espetáculo do crescimento.

Lula prometeu dobrar o salário mínimo, em termos reais.

Lula prometeu uma reforma agrária que serviria de exemplo para o mundo.

Lula prometeu outro exemplo para o mundo: cada brasileiro teria à mesa três refeições diárias, pelo programa Fome Zero.

Agora, que a popularidade de Lula está caindo, a culpa é da imprensa.



Semo homenajeadus

Por falar em imprensa, um portal lembrou que 7 de abril é Dia Nacional do Jornalista em homenagem à data de fundação da ‘Assossiação Brasileira de Imprensa’. Tudo bem, tem gente que fala ‘menas’, mas ‘Assossiação’ é novidade. Que logo será substituída por ‘Assossiassão’.



Nóis tudo

Está em outro portal – e, desta vez, é mais grave, porque se trata de empresa de comunicação: ‘Alguns estão utilizando o serviço para uso comercial’. Utilizar para uso – não é notável?

O Português é um idioma de rara resistência: consegue agüentar todas essas agressões e continua vivo.



Escondendo…

A gente entende: os gringos querem espionar a revolucionária tecnologia brasileira de enriquecimento de urânio. E a espionagem é seu único motivo, já que o Brasil, com sua índole pacífica e seu povo ordeiro, jamais pensaria em utilizar a energia nuclear para fins militares.



…e mostrando

Só que, em 1967, o então chanceler Magalhães Pinto, em entrevista a este repórter (que foi manchete do Jornal da Tarde), informou que o governo brasileiro estava disposto a construir a bomba atômica.

Em 1990, o presidente Fernando Collor mandou tapar um imenso poço cavado na Serra do Cachimbo, no Pará, aberto por ordem militar em absoluto segredo. O poço foi tapado, mas o segredo nunca foi inteiramente revelado – por exemplo, de onde saíram as verbas para construí-lo? O pessoal que conhece as coisas diz que um poço como aquele é perfeito para testes subterrâneos de bombas nucleares.

Já neste governo, o então ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, disse que o Brasil deveria dominar o ciclo completo do urânio, o que inclui a bomba atômica.

Alô, colegas de imprensa! Não vale a pena investigar melhor esse caso da tecnologia revolucionária que não pode ser espionada?



Centavo federal

A 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal foi chamada a opinar em recurso extraordinário que envolvia um centavo. Exato: um centavo. Uma empresa tinha tido seu recurso rejeitado, em instância inferior, sob o argumento de que faltava um centavo para inteirar o pagamento de custas. A questão foi ao Supremo, principal Corte do país. (A propósito, um centavo não é a quantia correta: o montante exato da dívida era de 9/10 de centavo, que foram arredondados para um centavo para facilitar o pagamento).

Curiosa, essa notícia. E, se é agora que o caro leitor está tomando conhecimento dela, reclame da imprensa: isso não é um escândalo?



Guerra no Rio

Parece o Iraque, mas é o Rio de Janeiro. Gente mascarada e armada, balas traçadoras, granadas, tiros, muitos tiros. Os repórteres, como de hábito, na linha de frente, e desprotegidos. A TV narra, como se fosse coisa normal, que os traficantes que controlam uma favela querem invadir a outra, para dominar seus pontos de droga.

O mais impressionante, no entanto, não é a explosão nem o tiro. O mais impressionante é ver aquela imensa área tomada por casebres, sem uma árvore, sem uma praça, sem um espaço livre (e, claro, sem postos de saúde, sem bibliotecas, sem nada que lembre a presença do Estado).

A grande matéria é a favela, não o tiroteio entre as favelas. E temos duas grandes experiências que não estão sendo aproveitadas no noticiário jornalístico: a do próprio Rio, no governo Carlos Lacerda, tendo à frente a professora Sandra Cavalcanti; e a de Curitiba, na administração Jaime Lerner.

Lerner e Sandra estão vivos, lúcidos, ativos. Pelo que parece a este colunista, têm visões diferentes (e divergentes) sobre como atuar nas favelas. Seria interessante ouvi-los – mais interessante do que transmitir gravações de marginais dizendo que ‘os alemão tão entrano’.



A linda favela

Experimente: veja na TV, naquelas imagens de cima, como é uma favela. Pense em como deve ser a vida naquele lugar árido, superpovoado, sem higiene. E lembre-se de que a imprensa quase toda glamourizou a favela, com o objetivo de se opor ao governador Carlos Lacerda, que tentou removê-las. A favela era linda, ficava pertinho do céu, ninguém pagava aluguel. Faz pouco tempo, caro leitor. Ainda não se completaram 40 anos.

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação, e-mail (carlos@brickmann.com.br)