A Associação de Jornais dos Estados Unidos (NAA – Newspaper Association of America) divulgou novos números que mostram a queda de investimentos em publicidade na mídia impressa. No primeiro trimestre deste ano, a receita de anúncios nos jornais norte-americanos foi 6,4% menor do que em igual período de 2006. Embora a publicidade online continue aumentando, o valor relativo não é suficiente para superar as perdas das edições em papel: somados, os resultados da publicidade impressa e online caíram 4,8% no primeiro trimestre deste ano no mercado norte-americano em relação ao mesmo período de 2006. Três empresas internacionais de pesquisa, Júpiter, IDC e PriceWaterhouseCoopers, prevêem que os anúncios na internet continuarão crescendo até superar os demais meios, mas há um histórico de estudos indicando que a convergência cada vez maior tende a favorecer o rádio e a televisão, mais apropriados para a migração para aparelhos móveis.
Pressionados pela perspectiva desfavorável, centenas de jornais dos Estados Unidos haviam lançado em abril uma campanha conjunta, oferecendo aos anunciantes uma plataforma múltipla que vai do jornal impresso a conteúdo para telefones celulares. A campanha, intitulada ‘Jornal, o multi-meio’, não apresentou grande impacto na receita dos diários, o que pode indicar que o remédio foi tardiamente ministrado. Análises recentes das tendências de migração das receitas no amplo e complexo mundo das comunicações revelam que a atenção do público se transferiu gradualmente dos conteúdos noticiosos para as áreas de busca, e destas se movimenta mais recentemente para os serviços de vídeo.
Descer do pedestal
Um estudo específico do IDC – Internet Data Center, ou Centro de Dados de Internet – agitou recentemente o mundo dos analistas de mídia ao afirmar que a publicidade em áreas de pesquisa, principal fonte de renda de empresas como o Google, vai perder participação no bolo publicitário online, de 40%, em 2006, para 32% em 2011. Claramente, segundo a análise do IDC, o público, que migra rapidamente dos meios fixos para os meios interativos, tende também a valorizar os conteúdos mais dinâmicos. Com o rápido desenvolvimento de tecnologias que levam vídeos com alta qualidade até os celulares, iPods e aparelhos assemelhados, a massa de maior interesse para os anunciantes se afasta ainda mais do formato jornal.
Afinal, o que houve nestes treze anos, desde que a internet explodiu o velho mundo das mídias de mão única? Os estudos sobre perdas de receita dos jornais coincidem com um movimento estratégico da imprensa na direção oposta à que tem sido constatada pela população mais jovem. Ao optar por formatos estáticos em seus sites, repetindo o formato linear do papel na primeira idade da internet, a imensa maioria dos jornais, mesmo nos Estados Unidos, apostou numa atitude conservadora do público, acreditando que bastava a reputação de suas marcas para preservar a audiência.
Como se sabe, e já se sabia há mais de uma década, o meio mais dinâmico produz, como efeito colateral, uma obsolescência mais rápida das marcas, ao mesmo tempo em que também faz brotar e crescer quase instantaneamente novos ícones. Os jornais, com seus títulos, logotipos e conceitos estritamente vinculados à invenção do alemão Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, demoraram a descer de seu pedestal. Quando seus estrategistas resolvem se render à nova realidade, o chão parece ter mudado de lugar.
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Jornalista