Terminou domingo (19/9), o Festival de Cinema de Toronto. Foram dez dias seguidos de exibições de filmes do mundo inteiro. ‘Nossa missão é transformar a maneira pela qual as pessoas veem o mundo’, declarou a organização do festival. O Toronto International Film Festival, (ou TIFF) começou em 1976 e chamava-se ‘Festival dos Festivais’ (Festival of Festivals), exibindo filmes de festivais de outros países.
Mudou de nome depois de 1995 e hoje, na realidade, é uma combinação de dois festivais: um enorme, para o grande público apaixonado por cinema, e outro para a imprensa e a indústria cinematográfica. O Brasil compareceu co-produzindo três filmes: Rio Sex Show, com a França, dirigido pelo americano-brasileiro (naturalizado) Jonathan Nossiter; com a Espanha, e dirigido por Andrucha Waddington, tivemos Lope; Waddington trabalhou como assistente de direção com Cacá Diegues, Hector Babenco e Walter Salles no início de sua carreira e também se distinguiu em publicidade. É irmão do também cineasta Ricardo Waddington, e casado com a atriz (agora também articulista…) Fernanda Torres. E, finalmente, com Espanha, Portugal e França, tivemos o grande diretor português Manoel de Oliveira, que apresentou sua película O Estranho Caso de Angélica.
O fundador da comédia castelhana
O primeiro, Rio Sex Show, com seu título provocante e proposta politicamente incorreta, já provocou polêmica aqui entre nós. ‘É um filme politicamente incorreto’, informou Flavio Tambellini, filho do famoso diretor do mesmo nome, responsável pelo grande e inesquecível A Extorsão, de 1975. Apesar de garantir que não é mais uma exibição banal de estereótipos da cultura brasileira (o filme foi apresentado à imprensa através de uma performance, envolvendo um estrangeiro que contempla extasiado uma brasileira caracterizada como índia, atrás de um fundo de floresta tropical. A imprensa brasileira registrou…). Veremos quais são suas verdadeiras intenções quando o mesmo vier para o Festival de Cinema do Rio, que acontecerá entre 23 de setembro e o início de outubro.
Lope apresentou a história de Lope de Vega em seu início de carreira. Félix Lope de Vega Carpio, nascido em 1562, foi um dos maiores escritores espanhóis e fundador da comédia castelhana. Não é autor muito conhecido no Brasil. Infelizmente, pois é escritor de importância universal.
Prêmios dos críticos
Mas a grande sensação, para o mundo e para nós, lusoparlantes, principalmente, foi a presença do diretor português Manoel de Oliveira. Aos 101 anos de idade (isso mesmo, leitor, cento e um…), totalmente lúcido e articulado, a presença do diretor, em impressionante forma física, com mais de 65 anos de experiência (o mais velho realizador vivo, seguramente) e que dirigiu obras como O Quinto Império (2004) e Não, ou a Vã Glória de Mandar (1990), entre muitas outras, conferiu grande honra ao festival. Dono de um estilo próprio de cinema, não teve medo de declarar-se (publicamente) religioso, numa cidade altamente progressista e secular, como Toronto. Autoridade centenária…
O prêmio dos Críticos para Filmes Internacionais, para cineastas iniciantes foi para Shawn Ku, com Beatiful Boy (Estados Unidos). O júri comentou: ‘Seu filme mostra a esta audiência que num mundo de caos e insanidade, humanidade é a única chave para a vida.’ O prêmio para apresentação especial ficou com L´Amour Fou, da França, de Pierre Thoretton. ‘Este filme retrata a pungente, emocional e cinemática expressão da vida e dos tempos de um renomado artista internacional, explorando sua solidão e sobretons artísticos’, assinalou o júri de críticos internacionais, encarregado das premiações para filmes estrangeiros. Nenhuma das três co-produções de que o Brasil participou foi premiada.
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Consultor em Urbanismo, professor e tradutor