Cada profissão tem sua magia. Aos obstetras, conceder o dom da vida; aos oncologistas, amenizar a dor daqueles que se depararam com a morte; aos engenheiros, precisar cálculos para garantir a segurança; aos políticos, promover a satisfação coletiva. Já nós, repórteres, recebemos a dádiva de contar histórias. Quando me questionam sobre o magnânimo fascínio deste ofício, frustro meus interlocutores ao responder desta forma, à primeira vista, simplista. Sim, somos contadores de histórias, porém deveríamos ser bons contadores de histórias. Não meros reprodutores de fatos, como a esmagadora maioria se tornou ao exercer este ofício na pós-modernidade.
Basta observar as manchetes dos principais veículos de comunicação para deparar com reportagens idênticas produzidas mediante a apuração dos mesmos fatos. Então, insistentemente, pergunto-me: onde está a reportagem? Será que nós, repórteres, devemos nos restringir a literalmente ‘correr atrás’ de ocorrências de acidentes, homicídios, apreensão de drogas, além de reproduzir inflamadas brigas de políticos permeadas por escusos interesses? Será que devemos permanecer confortavelmente sentados em cadeiras, atrás de nossas mesas, devidamente equipadas por computadores de última geração, redigindo notas medíocres ditadas via Blackberry ou iPhone por insistentes assessores de comunicação? Será que devemos ir somente onde somos convidados, confirmando antecipadamente presença em reuniões, coquetéis, exposições e eventos deste gênero?
Ao longo de meus seis anos de carreira, depois de concluir o curso superior em Jornalismo, infelizmente não ouço estudantes ou colegas de profissão afirmarem que optaram por este ofício pela sua magia. O abracadabra da reportagem consiste em, a todo instante, abdicar-se de si para compreender o próximo. Como? Mergulhando no universo que não nos pertence, mas que descobrimos ao caminhar despretensiosamente pelas ruas sentindo o aroma que exala pelo ar e observando o comportamento humano, coletando, alicerçados na ética e no respeito, detalhes que irão compor a história que será divulgada à sociedade.
******
Jornalista, Pedro Leopoldo, MG