De todas as manifestações contra o blog da Petrobras, a única digna de discussão é a do Sérgio Léo, do Valor.
Sérgio alega que jornalistas trabalham com matérias exclusivas. Ao divulgar as perguntas e respostas, antes da publicação da matéria, a Petrobras permite que outros jornais se apropriem das pautas originais.
Há problemas de enfoque nessa questão. O receio de Sérgio Léo é em relação à presumível falta de ética dos colegas. Mas a saída não é por aí. Entrevistas por emails servem para completar análises e informações. Ou seja, são uma peça apenas em um quebra-cabeças.
Fica claro também que a publicação das respostas se destina às pautas onde haja evidências fortes de risco de manipulação.
Além disso, a publicação das respostas no blog da Petrobras funciona como um certificado de cartório. Significa que aquele tema, com aquelas respostas, têm dono. Se algum jornal ou jornalista ousar se apropriar de pautas de terceiros, será crucificado pela opinião pública e pelos próprios colegas.
Direito constitucional
Finalmente, o questionamento posterior da Petrobras às matérias obrigará inevitavelmente a um aprimoramento da cobertura. Aí, a discussão fica técnica. Se um jornal tratar adequadamente a informação, e o blog da Petrobras ousar questioná-lo com falsas questões, corre o risco de se desmoralizar. Se os questionamentos forem pertinentes, quem se desmoraliza é o jornalista e o jornal.
Qual a resultante desse embate? Aprimoramento do jornalismo e da qualidade da informação, o que levará os jornais – muito mais por necessidade que por princípio – a melhorarem o jornalismo que praticam e a empresa a melhorar o grau de transparência das suas informações, à medida que esse modelo a amarrará ao compromisso de não deixar perguntas sem respostas.
Hoje em dia, não há transparência na forma como são tratadas as notícias, especialmente aquelas com viés partidário. O jornalista detém uma informação e se julga no direito de dar o tratamento que bem entender, o enfoque que desejar, selecionar as informações que melhor se adaptem à sua tese. A possibilidade do leitor ter acesso a todas as informações fornecidas é um ganho excepcional no direito constitucional de ser bem informado.
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Jornalista