Depois da novela das 8, que é só fantasia, vinha a turma da Casa, que só mostrava a realidade. Ah! Como era bom ver o Bem contra o Mal, mas de verdade, e não como mostram as novelas, não. Na casa do pessoal do Big Brother Brasil 7 não tinha personagem, era tudo pessoa de verdade. O Alberto, nem bem entrara na Casa já virava ‘o Caubói’, personificando tudo àquilo que deploramos na vida daqui de fora: as intrigas, a tentativa de manipulação das opiniões das pessoas, procurando direcioná-las para fazer o que ele queria, o jogo calculado, sem tempo para sentimentalismo; ele estava ali para ganhar e, para isso, era preciso conduzir as pessoas para ficarem do seu lado.
O Caubói era o Mal personificado, fazia tudo aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco. Coitado do Alberto. É claro que aqui ‘fora’ tem a TV, os jornais, as revistas, enfim, a mídia em geral – mas isso é aqui fora, não tem semelhança alguma com o que acontecia ali na Casa. Ali, tinha o Alemão – não era mais o Diego – que defendia os fracos e oprimidos da casa – podiam contar com ele –, como acontece com os super-heróis do mundo da fantasia. O Alemão era o justiceiro. Personificava o Bem, contrapondo-se ao Caubói, que era o Mal; igualzinho ao que acontece fora da Casa. Será? Sim, ‘Será’! Aqui fora da Casa, bem lá no fundo de cada um, ainda existe a idéia do Bem e do Mal, bem lá no fundo, é verdade, mas ainda existe e pulsa. Apesar das ‘forças ocultas’ – lembra que um ex-presidente falou assim, quando renunciou à Presidência? – que nos levam a pensar, julgar e agir de modo relativista no nosso cotidiano, que nos levam a acreditar que não há o Bem e o Mal absolutos, pois tudo vai depender da situação em que algo ocorre.
Mas, voltemos à Casa, voltemos ao Bem e Mal absolutos, voltemos para um mundo onde é mais fácil viver porque é mais fácil julgar (sem se envolver) – ou é bom, ou é mau, e ponto final. Um de cada lado, sem relativismos; ou uma pessoa é boa ou é má, dependendo da maneira como ela pensa. Aliás, pensa e age, pois, na verdade, só podemos saber o que uma pessoa sente, vendo como ela age. E isso era verdade ali na Casa!
Olhar para dentro de nós
Nós ‘víamos’ (será?) como as pessoas eram. A TV mostrava pessoas, não personagens, e nós esquecíamos que ela mostrava o que queria mostrar de cada um dos participantes, fazendo disso uma grande ‘novela real’. E, sem querer (será?), ela nos conduzia, sem o sabermos (será?), por caminhos previamente preparados, por caminhos que nos levavam a pensar o que eles queriam que pensássemos. Assim é que, todo dia, durante mais de 80 dias, depois da novela das nove, éramos conduzidos como carneiros, para o mundo da ‘realidade’. Deixávamos de ver as personagens da novela e passávamos a ver as pessoas da vida real… criadas por eles: pela mídia em geral, comandada pela TV, especificamente.
Ah! Como era bom viver num mundo assim, onde sabíamos o que era o Bem e o que era o Mal! Mas acabou… O BBB 7 acabou, pessoal… E agora? Agora, ficamos aguardando o BBB 8. Enquanto isso, vamos vivendo aqui fora, onde nos querem fazer crer, e até conseguem, que não há Bem e Mal absolutos. Tudo depende, tudo é relativo… Será que é relativo? Então por que o tamanho sucesso da Casa? Será que ao julgarmos o modo de agir do ‘Caubói’, que já não era mais o Alberto, não estávamos julgando, como numa catarse, o mundo daqui de fora?
No chamado mundo real, na verdade, de real mesmo só tem aquilo que está bem lá no fundo de cada pessoa; aquilo que está sufocado, mas querendo gritar. É preciso achar um caminho por entre este mundo ‘real’, criado pela mídia, e explodir fora do peito… como num grito de alerta. Devíamos nos preocupar menos com o chamado efeito estufa… Devíamos olhar mais para dentro de nós para ver o mal que estamos fazendo ao ser humano enquanto pessoa e que deveria ser a razão e a medida de todas as coisas.
O BBB 7 acabou…
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Artista plástico, Niterói, RJ