O criador de Avatar veio ao Brasil para promover seu filme e aproveitou para participar de manifestações contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
A imprensa brasileira se desmanchou em louvores a James Cameron e a Rede Globo deu destaque para sua presença em Brasília numa passeata realizada contra a construção da usina hidrelétrica (ver aqui). Curiosamente, a mesma Rede Globo em meados de 2008 silenciou os índios e me obrigou a dar-lhe um puxão de orelha no neste Observatório (ver aqui).
Impossível não perceber ambiguidade da Rede Globo em relação a esta questão. Os índios que seriam afetados pela construção da hidrelétrica foram considerados ‘agressivos’ e sua justa manifestação foi sumariamente desconsiderada por ser inoportuna e condenável. Tanto que o ponto de vista deles em meados de 2008 não foi considerado digno de ser expressado pelo jornalismo global. Já o estrangeiro que tenta interferir numa questão interna brasileira mereceu um tratamento bem mais respeitoso dos pupilos de Ali Kamel. Para a Rede Globo, um gringo famoso vale mais que vários indígenas brasileiros?
Brasileiros são irrelevantes
As contradições do episódio sugerem que para o clã Marinho a questão dos índios somente pode ser defendida por outras pessoas. Se as ‘outras pessoas’ forem estrangeiras, melhor. Estranho nacionalismo este o difundido pela Rede Globo: um estrangeiro tem mais legitimidade para cuidar de nossos interesses do que nós mesmos.
Eu também sou contra a construção da usina de Belo Monte, mas mesmo assim teria algo a dizer a Cameron:
‘Good American is American far away! Go home, please. Belo Monte is a Brazilian problem and it will be solved for Brazilian people.’
Quem na Globo divulgaria uma mensagem semelhante? Provavelmente ninguém. No imaginário global, os brasileiros são irrelevantes ou tão relevantes quanto os indígenas que serão afetados pela construção da hidrelétrica.
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Advogado, Osasco, SP