Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O Brasil que não podemos salvar

Nas últimas semanas, das muitas notícias que são divulgadas na imprensa duas chamam nossa atenção para os caminhos da solidariedade e do bem ao próximo.

Com toda a tragédia que estamos presenciando no Rio de Janeiro, vemos que um dos fatores que mais diferenciam o povo brasileiro de outros é justamente a solidariedade. Essa empatia para com o próximo talvez seja o sentimento que une nossa nação mesmo nos momentos em que tudo parece perdido.

Dias antes, jogadores renomados do Santos, que são exemplo para muitos de nossos meninos, se recusaram a visitar crianças com paralisia cerebral simplesmente por seguirem uma religião diferente. Seria hipocrisia ou ignorância?

Essas catástrofes são o retrato de um Brasil que geralmente escolhemos esquecer, um país que não está nas novelas, nos cinemas ou nas propagandas. É somente nesses momentos que temos a oportunidade de ver o Brasil real, com as feridas abertas de uma população ainda à margem de condições básicas como saneamento, habitação e, principalmente, educação. É certo dizer que muito já se fez e que esse caminho de desenvolvimento só tende a melhorar. Mas sabemos que poderíamos receber muito mais se toda essa solidariedade demonstrada agora ocorresse nos 365 dias do ano e por todos – políticos, profissionais liberais, idosos, jovens e crianças. Se realmente todos se comprometessem a fazer da vida do próximo o retrato daquilo que se pretende para a própria vida, teríamos conquistas maiores para serem comemoradas.

Hoje choramos as águas que arrasam o Rio de Janeiro e que já devastaram Santa Catarina, São Paulo e o Norte do país. Mas essas lágrimas não acontecem somente em alguns dias da semana, elas ocorrem diariamente em cada injustiça, em cada família que ainda não tem para onde ir ou sequer o que comer.

Quando ligamos a TV ou vemos nos jornais tragédias e atitudes como essas, temos a sensação de que esse é o Brasil que não podemos salvar por simplesmente não o conhecer. E para que isso mude, temos que assumir uma nova postura em que a solidariedade seja uma filosofia de vida e não um caminho passageiro.

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Jornalista, Nova Lima, MG