O ingresso do Brasil no seleto clube dos países de primeira classe como destino de investimentos é o inevitável destaque nos mais importantes jornais brasileiros e na imprensa internacional.
Ao alcançar o chamado grau de investimento, o Brasil se qualifica para integrar o roteiro do capital global como alternativa segura, por ter conseguido modernizar seu sistema financeiro, melhorar suas contas públicas, oferecer garantias legais ao assumir e cumprir acordos internacionais, e por oferecer uma bolsa de valores classificada entre as mais inovadoras e confiáveis do mundo.
As primeiras conseqüências dessa conquista já estão nas primeiras páginas de sexta-feira (2/5). O Estado de S.Paulo anuncia que as ações de empresas brasileiras voltadas ao mercado interno subiram até 9,2% na Bolsa de Nova York. O Globo vai no mesmo tema, noticiando que títulos do Brasil disparam nos Estados Unidos. Apenas a Folha de S.Paulo, para não desmentir seu temperamento ranzinza, conseguiu escapar do ufanismo. O jornal paulista preferiu dar como manchete o temor dos exportadores brasileiros de que o país sofra uma invasão de dólares.
Essa conquista era prevista por profissionais do mercado de ações há mais de dois anos.
O presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores, Geraldo Soares, dizia, pelo menos desde 2006, que esse objetivo seria alcançado em meados de 2008. Mas os jornais de quinta e sexta parecem não ter se preparado para a notícia. Quem se interessar em conhecer melhor o que significa entrar na elite dos destinos do capital internacional terá que esperar as edições do fim de semana.
Palavra de ordem
Trata-se, de fato, de um momento histórico.
No meio de uma crise financeira que tem como epicentro a maior economia do mundo, e na iminência de uma onda de instabilidades provocadas pelo aumento dos preços de alimentos básicos, a conquista de um dos mais elevados grau de investimento coloca o Brasil em condições de se lançar num longo processo de desenvolvimento.
Isso significa que os recursos externos para financiar projetos estarão mais disponíveis.
Mas por enquanto a alegria é de poucos. O Brasil ainda não tem uma estratégia sustentável de desenvolvimento, que assegure uma distribuição melhor das oportunidades.
Os jornais anunciam a oferta de mais uma dezena de bilhões de dólares em financiamentos pelo Banco Mundial. Mas boa parte dos projetos do PAC, por exemplo, esbarra em riscos ambientais aos quais a imprensa não dá muita importância.
A palavra de ordem é crescer, e o mercado está em festa. A sociedade espera ser convidada.