2011, primeiro ano da segunda década do século 21, uma mulher é eleita no segundo turno a primeira presidente, ou presidenta, do Brasil… E o mundo continua sendo dividido em ‘bem’ e ‘mal’… Parece que ainda veremos muito ‘mais do mesmo’ nas nossas vidas cotidianas…
Mídia, verdade e democracia… Estes temas ainda estão envolvidos na pauta dos cidadãos ilustres que trabalham pelos seus míseros quinhentos e tantos reais e depois ligam suas TVs para verem o noticiário da noite… Mas agora, quem é o bem… e quem é o mal… ninguém consegue separar de maneira digna um do outro… Parece que está tudo misturado.
Para a pessoa saber quem é o bem e quem é o mal só depende do canal em que ele vier a assistir, ou a ler, ou a ouvir, o noticiário. Lembro que nos tempos do movimento estudantil secundarista, o ‘inimigo’ da ‘democracia brasileira’ era o imperialismo norte-americano com sua política neoliberal, que privatizou em pouco tempo as maiores estatais brasileiras… Hoje, após tantas passeatas, após tantas bombas de gás lacrimejante jogadas pela polícia, após tantas pessoas feridas, após oito anos de Lula na presidência do Brasil… Percebo que o inimigo estava longe de ser o imperialismo norte-americano.
Como seria o nome dado a uma pessoa sem partido político… Aqui os chamarei de ‘livre’… eis então o depoimento de um homem livre…
‘Salvadores da pátria comunicóloga’
Durante meu período acadêmico, cursando o bacharelado de jornalismo, vi repetidas vezes os discursos contra a rede Globo e contra a revista Veja. Parecia que os estudantes eram membros dos partidos coligados ao (ex)presidente Lula… A Veja era a campeã das críticas. Afinal, aonde é que já se viu uma empresa que se preze criticar o grande líder das massas… Um blogueiro inconformado com estas mesmas empresas que apuravam as manobras ilegais do grupo dos governantes os chamou de ‘Partido da Imprensa Golpista’ (PIG), e logo depois esta sigla virava moda entre os ‘revolucionários’ da mídia…
Os revolucionários e apoiadores do (ex)presidente Lula simplesmente não acreditavam em nada do que era exposto. Consideravam natural todos os mensalões, mensalinhos, dinheiro na cueca, dinheiro na meia, dinheiro desviado para empresas particulares dos familiares dos governantes (sem licitações), caixa 2, caixa 3, caixa 1000… Todas as sujeiras trabalhosamente pesquisadas pelos jornalistas (em trabalhos dignos de Sherlock Holmes ou da turma do dr. House) eram desacreditadas pelos ‘intelectuais revolucionários’ da academia. E a culpa de tudo era novamente do tal ‘PIG’, que apenas queria perpetuar suas regalias no poder…
Aí veio a Confecom (onde participei como delegado da sociedade civil da Bahia), cujo maior mérito foi simplesmente ter acontecido, e mais críticas foram despojadas contra a Veja e a Globo, parecendo que todos aqueles presentes eram os ‘salvadores da pátria comunicóloga’… Mas não eram…
Com a cara e a coragem
Após ter me formado, fui em busca de trabalho, para ver que a maioria das empresas jornalísticas atualmente atuam no setor da internet… São muitas… Milhares de blogs e sites lutando pela atenção dos internautas. Porém, muitas das novas empresas copiam e colam informações e notícias de outros sites. A pesquisa e a investigação, pilares primordiais do jornalismo, foram deixadas de lado para simplesmente republicarem qualquer informação já difundida pela net, verídica ou não, e sendo inclusive as matérias (re)assinadas pelos jornalistas (formados pelas dezenas de faculdades de Jornalismo) das novas empresas (prática esta criminosa). Somente aí, as peças foram sendo colocadas em seus lugares e pude ver o cenário real da grande maioria do jornalismo baiano, e possivelmente brasileiro… E o que vi muito me entristeceu.
O jornalismo de boa parte destas novas ‘empresas’ é patrocinado pelos governos, seja da esfera estadual, municipal ou federal. Em contrapartida, dificilmente o internauta achará uma matéria investigativa criticando o governo ou algum dos seus governantes. Os motivos para isso são basicamente dois: ou a ‘empresa’ funciona como um ‘caixa 2’ para alguns membros dos partidos políticos (ou familiares e amigos próximos), ou a verba publicitária serve como o famoso ‘cala-boca’, que para muitos é a forma mais eficiente de ‘controle social da mídia’.
Após ver e vivenciar de perto estas ‘relações’ entre as novas mídias (com seus jornalistas-assessores-puxa-sacos formados) e os governos, passei a valorizar mais as empresas Globo e a Veja… Pois, jornalisticamente falando, eles fazem pesquisa, investigam, põem o dedo na ferida e, com a cara e a coragem, publicam os escândalos que muitas vezes mexeram com a nação e com o mundo (mesmo que eles também recebam as verbas publicitárias).
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Jornalista, Camaçari, BA