Nunca antes na história da publicidade desse país se viram tantos artistas fazendo tantas propagandas de tantas marcas de cervejas como hoje. Basta ligar a TV na hora do jogo ou durante a novela que certamente uma cara conhecida do público estará em uma delas. Se der “sorte”, serão várias caras. Em uma única campanha, uma cervejaria resolveu escalar um verdadeiro esquadrão de atores, cantores e outras figuras notórias para cantar o jingle da marca e tentar se posicionar melhor no mercado das louras geladas. A estratégia, aparentemente, é mostrar o poder da empresa e vencer a disputa das propagandas que historicamente contam com personalidades que, em troca de uns trocados, aparecem nas TVs e páginas de revistas ostentando um copinho na mão. Nesse festival de propagandas, vale até a devassidão de quem sempre odiou cerveja virar garoto, ops, garota-propaganda de uma marca.
Falando nisso, aliás, os publicitários, que não são bobos nem nada, apostam não apenas na imagem do artista, mas também na reação polêmica que eles podem causar. Hoje, as redes sociais acabam sendo usadas indiretamente para alavancar uma campanha publicitária e, se a polêmica for bem encaixada, milhões de internautas conectados a essas redes irão fazer, involuntariamente, uma grande propaganda da marca. Aconteceu recentemente com a Sandy e sua personalidade… devassa. Há, obviamente, o risco do tiro sair pela culatra, mas é também óbvio que o risco é parte do cálculo. E mesmo quando ainda não havia esse recurso digital, a polêmica já servia para aquecer a propaganda. Quem não se lembra da briga entre duas marcas de cerveja que colocaram o Zeca Pagodinho numa guerra que deu o que falar? O Zeca bebeu de um copo e depois apareceu tomando no outro. E a briga deixou o nome das duas marcas em evidência.
Estratégia a longo prazo
Aliás, era exatamente no Zeca que eu queria chegar. Ha poucos dias, ele passou a estrelar outra campanha da Brahma e foi impossível não notar o esforço que ele faz para não deixar transparecer em sua fala os prejuízos que o álcool, seu inseparável aliado, lhe vêm causando. Dá a impressão, aliás, que ele está, naquele momento, sob efeito do álcool. Ele, que já foi parar no hospital em consequência justamente de sua vida desregrada, parece que não tem força suficiente para largar do vício da bebida. E sua patrocinadora e amiga de velha data, a Ambev, não parece disposta a convencê-lo a maneirar com a geladinha.
E aí, é claro, eu não consigo deixar de lembrar do caubói americano que passou sua vida toda fazendo a propaganda do Malboro e depois morreu justamente de câncer de pulmão (dizem que foram dois os atores que tiveram esse fim). Sem querer desejar a desgraça alheia, até porque acho o Zeca Pagodinho uma figura ímpar e simpaticíssima, ao que tudo indica o pagodeiro mais popular do país segue um destino parecido. Aí, eu penso: a Ambev não está dando um tiro no pé ao insistir com essa estratégia? Não teria um efeito muito mais eficiente se a Brahma optasse por associar seu nome a uma iniciativa de cunho social, ainda que soe uma coisa meio hipócrita (aliás, o que é uma hipocrisia a mais, não é mesmo, Ministério da Saúde?) e, de repente, investir num programa de desintoxicação pro Zeca? Fica a dica.
Eu raramente tomo (mas tomo) uma cervejinha e respeito quem aprecia moderadamente e responsavelmente. Mas acho que o governo precisa impor regras mais rígidas para a publicidade de bebidas alcoólicas, principalmente visando a evitar o consumo precoce de crianças e jovens. Já para a Ambev, salvar o Zeca do álcool não é a melhor propaganda num curto prazo para quem quer vender cerveja, mas se a vida de seu garoto-propaganda não é tão importante assim, deveria pelo menos pensar estrategicamente a longo prazo, porque muito provavelmente o nome de sua principal marca, a Brahma, certamente estará diretamente ligada à um indesejável fim do nosso herói. E aí é que entram em cena as tais das redes sociais. Para o pior, obviamente. Acorda, Ambev!
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Tecnólogo em Logística, Curitiba, PR