Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

O crucifixo do STF

No último fim de semana os jornalões mostraram fotos do recinto onde se reúne o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Preparavam o ambiente para o julgamento de quarta-feira (6/3) sobre pesquisas com células-tronco embrionárias, afinal adiado.


Naquelas fotos, podia-se perceber muito claramente na parede principal o enorme brasão dourado da República. Não muito longe, menor, porém nitidamente acima dele, um crucifixo, símbolo da religião católica.


Sem qualquer comentário nas legendas ou no texto, ficou visível uma dominação da religião sobre o Estado – pelo menos naquela parede. Na quarta-feira, antes do adiamento da sessão, as câmeras de TV fixaram o detalhe com alguma insistência.


Na realidade não se trata de um detalhe: num Estado efetivamente leigo ou laico, o símbolo religioso sequer poderia ser exibido no recinto da mais alta corte, teoricamente cega, comprometida apenas com o dever de ser justa.


A mídia está procurando refrear sua franca adesão à tese de que as pesquisas biogenéticas devem prosseguir sem embaraços, mas a exibição daquela parede do STF com um símbolo impondo-se ao outro funcionou como um silencioso e eloqüente editorial a favor do Estado secular e democrático.