Em que momento uma pessoa pode descobrir que tal coisa é tal coisa?
Sob que circunstâncias uma pessoa pode vir a experimentar um insight, ver a luz, ‘sacar’, ter um clique (sem chilique), ter um estalo, gritar heureca!, sentir sobre sua cabeça, pairando no ar, a lâmpada acesa que aparece nos quadrinhos?
Como poderá a mídia ajudar-nos a perceber que um dia a casa cai, a sair da pasmaceira intelectual, da apatia geral que tudo aceita sem maiores problemas, fazer-nos pensar como jamais pensamos?
O grande problema, já dizia um filósofo, é identificar os grandes problemas.
Entre os animais assassinados no zoológico e a modelo problemática presa na cortina de fumaça (notícias que um dia serão substituídas, se é que já não foram, por outras transcendentes questões e outras alquimias), ficamos presos a dois tipos de problemas. Aos falsos problemas coletivos, em breve resolvidos pelo esquecimento, tão logo seu prazo de validade expire, e aos problemas individuais, a serem substituídos vantajosamente, artificialmente, pelos falsos problemas coletivos, que não pertencem a ninguém.
Mas mídia não é filosofia, dirá você, razoável leitor.
Se alguém quiser pensar, que comece a ler os livros e artigos de Marilena Chauí ou Olavo de Carvalho, dependendo de sua preferência.
Se alguém quiser refletir, desligue a TV, saia da internet, e ligue sua própria consciência.
Se alguém não quiser ver algo que outros mandam – ‘Veja, tal é o estado da coisa, isto é o que de superinteressante acontece em sua época’ –, prepare-se para a experiência que o protagonista do filme The Matrix tem quando, submetido ao choque da realidade, acorda e pergunta ao seu mentor por que motivo lhe dói a vista:
NEO – Why do my eyes hurt?
MORPHEUS – You’ve never used them before.
Muitas vezes abdicamos dos nossos olhos. E é doloroso reaprender a ver.
Mas não precisamos desligar a TV. Não cancelemos a assinatura da revista semanal. Esqueçamos este contínuo furor contra a mediocridade.
Olhando para as mesmas coisas que se nos apresentam todo dia, não sejamos os mesmos. Saibamos ler no editorial, na manchete, na chamada, na entrevista, na reportagem, na charge, até mesmo nos classificados e na lista dos livros mais vendidos, aquilo que ninguém diz que está dizendo.
Não acredito em nenhuma teoria da conspiração, mas que estão tramando e conspirando, ah, isso estão!
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Doutor em Educação pela USP e escritor