‘Meu maior desejo é que haja mais respeito para com o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem este.’ (Claude Lévi-Strauss)
Não sou um saudosista, mas uma coisa tem me chamado a atenção nos últimos dias. Me quedo perplexo de como a mídia brasileira tem dado tenta ênfase à bestialidade, e como esta mídia, de forma tão cínica, esquece da sabedoria, daquilo que teria uma relevância para a nossa cultura.
Gostaria de me referir aqui a dois episódios ocorridos recentemente, de duas mortes de pessoas que tiveram ações diametralmente opostas no que se referem ao bem e ao mal para a humanidade. Tivemos a morte de um retardado chamado Michael Jackson, um pedófilo que não deu nenhuma contribuição à cultura da humanidade. Tivemos também, a morte de um grande intelectual de renome internacional chamado Lévi-Strauss, um antropólogo que esteve no Brasil, como professor da USP, nos anos de 1935 a 1939 do século passado dando uma contribuição ímpar à cultura brasileira. O sistema filosófico de Lévi-Strauss foi o estruturalismo, uma análise profunda sobre as estruturas que nos circundam.
Triste conclusão
Onde está a grande incongruência nesta questão? Que me perdoem os intelectuais, por eu está aqui citando o nome de um intelectual junto com um imbecil qualquer! O que eu me quedo indignado é com o comportamento da mídia em relação aos dois episódios, a morte de Michael Jackson e a morte de Lévi-Strauss. Por ocasião da morte daquele, um molestador de menores, a mídia saturou-nos com uma enxurrada de notícias, com um festival de besteirol. Não podíamos ligar a TV que lá estava a figura de Michael Jackson. Esta semana aconteceu a morte deste, um extraordinário intelectual. Faleceu sábado passado, dia 31 de outubro de 2009, e somente terça-feira, dia 03 de novembro de 2009, foi que a mídia notificou. Assisto diariamente, pelo menos a três telejornais e apenas dois canais – a Rede Globo, no Jornal Nacional, e a TV Brasil, no Repórter Brasil – levaram ao ar pequenas notinhas falando sobre a morte do intelectual Lévi-Strauss.
Sem querer ser choramingão, a triste conclusão a que eu chego é a seguinte: para esta mídia tacanha que aí está ser intelectual não significa nada e ser um imbecil é tudo.
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Filósofo e educador