Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O encontro essencial

Sob a tensão do deadline, deixamos a redação ao encontro deles: políticos, desempregados, artistas, profissionais liberais, donas de casa etc. É gente alegre e triste, ou os dois. Com boas histórias ou lágrimas nos olhos para chorar. Às vezes, tudo o que querem é ser ouvidos. E, assim, começa a reivindicação: é a casa que ameaça desabar morro abaixo, é a condição de vida no campo que não melhora nunca, é a saúde que está na UTI – ou melhor, na fila por uma vaga nesse local tão disputado.

E assim… passam-se os anos. Correm. Quase sem perceber, o repórter recém-formado ganha experiência, aprende os famosos macetes, e mesmo sem perder o frio na barriga em muitas ocasiões vê os ciclos se renovarem.

O jornalismo é como a vida – flui como um rio. A gente sabe que, ao longo do curso, as águas podem ser – e são mesmo – contaminadas. Por gente esclarecida, ou não. Que tem pressa, ou não. Por isso, é trabalho da imprensa (ética, livre e comprometida com a verdade) acompanhar esse trajeto e cobrar que as autoridades façam a limpeza a cada novo pedacinho de papel jogado intencionalmente ou não no rio.

E abra o olho quem puder, ou quiser ver e enxergar: No rio da nossa história não correm apenas pedacinhos de papel. Correm lágrimas de excluídos, mas também suor de trabalhadores que não desistem da honestidade, apesar de todos os pesares. No rio da nossa história correm boas e más intenções, correm a demagogia, a burocracia, mas também a luta e a garra – as melhores amigas da esperança.

Hora mágica

Ah, os esperançosos… seriam eles tolos, ingênuos, idealistas? Ou agentes de uma revolução que se faz necessária e pode vir a se tornar real?A cada um cabe uma resposta, sempre pessoal. Fato é que, contra qualquer argumento, há de se reconhecer que a limpeza do rio nunca cessa, apesar de muitas vezes ela parecer mais lenta do que a sujeira.

Sendo assim, os jornalistas de fato comprometidos devem denunciar todo tipo de ato de vandalismo cometido contra esse grande rio que une a todos nós. Cumprindo esse papel, eles próprios e a sociedade em geral observam que os assuntos, qual figurinhas repetidas no álbum, não mudam. E nem poderiam. Se todos os anos chove e centenas de famílias perdem suas casas, é preciso mostrar essa realidade. Se os hospitais vivem lotados e as pessoas morrem sem atendimento, é preciso denunciar a situação e procurar os culpados.

Para tudo isso, o jornalista precisa correr – assim como o rio. Ter pressa significa cumprir o deadline, fazer com que a realidade seja transmitida país afora. No meio disso tudo só é justo driblar a rapidez em um momento: na hora mágica do encontro entre o jornalista e a fonte. Aí, cabe sentar um pouco, aceitar o café feito exclusivamente para você e ouvir, ouvir muito. Depois? Depois você já sabe. E vai dizer que não dá gosto dormir no fim do dia?

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Jornalista formada pela Universidade de Fortaleza e correspondente da RedeTV no Ceará